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sexta-feira, abril 24, 2009

GILMAR MENDES/JOAQUIM BARBOSA/STF [In:] ... E TUDO ACABARÁ NO "TAPETÂO" ?

Dia de panos quentes...
Gilmar Mendes nega crise no STF

Autor(es): Mirella D’Elia
Correio Braziliense - 24/04/2009
Presidente do Supremo afirma que imagem da Corte é a melhor possível e que a discussão com o ministro Joaquim Barbosa está superada. Lula compara desentendimento a um jogo de futebol

Edilson Rodrigues/CB/D.A Press
Mendes cercado por jornalistas no Congresso: “Não há crise. O tribunal tem trabalhado muito bem, temos resultados expressivos”
Um dia após o bate-boca com o ministro Joaquim Barbosa, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, negou que a imagem da mais alta Corte de Justiça do país tenha sido arranhada com o embate ou que haja uma crise institucional. “Não há crise, não há arranhão. O tribunal tem trabalhado muito bem, temos tido resultados expressivos. A imagem do Judiciário é a melhor possível”, disse ontem, nas primeiras declarações públicas após a troca de ofensas. Cercado por dezenas de jornalistas, Mendes evitou tocar nos pontos mais polêmicos da áspera discussão.

Depois de participar de uma reunião com o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), para tratar de projetos relativos ao II Pacto Republicano de Estado, o magistrado afirmou que o episódio está superado. “Isso está superado, o tribunal já se manifestou”, declarou, em referência à nota oficial divulgada anteontem pelo Supremo. Na nota, oito dos 11 ministros do STF lamentaram a discussão e manifestaram apoio ao presidente, após uma longa reunião a portas fechadas.

A troca de farpas foi minimizada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele lamentou apenas que a discussão tenha se tornado pública. “Eu creio que, quando temos determinadas funções, é importante que a gente diga tudo o que quiser nos autos do processo e que não se fique dizendo pela imprensa”, disse Lula, ao lado da presidente argentina, Cristina Kirchner, em Buenos Aires.

Lula comparou o desentendimento ao futebol. “Se fosse assim, não existiria mais futebol porque tem sempre briga. A única coisa que acho é que se esse tipo de briga, assistido por toda a sociedade brasileira, ajuda a sociedade, a democracia, muito bem”, completou.

Fogueira
No Supremo, o clima era de ressaca para alguns após o bate-boca sem precedentes. “Jamais presenciei uma discussão com ofensas tão grandes. Estou de ressaca, mas que isso sirva de lição para adotarmos o padrão desejável nas discussões”, disse Marco Aurélio Mello. O ministro também já brigou com Barbosa e não fala com o colega desde um desentendimento no fim do ano passado, exceto durante as sessões. Mas defendeu, inicialmente, que o tribunal não se manifestasse sobre o assunto e foi contra a proposta defendida por alguns ministros de soltar uma nota repreendendo Barbosa. “Isso só contribuiria para colocar mais lenha na fogueira. Depois houve um meio-termo”, afirmou. Ele avaliou, no entanto, que a tendência é que o ministro fique mais isolado após o episódio.

Barbosa trabalhou normalmente em seu gabinete ontem. À tarde, almoçou com Carlos Ayres Britto e Ricardo Lewandowski. Os três foram a um dos restaurantes mais badalados de Brasília, na Asa Sul. A iniciativa do encontro partiu de Ayres Britto, que considerou a discussão entre Barbosa e Mendes “deprimente”. “Conversamos o óbvio, que todos nós nos sentimos constrangidos. Nosso objetivo é voltar à normalidade institucional e pessoal”, declarou Ayres Britto em tom conciliador. Segundo ele, Barbosa está convicto que é preciso superar o ocorrido. “O empenho dele é de quem protagonizou um episódio infeliz e vai superá-lo, quiçá possamos todos fazer o que recomendava o escrito Fernando Sabino, ‘fazer da queda um passo de dança’.”

Ouça: áudio com Gilmar Mendes sobre a polêmica com Joaquim Barbosa

Um ano no cargo

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, completou ontem um ano à frente do cargo. A trajetória foi marcada por polêmicas. A principal: a Operação Satiagraha da Polícia Federal, deflagrada em julho. Mendes, que mandou soltar o banqueiro Daniel Dantas duas vezes, ficou no olho do furacão.

Na época, atacou o que classificou como “espetacularização das prisões”, sem poupar o juiz federal Fausto De Sanctis, da 6ª Vara Criminal de São Paulo, que mandara prender o banqueiro. Disse que a nova prisão representava uma nítida via de desrespeitar o Supremo. E também cobrou o combate ao uso de grampos para intimidar agentes públicos – o que chamou de “coisa de gângster”.

Repercussão
Ontem, diversas entidades lamentaram a discussão entre Mendes e Joaquim Barbosa. “Houve um pouco de excesso. O episódio pode passar para a população uma imagem de desgaste. Mas é importante distinguir a imagem da instituição da discussão que houve”, disse o presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), Fernando Mattos.

“Foi um péssimo exemplo para a sociedade. Lamentável sob todos os aspectos. Todos perderam, não houve vencedor. E o principal perdedor foi a sociedade brasileira”, afirmou o presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), Mozart Valadares Pires. (MD)

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