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quarta-feira, outubro 31, 2007

TVE vs TV PÚBLICA: 'QUE QUÉ ISSO COMPANHEIRO'?

Prestes a ser "engolida" por TV de Lula, TVE vive apreensão

A TVE vive momentos de apreensão devido ao projeto que cria a nova TV pública do Brasil, a ser dirigida pela Empresa Pública de Comunicações.
Funcionários e diretores da TVE ainda desconhecem como será a transição do órgão atual para a TV pública nacional anunciada pelo governo Lula. A diretoria do novo órgão toma posse amanhã (31) no Rio de Janeiro. Orlando Senna, que deixa o Ministério da Cultura, será diretor da Empresa Pública de Comunicações. A medida provisória que criou a nova rede pública de TV permitirá a contratação de servidores sem concurso público, com a análise do currículo do profissional, por um período de 36 meses. Isso poderá ser feito durante 90 dias a partir da constituição da nova empresa que vai gerir a TV. A nova empresa foi constituída por um decreto assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na última semana. Também amanhã (31), está prevista a reunião do conselho da Acerp (Associação de Comunicação Educativa Roquette-Pinto), entidade que atualmente dirige a TVE.
Noticiário
Beth Carmona
, presidente da Acerp, fundadora da ONG Midiativa, e que já passou pela direção de emissoras como TV Cultura e Disney Channel, disse à Folha Online que o projeto atual da TVE morreu. "Eu participei, fiz perguntas, os funcionários fizeram muitas perguntas e a única coisa que o ministro tem garantido é que não haverá demissão em massa", disse Carmona. "O projeto da TVE, como existe atualmente, morreu, já que a medida provisória extingue a Acerp", afirmou Carmona. Ela também disse que o foco da nova TV é em um noticiário muito mais "hardnews" (pautado pelos fatos do momento) do que a proposta da emissora que dirige, que foca em um noticiário mais analítico. O novo diretor da empresa recém-criada, Orlando Senna, confirmou, na última semana, em entrevista coletiva em São Paulo, que o jornalismo diário é um dos pilares da nova TV. Neste quesito, Carmona levanta a dificuldade em se concorrer com as TVs comerciais, bem constituídas no Brasil. Por outro lado, as emissoras comerciais tentam fazer frente ao projeto da nova TV, que pode até mesmo servir de barganha política para a aprovação da CPMF.
Medo
Além das diferenças de programação, Carmona que participou da organização do livro "TV Pública no Brasil: um Sonho Possível", afirmou que há apreensão nos corredores da TVE. "Em Brasília, você tem a Radiobrás, que continuará fazendo seu trabalho e [os funcionários], por serem concursados, porque a Radiobrás é uma estatal, devem ser automaticamente da nova empresa", disse Carmona. "Já no caso da TVE, que desde 1998 foi transformada em uma organização social (Oscip), esses novos funcionários serão aproveitados no ano a seguir, mas provavelmente terão de fazer concurso público. Esse concurso vai ter que ocontecer e essas pessoas que já vêm realizando um trabalho, estavam com moral lá em cima, vão ter que concorrer com outras pessoas. Acho bom você falar com funcionários, as pessoas estão confusas...", disse a pesquisadora. Senna, em sua passagem por São Paulo, disse que a nova TV aproveitará conteúdos da TVE, mas não foi claro se eles continuarão a ser produzidos até que a haja a definição da grade da nova emissora. O diretor da nova empresa, que deixa a Secretaria do Audiovisual, disse que muitos filmes e produtos com incentivo de leis federais e de produtores independentes em geral devem ganhar espaço de exibição na nova TV. Ele também afirmou que a grade da emissora ocorrerá de seis meses a um ano após sua estréia, no dia 2 de dezembro. Ao ser questionado sobre a aparente pressa em se lançar a iniciativa antes da programação definitiva, Senna disse que as discussões sobre a nova TV pública começaram há dois anos, com fóruns em Salvador e Brasília. Já Carmona não concorda que tenha ocorrido um debate tão intenso sobre a TV pública. "Acho que enfim, é muito difícil construir uma imagem, levantar uma emissora, uma equipe e de repente essa imagem da vitória, ela se perde, porque, apesar de ser o mesmo governo, se decide outra televisão, com outro nome, vai ter outros programas, outra qualidade, enfim, vamos ter que esperar par ver", disse a presidente da Acerp.
Descontinuidade
"É uma descontinuidade. E é um pouco isso o que a gente vê no histórico destas emissoras educativas. Na verdade, nem sempre ela é tocada por profissionais, nem sempre ela está livre de interferências e por isso que o trabalho de TV pública no Brasil é uma eterna construção. Eu não me arrependo de ter feito esse trabalho. Eu não me sinto envolvida nesse projeto, eu não fui envolvida nesse projeto", afirmou Carmona. "É engraçado porque é um projeto que fala de TV pública como se fosse alguma coisa que pela primeira vez estamos vendo isso, quando na verdade a TV que chamamos de TV pública já existe, algumas melhores ou piores, com bons momentos ou maus momentos, mas essa prática já existe há alguns anos e a introdução deste conceito já está entre nós há mais de 30, 20 anos", disse Carmona.
DAYANNE MIKEVIS,da Folha Online. 3110.

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