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quarta-feira, maio 14, 2008

PF/MINISTÉRIO PÚBLICO [In:] A MÁFIA DAS OBRAS ["EmObras"]


Procuradoria denuncia 61 no caso da máfia das obras

No universo político, como se sabe, quase tudo está à venda. Excetuando-se a mãe, que não tem valor de mercado, vende-se de benefícios em licitações à honra pessoal.
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De raro em raro, em ações às vezes marcadas pelo fortuito, o Ministério Público e a Polícia Federal, jogam um facho de luz sobre um ou outro corruptor pé-de-chinelo. Chegou a vez de Zuleido Veras (foto), da Gautama. Amigo de Renan Calheiros, chapa de José Sarney, Zuleido (que nome!) fora pilhado, em 2006, no comando de uma máfia especializada em desviar verbas de obras públicas. Agora, foi denunciado à Justiça. Junto com ele, o Ministério Público encrencou na denúncia outros 60 personagens. Quem percorre a lista de acusados tropeça em nomes filiados a siglas partidárias e vão de um extremo a outro do espectro ideológico –do socialista PSB ao liberal DEM.
Entre os denunciados estão: o ex-ministro Silas Rondeau (Minas e Energia), alçado à Esplanada de Lula por indicação de José Sarney (PMDB-AP); Teotônio Vilela (PSDB), governador de Alagoas; Jackson Lago (PDT), governador do Maranhão; João Alves Filho (DEM), ex-governador de Sergipe; e José Reynaldo Tavares (PSB), ex-governador do Maranhão. Como há governadores envolvidos, a denúncia teve de ser protocolada no STJ (Superior Tribunal de Justiça), o foro adequado para julgá-los. A peça do Ministério Público relaciona uma penca de crimes.
Por exemplo: formação de quadrilha, peculato, corrupção ativa e passiva, falsidade ideológica, fraudes em licitações e crimes contra o sistema financeiro. O empresariado nacional costuma reclamar do que chama de “custo Brasil”. Queixa-se dos portos ineficientes, das estradas esburacadas, da burocracia governamental, disso e daquilo. Mas cultiva um estrepitoso silêncio em relação ao “custo pilhagem”, que inclui, além de propinas e de financiamentos eleitorais obscuros, a sonegação descarada de impostos. A iniciativa privada sustenta há décadas o conveniente discurso de que o Estado é o grande vilão do descaminho do empreendimento brasileiro. Estudo da Fiesp estima em R$ 26,2 bilhões o custo médio anual da corrupção no Brasil.
O que a nata do empresariado se exime de dizer, porém, é que, do outro lado do balcão de malfeitorias, encontra-se a mão do próprio empresariado. Qualquer análise das estatísticas oficiais sobre educação, saúde e segurança pública permite verificar os efeitos do “custo ladroagem”. Recaem, naturalmente, sobre a bugrada. Os responsáveis pela rapina matriculam os filhos em escolas privadas, passam longe das macas do SUS e erguem muros altos em torno de seus condomínios fechados. Enquanto os holofotes forem seletivos, toda indignação será à toa. A pilhagem vai continuar.
Escrito por Josias de Souza, Folha Online, 1405. Foto Folha-matéria.

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