Geraldo Alckmin cobra pressa do PSDB no lançamento de sua candidatura à prefeitura de São Paulo. Quer tudo resolvido até a semana que vem. Surgiu, porém, uma articulação que rema em sentido oposto. Procurado por lideranças do DEM, Fernando Henrique Cardoso comprometeu-se a sondar Alckmin sobre a possibilidade de ele abrir mão da disputa. Apoiaria a pretensão reeleitoral do prefeito ‘demo’ Gilberto Kassab. Em troca, seria apoiado, em 2010, na eleição para o governo de São Paulo. O apelo para que FHC realizasse uma derradeira tentativa de restabelecer a aliança tucano-democrata foi feito há sete dias. Deu-se numa conversa reservada, em São Paulo. Foram ao ex-presidente dois grão-duques do DEM: o ex-senador Jorge Bornhausen (SC) e o senador Marco Maciel (PE). O diálogo foi testemunhado pelo governador tucano José Serra, incansável defensor da tese segundo a qual o PSDB deveria fechar com Kassab. A articulação parece, porém, uma iniciativa natimorta. A hipótese de Alckmin desistir é inexistenete, afirmam dois partidários do ex-governador ouvidos pelo repórter. “O Geraldo [Alckmin] já mostrou pra essa gente, na campanha presidencial de 2006, que não é pessoa de fugir de dificuldades”, disse um deles. “O que espanta é que, a essa altura do campeonato, o Fernando [Henrique] e o Serra estejam participando de conversas desse tipo”, chateou-se o outro. Nesse último esforço para demover Alckmin, foram à mesa dois argumentos. Um é óbvio: a divisão entre tucanos e ‘demos’ serve aos interesses do PT de Marta Suplicy, um "inimigo comum". O segundo raciocínio embute, por assim dizer, uma dose de terrorismo eleitoral: Alckmin teria muito a perder na refrega municipal de 2008. Faria melhor se não submetesse sua biografia a riscos até, preservando-a para o desafio maior, em 2010. Kassab, ao contrário, só teria a ganhar. Prevalecendo sobre Marta, imporia ao petismo uma humilhação. Batido por ela, o prefeito acumularia o "ativo eleitoral" da super-exposição pública. O que lhe facilitaria a vida em disputas futuras –para o Senado, por exemplo. Só faltou combinar com os russos. Ou, por outra, faltou acertar com Alckmin, o russo-mor. A julgar pelo que dizem os tucanos que lhe são próximos, o ex-governador enxerga no verbo “desistir” um quê de ofensa pessoal. Imaginava que a fase dos apelos já estivesse superada. De FHC e Serra não espera senão respeito pessoal e apego à opção partidária. A prevalecer o entendimento de Alckmin, é Kassab quem deveria desistir, não ele, que está mais bem-posto nas pesquisas eleitorais. Como esse cenário parece descartado, deseja realizar, com certa urgência, o já combinado terceiro encontro dele com Kassab. Uma reunião para selar o pacto de boa convivência no primeiro turno. Algo que facilite a reunificação de PSDB e DEM num segundo turno que todos já dão como inevitável.
Escrito por Josias de Souza. Folha Online, 22.04.
Nenhum comentário:
Postar um comentário