Acusado de mandar matar dois homens, fundador da Gol e dono da maior frota de ônibus do país tem prisão preventiva decretada, mas não é localizado. Outros três envolvidos nos crimes acabam detidos
| | Victor Foresti, genro de Constantino, é acusado de suborno. Ordem de prisão (abaixo) veio do juiz Almir Andrade, de Taguatinga |
| Acusado de mandar matar dois homens e de ferir outro, o empresário Constantino de Oliveira, 78 anos, o Nenê Constantino, é considerado foragido desde o fim da tarde de ontem — não havia sido localizado pela polícia até as 22h. O fundador da Gol Linhas Aéreas e outras três pessoas tiveram a prisão preventiva decretada por um juiz de Taguatinga. O trio foi surpreendido em casa por agentes da Polícia Civil do Distrito Federal. Entre eles, Victor Foresti, genro e sócio de Nenê no grupo Planeta — o maior conglomerado de transportes urbanos da capital — e vice-presidente do Setransp, o sindicato das empresas do setor. Constantino é apontado como mandante dos crimes. Todos os casos ocorreram em 2001 e têm como motivo a disputa por um terreno em Taguatinga Norte. Foresti acabou preso sob acusação de subornar testemunhas. Os outros detidos são os motoristas aposentados João Alcides Miranda, 61, e Vanderlei Batista Silva, 67. Ambos trabalhavam para o fundador da Gol e, segundo as investigações, receberam ordens dele para executar as vítimas. Vanderlei Silva hoje é vereador em Amaralina (GO), mas fazia a segurança de Constantino na época dos assassinatos.
A ordem para prender os acusados partiu, no começo da tarde de ontem, do juiz Almir Andrade Freitas, do Tribunal do Júri de Taguatinga. “Há prova de materialidade e indícios mínimos de autoria colhidos pela prova indiciária, capaz de possibilitar a instauração de ação penal e abertura da primeira fase judicial, motivo pelo qual recebo a denúncia, pois encontram-se os requisitos legais”, escreveu o magistrado, em despacho assinado às 12h36. >
O juiz se referiu à denúncia do Ministério Público do DF, baseada em investigação da Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida), da Polícia Civil brasiliense. “O caso está encerrado desde 28 de abril. Para nós, não há dúvida do envolvimento de cada um”, afirmou o delegado Luiz Julião Ribeiro, chefe da Corvida. Ele ressaltou ainda que considera Constantino um foragido da Justiça. “A partir do momento em que não o encontramos em casa, no trabalho, a família foi informada da ordem de prisão e ele não se apresentou, passou a ser foragido”, afirmou o delegado.
Emboscada
O indiciamento do fundador da Gol ocorreu em 10 de dezembro de 2008 por conta da morte de Márcio Leonardo de Sousa Brito, 27 anos. O crime se deu em 12 de outubro de 2001, no terreno próximo à antiga garagem da Viação Pioneira — uma das empresas do Grupo Planeta —, na QI 25 de Taguatinga. Mário era líder dos cerca de 100 moradores do lugar. Levou três tiros ao ser atraído para uma emboscada. Na manhã seguinte, advogados de Constantino retiraram os moradores do local. Os chefes de cada família receberam R$ 500. O grupo ocupava a área desde 1990. Nenê movia ação de despejo contra eles.
Constantino acabou indiciado novamente em 30 de dezembro último. Dessa vez, pela morte do caminhoneiro Tarcísio Ferreira, 42, assassinado em 9 de fevereiro de 2001. Um pistoleiro o atacou nas proximidades da garagem da Pioneira. É o mesmo local onde, oito meses depois, Márcio morreria.
As disputas começaram depois que um ex-empregado do grupo Planeta vendeu lotes fracionados no terreno da Pioneira. Constantino o autorizou a morar de favor no tal prédio, mas não a negociá-lo — o ex-funcionário morreu de cirrose, um ano após o assassinato de Márcio. As mortes, de acordo com a Corvida, começaram assim que o empresário tentou retirar os moradores. Houve ameaças e incêndios criminosos. O primeiro homicídio, o de Tarcísio, teria sido um alerta para os demais invasores.
