Economia recua pelo 2° trimestre seguido; para Lula, queda de 0,8% foi maior que a esperada
O Produto Interno Bruto do país recuou 0,8% na comparação com o último trimestre do ano passado, que já havia contabilizado uma perda de 3,6%, segundo o IBGE. Pela regra mais universalmente adotada, dois trimestres consecutivos de queda do PIB (soma dos bens e riquezas produzidos por um país) significam que o Brasil entrou em recessão.
A análise dos números do IBGE mostra que a produção de bens de capital, as obras de infraestrutura, as exportações e as importações registraram quedas dignas de depressão econômica. No entanto, mesmo sem o ímpeto de meses atrás, os salários, as compras do dia a dia e serviços básicos como saúde e educação retomaram o crescimento.
A equipe econômica festejou a queda do PIB menor que a prevista pelo mercado. O presidente Lula, porém, considerou o resultado pior do que imaginava; ele esperava retração de até 0,5%. O governo já estuda medidas para estimular setores específicos da economia, como a produção de máquinas e equipamentos e de software e a indústria naval. Gasto das famílias e massa salarial reduzem efeito do colapso da indústria e dos investimentos
Com 2 trimestres seguidos de crescimento negativo, país entra em recessão, mas setor de serviços, o maior da economia brasileira, resiste A produção de máquinas e equipamentos, as obras de infraestrutura, as exportações e as importações tiveram quedas dignas de uma depressão econômica. Já salários, compras do dia a dia e serviços básicos como saúde e educação perderam o ímpeto de meses atrás, mas voltaram a crescer. O retrato da produção nacional no primeiro trimestre do ano, divulgado ontem pelo IBGE, mostra um alívio imediato dos efeitos da crise global para a maior parte da população brasileira -afinal, o setor de serviços é o que mais emprega, o gasto público se mantém em alta e o consumo das famílias move quase dois terços da economia. No entanto, a expectativa de reviver momentos de crescimento mais robusto registrado nos últimos anos esbarra nos resultados dos investimentos públicos e, principalmente, privados, necessários para ampliar a capacidade de produção e que ainda estão distantes de alguma recuperação. Tudo somado, o PIB do país no primeiro trimestre teve queda de 0,8% na comparação com o último trimestre do ano passado, que já havia contabilizado uma perda de 3,6%, a maior desde que o Plano Collor promoveu o confisco da poupança e demais depósitos bancários, em 1990. Pela regra de identificação mais universalmente adotada, o país entrou em recessão com dois trimestres consecutivos de queda do Produto Interno Bruto -a medida da renda nacional que compreende indústria, agropecuária, comércio e serviços, consumo privado, gasto público, investimentos, exportações e importações. Embora tenha confirmado a reviravolta mais aguda em quase 20 anos, o resultado do primeiro trimestre permitiu uma leitura otimista já posta em prática ontem pelo governo Lula. Após o susto com o inesperado desastre do final de 2008, o período seguinte acabou melhor do que se projetava. Na pesquisa periódica feita pelo Banco Central, as estimativas do mercado apontavam um PIB no primeiro trimestre 2,2% menor que o do mesmo período de 2008 -a queda medida pelo IBGE foi de 1,8%, ainda assim a maior desde o final de 1998, quando o país vivia os efeitos da crise russa. Vistos mais de perto, os números mostram que a recessão, na sua definição mais vulgar, não chegou para todos, nem sequer para a maioria. Basta dizer que o setor de serviços, em que estão 60% do PIB, não caiu por dois trimestres consecutivos: teve expansão de 0,8% no primeiro trimestre, após a queda de 0,4% no final de 2008. Nesse grupo estão atividades do cotidiano que vão desde a escola dos filhos até os aluguéis, da oferta de saúde ao seguro do carro. É um setor que só costuma ver retrações quando há disparada do desemprego ou queda forte dos salários, até agora inexistentes. Pelo contrário: a massa salarial -que leva em conta o volume de emprego e os rendimentos- do primeiro trimestre ainda foi 5,2% maior que a de um ano antes. E o consumo das famílias, depois de encolher 1,8% na derrocada geral do final de 2008, subiu 0,7% na comparação com o trimestre anterior. Boa parte da explicação está em medidas que o governo tomou muito antes do agravamento da crise global, caso do pacote generalizado de reajustes salariais para o funcionalismo, do aumento real do salário mínimo e da ampliação dos benefícios do Bolsa Família. Se o gasto público -mais as medidas oficiais de redução de impostos e aumento do crédito nos bancos federais- e o mercado interno contribuíram para amortecer o impacto da recessão, menos claro é se e quando a economia retomará o ritmo de um ano atrás, quando o consumo crescia no dobro da velocidade. Os investimentos, colocados no centro da agenda econômica com o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), passaram pela mais brusca reversão já medida pela atual metodologia do IBGE -caíram 9,3% no final do ano passado e mais 12,6% no início do ano. Do resto do mundo não há muita ajuda disponível. As exportações tiveram queda pelo terceiro trimestre consecutivo, e desta vez de 16%, também a maior, de longe, da série histórica iniciada em 1996. Maior prejudicada pelo colapso dos investimentos e das exportações, a indústria acumula queda igualmente recorde, de 8,2% no quarto trimestre de 2008 e de 3,1% no primeiro. O setor agropecuário, primeiro a se ressentir da queda internacional dos preços dos produtos primários, encolheu pelo terceiro trimestre consecutivo, à taxa de 0,5%. |
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