O ingresso de Nelson Jobim no governo modificou o ânimo de Lula em relação à crise aérea. Para o presidente, os primeiros movimentos do novo ministro da Defesa arrancaram o governo do córner. “O Jobim tirou o governo da defensiva”, disse Lula a um auxiliar. O presidente reagiu com menosprezo à informação de que a proeminência do novo ministro começa a provocar ciumeira no PT. Nos subterrâneos, o petismo torce o nariz para a excessiva proximidade de Jobim com o governador tucano José Serra (São Paulo). Aquilo que seu partido vê como um defeito, Lula qualifica como virtude. Numa espécie de auto-elogio, o presidente vangloria-se do fato de ter nomeado Jobim sem se preocupar com o seu perfil político-partidário. Elogia-lhe a capacidade gerencial. E enxerga na amizade com Serra não um problema, mas uma solução. Nesta terça-feira (31), o PT reúne sua Executiva Nacional. O aerocaos é um dos temas da pauta. Alertado a respeito, Lula comentou: “Espero que não façam nenhuma besteira”. Convidado a participar, nesta segunda-feira (30), da reunião semanal da coordenação de governo, no Planalto, Jobim fez um relato da visita que realizara a São Paulo na sexta-feira (27). Rompendo a inércia do petista Waldir Pires, seu antecessor, Jobim visitara o cenário da tragédia do Airbus da TAM. Incluíra na agenda paulistana visitas a Serra, primeiro poítico a quem comunicara a decisão de ingressar no governo, e ao prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM). Retornara a Brasília já decidido a defender duas sugestões que Serra e Kassab haviam feito em carta a Lula: a construção de uma terceira pista no aeroporto de Cumbica (Guarulhos) e a costura de uma parceria entre a iniciativa privada e os governos federal e estadual, para bancar uma linha de trem expresso unindo Guarulhos a São Paulo. De resto, decidira levar ao freezer a idéia, anunciada com pompa em 20 de julho, de construir um terceiro aeroporto em São Paulo. Iniciativa que Serra considerara pirotécnica. Lula renovou ao ministro a carta branca que dera na semana passada, quando o nomeara. Nos próximos dias, Jobim terá, no Rio, uma reunião com o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. Entre outras coisas, discutirá a hipótese de envolvimento do bancão estatal de fomento na operação do trem expresso. Em privado, Lula revela-se aliviado por ter, finalmente, demitido o amigo Waldir Pires da pasta Defesa. A seu juízo, Jobim já está fazendo, em poucos dias, o que Pires não fora capaz de fazer: unificar o discurso e a linha de ação dos diferentes órgãos que operam no setor aéreo. Sobretudo a Aeronáutica, a Infraero e a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). No PT, avalia-se que Jobim foi descortês com Pires ao proferir a frase incômoda: “Aja ou saia; faça ou vá embora”. Lula, de novo, discorda. Acha que, mais do que necessária, a afirmação de autoridade do novo ministro era “indispensável”.Na semana passada, Lula e parte de sua assessoria haviam flertado com a idéia de estimular os dirigentes da Anac a interromper, por meio de uma demissão coletiva, os próprios mandatos, que, pela lei, vão até 2011. Agora, o Planalto passou a considerar a providência momentaneamente desnecessária. Estima-se que, como presidente de um vitaminado Conac (Conselho Nacional de Aviação Civil), Jobim vai ditar os novos rumos da aviação civil. Rumos que, por dever funcional, os dirigentes da Anac não poderão se furtar a seguir. O otimismo do governo encontra-se, naturalmente, pendurado na efetividade das providências recém-anunciadas. Medidas que, por ora, serviram apenas para preencher páginas de jornal e para evidenciar a inação que levou o governo ao córner do qual Lula imagina ter saído. Escrito por Josias de Souza, Folha Online.
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