Desentendimento
O caminhoneiro morreu com quatro tiros e na frente da filha de 4 anos. O pintor José Amorim dos Reis sobreviveu a dois disparos — teria sido atingido por engano, pois estava ao lado do alvo principal. Ambos tinham 42 anos à época da emboscada, ocorrida por volta das 19h, em uma barraca de sanduíches e bebidas, no terreno onde funcionava a garagem da Viação Pioneira. Segundo a investigação, Tarcísio trabalhou como motorista de ônibus da Planeta. Deixou a empresa após se desentender com Constantino por atraso de pagamentos. Prestava serviço como terceirizado.
Testemunhas contaram que João Alcides Miranda — preso ontem — estava no trailer onde ocorreu o assassinato. Ele teria dito “Tarcísio” logo depois que um jovem magro, de 1,65m, chegou e pediu um refrigerante. O grito, para a polícia, seria era a senha para o pistoleiro identificar a vítima.
Os agentes da Corvida concluíram que Nenê Constantino mandou matar Tarcísio com base nos exames de balística do Instituto de Criminalística. As balas que atingiram as duas vítimas são similares às que saíram do revólver calibre .38 usado na execução de Márcio Brito. Segundo a polícia, João Miranda — outro preso ontem — serviu de referência para que as execuções dessem certo. O líder comunitário, por exemplo, recebeu um comunicado de que Constantino o visitaria mais uma vez.
A mensagem, dada justamente por Miranda, indicava que o empresário pagaria R$ 2 mil para cada dono de barraco deixar o local. A história, porém, não passava de armação. Após Márcio de Sousa Brito ser executado, em 12 de outubro de 2001, o advogado da Planeta foi ao local e entregou R$ 500 ao dono de cada barraco. Em seguida, a máquina derrubou todas as moradias. A movimentação no dia seguinte revelou indícios da participação de Constantino e dos dois empregados no episódio.
Tratamento
O empresário Nenê Constantino é representado pelo advogado Marcelo Bessa, de Brasília. O defensor afirmou ontem ao Correio que a família entrou em contato ontem e ainda precisa de tempo para estudar o caso. Acrescentou que o fundador da Gol passa por tratamento de saúde. Evitou, no entanto, detalhar qual seria a doença que acomete o acusado. Também disse que o cliente não pode ser considerado foragido da Justiça, pois talvez nem saiba do pedido de prisão preventiva expedido contra ele pelo Tribunal do Júri de Taguatinga.
Em nota, a assessoria de imprensa de Constantino e de Victor Foresti limitou-se a informar que “Nenê Constantino, que está em São Paulo desde quarta-feira para tratamento de saúde, não faz parte do conselho nem do corpo executivo da empresa Gol Linhas Aéreas.” Colaborou Guilherme Goulart | Quem é quem O suspeito
O empresário Constantino de Oliveira, o Nenê Constantino, fundou a Gol Transportes Aéreos no início de 2001. A empresa começou a operar com quatro aviões e hoje é a segunda maior do mercado aéreo brasileiro — atrás da TAM. É ainda proprietário da maior frota de ônibus do país. Apenas a Planeta, que opera linhas urbanas no DF, tem mais de mil veículos. Mora na capital desde 1977. Também dono do terreno onde funcionava a garagem da antiga Viação Pioneira, na QI 25 de Taguatinga, é procurado por mandar matar dois então invasores do local e ferir outro.
Os presos Vanderlei Batista Silva, 67, fazia a segurança pessoal de Constantino. Segundo a Corvida, contratou o pistoleiro responsável pelas mortes das duas vítimas. João Alcides Miranda, 61, se passou por morador e vigilante da invasão para levantar informações sobre as lideranças. Teria atraído uma das vítimas para armadilha e identificado outra para o pistoleiro. Victor Foresti é genro e sócio de Nenê no grupo Planeta e vice-presidente do Setransp, o sindicato das empresas do setor. Acabou preso sob acusação de subornar testemunhas durante a investigação.
