Na Região Norte, índice de concluintes é de 28,7%; relatório do Unicef diz que situação é ruim em todos os estados
BRASÍLIA e TERESINA. Só 53,7% das crianças e dos adolescentes brasileiros matriculados no ensino fundamental conseguem concluir a 8ª série (9º ano). A realidade é mais grave na Região Norte, onde o índice de concluintes é de 28,7%. No Pará, são 22,3%, menos da metade da média nacional.
No ensino médio, a situação é ainda pior: só 50,9% dos jovens chegam ao fim do curso. No Amapá e no Acre, o percentual é mais baixo: 35,5% e 37,4% respectivamente. O Nordeste é a região com pior indicador no ensino médio: só 44,6% de concluintes, percentual próximo do encontrado no Centro-Oeste (44,8%) e no Norte (45,2%).
As desigualdades na área de educação preocupam o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), que lançou ontem o relatório "Situação da Infância e da Adolescência Brasileira 2009". O relatório, que reúne dados referentes a 2006, diz que a situação é ruim em todos os estados. São Paulo tem o maior percentual de concluintes do ensino médio: 68,6%. No Rio, são 44,5% - menos, portanto, que a média nordestina.
No ensino fundamental, Minas Gerais tem o percentual mais positivo, com 79% de concluintes. No Rio, apenas 57,8% dos alunos chegam ao fim da 8ª série. Nos dois níveis de ensino, o Sudeste tem os melhores números.
"A repetência não ajuda"
O relatório do Unicef mostra também que, a cada ano, um em cada quatro estudantes de ensino médio é reprovado ou abandona a escola. Citando dados de 2007, o documento informa que 12,7% dos jovens matriculados no nível médio foram reprovados e outros 13,2% largaram o estudo, totalizando 25,9%.
- A realidade dos 15 aos 17 anos é um desastre. Se existe desigualdade dos 7 aos 14 anos, dos 15 aos 17 ela fica pior - disse a coordenadora do Programa de Educação do Unicef no Brasil, Maria de Salete Silva.
Para ela, o ensino médio precisa ser reformulado, pois, do jeito que está estruturado, não faz sentido para grande parcela da juventude. Salete criticou também a cultura da reprovação nas escolas:
- A repetência não ajuda. Se ela criasse pessoas qualificadas, o Brasil era o país com mais gênios no mundo.
No ensino fundamental, a taxa de abandono escolar do Nordeste é o triplo da média nacional: 14,4% contra 4,8%. No médio, Norte e Nordeste têm quase o dobro do índice do Sudeste, com abandono de 20,8% e 20,1% respectivamente, ante 10,9%.
A situação é ainda mais grave em estados como Rio Grande do Norte, dono do pior resultado: 23,6% de abandono no ensino médio, quase o dobro da média nacional de 13,2%.
Em Teresina, Rogério da Silva Costa, de 14 anos, engrossa as estatísticas do abandono escolar. Ele ganha R$10 por dia fazendo malabarismo com limões no bairro Horto Florestal. Rogério contou que não vai à escola há dois anos. Parou no terceiro ano do ensino fundamental:
- Ajudo nos gastos lá de casa, porque meus pais precisam de dinheiro para sustentar os outros filhos - disse, acrescentando que tinha dificuldades de aprendizagem e foi reprovado por dois anos.
A coordenadora do Unicef lembrou que 2,4% dos brasileiros de 7 a 14 anos estavam fora da escola, ante 17,9% na faixa dos 15 aos 17. O Unicef quer que o governo dê atenção especial a quem está fora da escola. Mesmo na faixa de 7 a 14 anos, os 2,4% de excluídos representam universo de 680 mil crianças, sendo 450 mil negros.
A representante do Unicef no Brasil, Marie-Pierre Poirier, defendeu o aumento de investimentos no ensino, subindo dos atuais 4,6% do PIB para 8%. O MEC tem como meta 6%, índice sugerido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
O Unicef elogia o Plano de Desenvolvimento da Educação, lançado pelo presidente Lula em abril de 2007. Segundo Marie-Pierre, o programa aponta o caminho certo, em especial com a criação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que estipula metas até 2021. Ela teme, contudo, que o fosso de exclusão cresça, caso o governo não crie políticas específicas para melhorar o ensino de pobres, negros, indígenas e moradores das zonas rurais:
Para mostrar o impacto da renda e da raça, o relatório criou o Índice de Adequação Idade-Anos de Escolaridade. No Brasil, segundo o índice, 72% dos jovens estavam em situação adequada. O percentual caía para 65%, entre negros, e para 53%, entre os que estão na faixa com renda familiar por pessoa inferior a um quarto de salário mínimo mensal (R$116,25). A pior inadequação idade-série foi registrada no Pará, na faixa de população mais pobre: 37%.
O secretário de Educação Continuada, Alfabetização Diversidade do MEC André Lázaro, diz que as disparidades regionais na área do ensino se repetem no analfabetismo e no atraso escolar. Segundo ele, elas refletem décadas de descaso na oferta de educação pública:
- É a cicatriz das oligarquias. Regiões que por muito tempo foram governadas por grupos que não colocaram a educação no lugar devido. |
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