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sexta-feira, junho 05, 2009
TECNOLOGIA [In:] "TEMPOS MODERNOS" II [HAL 9000]*
MÁQUINAS QUE VENCEM HOMENS |
Autor(es): Marcelo Ambrosio |
Jornal do Brasil - 05/06/2009 |
Especialistas questionam sistema de controle do Airbus A queda do avião da Air France fez subir o tom do debate sobre a confiabilidade da tecnologia. Para especialistas, uma pane no sistema de controle computadorizado, projetado para substituir o piloto, passou a neutralizar a capacidade do ser humano de sair de situações de alto risco. As críticas ao modo como a Air France tem conduzido o repasse das informações obrigaram o ministro das Relações Exteriores da França, Bernard Kouchner, a defender a companhia aérea em sua visita ao Rio: "Não estamos escondendo nada". O governo do Brasil informou que tentará negociar as indenizações para as famílias dos 53 brasileiros que estavam a bordo. > As discussões em torno da queda do A330 da Air France e as dificuldades na busca aos destroços no Atlântico estão perdendo terreno para um debate em torno da confiabilidade da tecnologia. Afinal, que influência a filosofia dos Airbus, baseada primariamente na pilotagem por computadores, teve na interrupção do voo AF447, cuja degradação é a única parte conhecida da tragédia? Para muita gente, uma pane inesperada em um sistema projetado para substituir o piloto passou a ser um perigoso fator de neutralização da capacidade insuperável do ser humano de achar saídas novas em situações de crise. Especialistas ouvidos pelo Jornal do Brasil no Brasil e na França se dividem quando o assunto é o que fazer, ou não, com esse modelo daqui para a frente. O clamor em torno de uma revisão integral desse sistema cresceu especialmente após a divulgação do alerta de segurança da agência de segurança aérea da Europa para problemas com o controle computadorizado. Em outubro do ano passado, um A330 da australiana Qantas teve problemas com o ADIRU, o centro nervoso do jato. Como se tivesse vida própria, o equipamento inventou uma pane inexistente e reagiu mergulhando duas vezes sem controle até ser dominado. Reação As suspeitas levaram o ministro das Relações Exteriores da França, Bernard Kouchner, a reagir contra a hipótese de um recall do Airbus A330, a retirada de operação para uma revisão. Koucher garante que o Airbus – fabricado por um consórcio europeu no qual a França é um dos principais acionistas – é seguro. Pode ser, mas há ressalvas: para o especialista em segurança de aviação e investigação de acidentes, comandante Douglas Machado, a questão é da definição operacional: – Nos Airbus, a prioridade do controle é da segurança do projeto. São 30 km de fios em cada jato. Isso significa, por exemplo, que enquanto nos outros jatos manobras pouco usuais são acompanhadas de alarmes de alerta, no caso do controle por computador o automatismo impede esse tipo de reação. – É o avião que monitora o piloto – completa Machado. Um exemplo dramático ocorreu no acidente com o A320 em Congonhas, em 2007. Na ocasião, como o piloto deixou uma das manetes de potência em aceleração mínima, o computador central entendeu que deveria proteger o voo e entrou em ação, bloqueando o funcionamento dos spoilers (freios aerodinâmicos nas asas) e dos freios dos trens de pouso. Acidente similar já havia ocorrido com outro A320 em Taipé, Formosa, quase à mesma época. Felizmente, todos a bordo do vôo TNA536, da Transasia, se salvaram. Ambos os incidentes despertaram a mesma discussão, mas o assunto acabou esquecido. Procurados pelo JB, representantes do sindicato dos pilotos da França reagiram com firmeza às suspeitas. "Computadores sempre podem ser desligados e os pilotos tem instruções de como desconectar tudo e voar no básico. Estão ali para tornar voos longos mais confortáveis, mas se necessário um A330 pode ser comandado da mesma forma que um Cessna", responde, de Paris, o comandante Cedric Maniez, vice-presidente da União dos Pilotos Comerciais da França e habilitado para o A330 e o A340. A diferença está justamente nesse tempo de reação. Diferentemente das aeronaves comuns, no sistema automatizado o comandante precisa domar o computador, como os australianos fizeram, antes de procurar o que fazer. E esse tempo pode ter sido tudo que a tripulação do AF447 não pôde ter diante das circunstâncias. – O piloto é a Maria ali, tem de resolver tudo. Mas nesse caso o jato é autosuficiente – define o comandante Machado, ressalvando que os