As vítimas Márcio Leonardo de Sousa Brito, 27, atuava como líder dos mais de 100 moradores do terreno onde funcionava a garagem da Pioneira. Todos haviam comprado lotes fracionados por ex-empregado do grupo Planeta, que Constantino autorizara a morar lá de favor. Morto com três tiros em outubro de 2001. O caminhoneiro Tarcísio Gomes Ferreira, 42, levou quatro tiros em 9 de fevereiro de 2001. Havia trabalhado como motorista de ônibus da Planeta e largou a profissão depois de se desentender com o ex-patrão. O assassinato ocorreu em um trailer próximo à garagem da Pioneira. José Amorim dos Reis, 49, também morava na invasão e acabou atingido por dois tiros por estar próximo de Tarcísio no momento dos disparos. Sobreviveu.
| Cifras milionárias contrastam com escândalos recentes Habilidade de Constantino para os negócios também ficou manchada com envolvimento na crise que culminou na renúncia do ex-senador Roriz
Guilherme Goulart e Renato Alves
Kleber Lima/CB/D.A Press - 16/2/09 | | Ônibus novos da Planeta apresentados em março. Empresa atende Taguatinga, Ceilândia, Paranoá, Lago Sul, Plano Piloto, Santa Maria e Brazlândia | Wilson Dias/ABr - 26/10/07 | | Durante investigações sobre o destino de um cheque de R$ 2,2 milhões assinado por Constantino, empresário perdeu a cabeça e agrediu fotógrafo |
| Um dos maiores empresários brasileiros — Nenê Constantino, 78 anos, fundador da Gol Linhas Aéreas — tem ganhado destaque no noticiário mais por problemas com a Justiça e escândalos políticos do que pelo sucesso nos negócios. Além das acusações por duplo homicídio e tentativas de assassinato, apareceu como pivô da renúncia do então senador Joaquim Roriz (PMDF-DF). O envolvimento dele com pistolagem contrasta com o perfil austero e discreto consolidado ao longo de meio século como homem de negócios bem-sucedido. Constantino sempre fez questão de não esconder o jeitão de interior no meio empresarial. Aos poucos, a habilidade fez com que acumulasse conquistas na área de transportes rodoviários e, mais recentemente, aéreos. Mesmo assim, o mineiro de Paracatu manteve os hábitos simples. Tem até hoje ex-rodoviários como melhores amigos. Filho de lavrador, não concluiu o primário. E precisou de 50 anos para, a partir da compra de um caminhão, se tornar o maior proprietário de ônibus do Brasil. São 6 mil coletivos espalhados por sete estados e o DF. Transportam 1,2 milhão de passageiros por dia. Só o grupo Planeta tem cerca de 2 mil veículos. Opera em Taguatinga, Ceilândia, Paranoá, Lago Sul, Plano Piloto, Santa Maria e Brazlândia. Em 1994, Nenê passou a administração da frota de 617 veículos às filhas Auristela e Cristiane Constantino. Outra companhia ligada ao conglomerado de Constantino em Brasília é a Satélite, que absorveu a antiga Alvorada. Com 241 ônibus, a empresa transporta pessoas em Taguatinga, Ceilândia, Samambaia, Gama e Brazlândia. Há cerca de 2 anos, adquiriu também a Expresso Caxiense, responsável por transporte intermunicipal no Rio Grande do Sul.
Constantino vive na capital do país desde 1977. Manteve-se longe dos holofotes até o fim da década de 1990, quando entrou no ramo da aviação. Em janeiro de 2001, o empresário confirmou o perfil ousado e fundou a Gol Linhas Aéreas. Enveredou em um ramo marcado por experiências malsucedidas de colegas especializados em transportes urbanos. A família Canhedo, por exemplo, dona da Viplan no Distrito Federal, arriscou investimentos no setor aeroviário, mas a iniciativa acabou com a falência da Viação Aérea de São Paulo Sociedade Anônima (Vasp).
Já a Gol Linhas Aéreas começou a operar inovando no mercado aéreo brasileiro. Voos com tarifas baixas e sem gastos com alimentação chamaram a atenção no início dos anos 2000. A empresa deu início às atividades com apenas quatro aviões. Aparece hoje como a segunda maior do mercado. A data de fundação da Gol, porém, coincidiu com os crimes que envolvem o nome do empresário. Desde então, os negócios da família Constantino alcançam fazendas, concessionárias de veículos e empresas de engenharia.
