Encontra-se em fase final de elaboração a denúncia do Ministério Público Federal contra o esquema de caixa dois que ficou conhecido como “mensalão tucano” ou “valerioduto mineiro”. Foi organizado pelo empresário Marcos Valério. Irrigou com verbas de má origem a derrotada campanha de Eduardo Azeredo (PSDB-MG) à reeleição para o governo de Minas, em 1998. A denúncia será assinada pelo procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza, o mesmo que denunciou a “quadrilha dos 40” que se formou em torno do mensalão do PT. Além de Valério e Azeredo, será denunciado Cláudio Mourão. Ele está para o valerioduto tucano assim como Delúbio Soares está para o mensalão petista –atuou como coletor das arcas eleitorais de Azeredo, em parceria com Valério. Como senador, Azeredo dispõe do chamado privilégio de foro. Só pode ser processado e julgado no STF. Assim, a nova denúncia terá de ser protocolada no Supremo, exatamente como foi feito em relação ao caso análogo, que envolve o petismo. Inicialmente, o Ministério Público pretendia denunciar Azeredo e Cia. no final do ano passado. Porém, a iniciativa teve de ser adiada. O blog conversou com um dos procuradores da República que auxilia Antonio Fernando na preparação da denúncia. Ele atribuiu o adiamento à demora da Polícia Federal em concluir o inquérito do mensalão mineiro. Segundo disse, houve atraso na perícia de documentos coletados no curso da investigação. O trabalho só foi concluído pela PF no mês passado. O “valerioduto” de Minas já rendera a Azeredo um pedido de indiciamento na CPI dos Correios, encerrada em março de 2006. O senador tucano foi o único oposicionista incluído no rol de 19 congressistas e ex-parlamentares enredados nos negócios espúrios engendrados por Marcos Valério. Porém, diferentemente dos demais, Azeredo foi acusado apenas da prática de caixa dois de campanha. Um crime que, no seu caso, já estaria prescrito. O procurador da República ouvido pelo repórter disse que a denúncia contra Azeredo, Valério e Mourão não fará referência a delitos eleitorais. Os três serão enquadrados em crime previsto no Código Penal. Qual? O procurador esquivou-se de dizer. Disse apenas que, na opinião do Ministério Público, o delito não estaria prescrito. Azeredo foi ouvido pela Polícia Federal durante o inquérito. Não negou que verbas coletadas por Marcos Valério foram injetadas no caixa de sua campanha. Saiu-se, contudo, com uma desculpa à Lula: disse que não sabia de nada. Atribuiu a responsabilidade a Cláudio Mourão, o gestor de seu caixa de campanha. Antes, quando a CPI o incluíra na lista de implicados, Azeredo recebera o gesto com “estranheza e indignação”. Enxergara na iniciativa motivação “claramente política”. Não fosse assim, alegara o senador tucano, Lula também teria de ter sido citado no relatório final da CPI. Afinal, segundo o raciocínio de Azeredo, o publicitário Duda Mendonça, responsável pela campanha presidencial de Lula, em 2002, reconhecera o recebimento de R$ 10,5 milhões de Marcos Valério em depósitos no exterior. Estima-se que o caixa dois de Azeredo somou cerca de R$ 11 milhões. Parte desse dinheiro foi obtida por meio de um empréstimo contraído por Marcos Valério no Banco Rural. No inquérito que remeteu ao Ministério Público, a PF informa que empresas de publicidade que tinham Valério como sócio foram beneficiárias de contratos firmados com estatais do governo de Minas. É essa relação atípica que será historiada na nova denúncia do Ministério Público. Escrito por Josias de Souza, Folha Online. Foto José Cruz/ABr.
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