parâmetros de segurança do A330 são bons. – Um modelo precisa ter 10 milhões de horas de voo para ser consolidado, e esse tem. Em defesa da tecnologia, há que se levar em conta um dos únicos pousos bem sucedidos na água realizados até hoje, o feito pelo A320 da USAirways no Rio Hudson, há alguns meses. Ali, depois de perder as duas turbinas em choques com gansos, o comandante não tinha tempo ou energia elétrica para voar, desativou os computadores e conduziu o jato como um planador até pousar suavemente, dentro do possível, nas águas geladas. As condições gerais do jato, no entanto, eram melhores. E a tecnologia o impediu de afundar, ao selar todas as aberturas do casco. Indenizações: Tarso propõe ajuda às famílias Ministro quer mediar acordos com empresa aérea Brasília O ministro da Justiça, Tarso Genro, revelou ontem que o governo vai tentar intermediar com a companhia Air France as indenizações para as famílias dos brasileiros que estavam a bordo do voo 447. Tarso afirmou que, em até 45 dias, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, ligada ao ministério, entrará em contato com os familiares das vítimas propondo que elas participem da Câmara de Indenizações. Existe a possibilidade, no entanto, de que o Ministério da Justiça aguarde o pedido de ajuda das famílias para intervir no processo. Segundo informações do próprio ministério, somente se requisitada a intermediação poderia ser feita. Na câmara, o governo reúne parentes das vítimas, representantes da empresa aérea, a seguradora envolvida e integrantes do Ministério Público Federal. A ideia é acelerar o pagamento das indenizações. No encontro, a SDE propõe um valor inicial para as negociações, levando em consideração decisões do Superior Tribunal de Justiça em situações semelhantes. Pela previsão do governo, com a medida, as indenizações podem sair em até três meses. O valor proposto pelo governo em alguns casos chega a ser 30% superior ao proposto pelas seguradoras. A secretária de Direito Econômico, Mariana Tavares, explicou, no entanto, que as indenizações deverão ser tratadas de forma individual. – É possível criar a câmara, mas esse é o momento de respeitarmos o luto das famílias. Estamos acompanhando junto com a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) a prestação do dever de assistência e no momento adequando, se as famílias assim desejarem, estaremos a disposição – disse Tavares. A Câmara de Indenizações já foi utilizada anteriormente pelo governo em tragédias aéreas com vítimas brasileiras. Uma das situações foi o acidente com o voo 3054 da TAM que se chocou contra um prédio da empresa ao lado do Aeroporto de Congonhas, na Zona Sul de São Paulo, e pegou fogo, causando a morte de 199 pessoas. A câmara foi responsável pelo acordo para o pagamento de indenização de 59 famílias das vítimas. Segundo Archelal Xavier, da associação de vítimas do voo 3054 da TAM, esse apoio do governo é importante. – Enquanto por um lado as famílias e crianças estão chorando, do outro lado, existem negociadores especialistas tentando derrubar e diminuir o valor das indenizações – observou Xavier. A associação de vítimas do voo da TAM esteve ontem em Brasília, reunida com Tarso, justamente para tratar detalhes das indenizações. Auxílio O presidente do Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo (Ibedec), José Geraldo Tardin, recomenda aos parentes dos passageiros do acidente com o A330 da Air France, que se unam e escolham um curador, ou responsável, para auxiliá-los nos procedimentos necessários ao pagamento de indenizações e a outros processos que surjam daqui para a frente. Segundo ele, o curador é importante para resolver tarefas como dar entrada nos processos e acompanhá-los, sobretudo na Justiça. – Os parentes mais próximos, herdeiros e sucessores, não devem aceitar qualquer tipo de acordo proposto pela companhia aérea sem ouvir seu advogado. É comum apresentarem um termo de acordo, mas as circunstâncias exigem a análise por um profissional alheio ao choque emocional – alertou Tardin. ---------------------- (*) HAL 9000 (Heuristically programmed ALgorithmic computer, ou Computador Algorítmico Heurísticamente Programado em tradução livre) é um personagem ficcional da série Odisséia Espacial, de Arthur C. Clarke, e foi imortalizado pela adaptação cinematográfica feita por Stanley Kubrick do primeiro volume da mesma, 2001: A Space Odyssey, de (1968). ---------------- |
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