Bezerra de ouro
O empresário também apareceu recentemente na mídia por causa de um amigo influente, o ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz. O político renunciou ao mandato de senador em 2007 depois que se abriu investigação por conta da partilha de um cheque de R$ 2,2 milhões — o documento continha a assinatura de Constantino. O caso veio a público durante a Operação Aquarela, da Polícia Civil do Distrito Federal. A ação desmontou um suposto esquema de desvio de dinheiro do Banco de Brasília (BRB).
Durante a apuração do caso, a corporação flagrou uma conversa na qual o senador Joaquim Roriz (PMDB-DF) e o ex-presidente do BRB Tarcísio Franklin de Moura tratam da divisão da cifra milionária. Roriz decidiu renunciar ao mandato para evitar uma cassação e preservar direitos políticos. A origem do dinheiro sacado em uma agência do BRB seria um cheque do empresário Nenê Constantino, presidente do Conselho de Administração da Gol Linhas Aéreas. Na época, o ex-governador do DF alegou que parte do dinheiro seria usado para a compra de uma bezerra. Constantino chegou a perder a compostura no dia em que foi chamado a depor sobre o caso e agrediu um fotógrafo.
Sem benefícios
Os 78 anos de Nenê Constantino não impedem a prisão dele nem lhe garantem qualquer benefício, como celas especiais, caso seja detido pela polícia brasiliense — a não ser que seja provado um grave problema de saúde. Possíveis atenuantes viriam apenas em caso de condenação ou contagem da prescrição do crime (tempo máximo para a prisão, julgamento e definição da sentença do réu). Existe norma do Código Penal, por exemplo, que permite a redução do prazo prescricional pela metade para acusados com mais de 70 anos. | Império As empresas de Constantino têm mais de 6 mil ônibus Ao todo, transportam 1,2 milhão de passageiros por dia Só a Planeta, de Brasília, conta com cerca de 2 mil veículos A Gol Linhas Aéreas é a 2ª maior empresa do setor aeroviário do Brasil O patrimônio da família ultrapassa R$ 1 bilhão | ENTENDA O CASO Pressões e emboscadas
A Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida) prendeu João Alcides Miranda, Vanderlei Batista Silva e Victor Forestti — apenas Nenê Constantino continua foragido — depois de investigar as informações dadas por uma testemunha. Ela contou que sabia o plano de execução praticado contra o líder comunitário Márcio Leonardo de Sousa Brito, 27 anos. Por trás do crime, havia histórias de disputas de terra com moradores da garagem da antiga Viação Pioneira, em Taguatinga. A morte ocorreu em 12 de outubro de 2001. Márcio liderava 100 pessoas e acabou morto com três tiros depois de atraído para uma emboscada.
No dia seguinte, advogados do sócio e fundador da Gol retiraram os moradores. Os chefes de cada família receberam R$ 500. O homicídio reforçou a hipótese de que uma mesma pessoa mandou tirar a vida de outro morador do local meses antes, em 9 de fevereiro de 2001. Naquela vez, o assassinato teria ocorrido como forma de pressionar o grupo a sair da garagem. Um outro homem ficou ferido no ataque de um pistoleiro. Para a polícia, não há dúvidas de que Constantino é o mandante dos crimes. Ele movia ação de despejo contra os ocupantes e pressionava para que abandonassem o local. Os demais envolvidos são suspeitos de auxiliar os crimes de Constantino. | |
Um comentário:
A coisa funciona assim:
1) Um homem trabalha a vida toda pra construir seu patrimônio. Consegue isso à custa de muito trabalho e suor.
2) Compra... eu falei.. COMPRA ... um terreno pra fazer garagem ou seja lá o que for.
3) Ai vem um bando de GRILEIROS, invadem a área, ninguém tira eles de lá, fazem o que querem e tá tudo certo.
4) O dono da área, lembra aquele que trabalhou pra comprar? .. pois é... ele virou "bandido" porque, já que quem deveria tirar os grileiros não tirou, e os grileiros, os vagabundos, viraram "coitadinhos".
Olha, eu estou desempregado, não tenho casa própria e nem por isso saio por aí INVADINDO propriedade alheia. Não saio tentando ROUBAR terrenos alheios. E quer saber? acho que o Sr. Constantino, se fez isso (mandar o ladrão de terrenos pros quintos dos infernos), o fez muito bem.
Mauro
morrowh@hotmail.com
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