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sexta-feira, junho 12, 2009

ILHA DE VERA CRUZ [In:] KEYNES MARQUETEIRO

Mais reservas blindam eleições


Autor(es): Claudia Safatle
Valor Econômico - 12/06/2009

A compra de dólares para acumulação de reservas cambiais, retomada em maio pelo Banco Central (BC), deve ter como subproduto uma blindagem política nada desprezível: o país chegará às vésperas das eleições presidenciais de 2010 com um colchão de reservas jamais visto. Não há meta, mas, conforme a intensidade do ingresso de recursos, as reservas poderão atingir a casa dos US$ 250 bilhões.


De 1º de maio a 5 de junho o BC adquiriu US$ 3,62 bilhões de dólares dos US$ 3,68 bilhões de saldo que havia no mercado, absorvendo praticamente toda a sobra. Ao fazer isso, não pretendeu sustentar uma determinada taxa de câmbio, mas evitou um derretimento mais acentuado do dólar. A estratégia do BC é prosseguir nessa toada, comprando as sobras do mercado e esterilizando os recursos.

As turbulências de 2002, que produziram uma megadesvalorização do real por medo de um calote da dívida pública - primeiro com ascensão do então candidato Ciro Gomes nas pesquisas eleitorais e, em seguida, pela consolidação da liderança de Luis Inácio Lula da Silva, que venceu no segundo turno a disputa com o governador de São Paulo, José Serra - ficaram marcadas na memória dos agentes econômicos e das autoridades deste governo.

Naquele ano o país, mais uma vez, quebrou. O dólar chegou a ser cotado a R$ 3,95 em outubro de 2002, mesmo depois que Lula assinou a Carta aos Brasileiros, comprometendo-se a respeitar contratos e descartando a possibilidade de um calote (entre outras promessas).

Não se espera, para as eleições de 2010, nada parecido com o vendaval de 2002. O país mudou e o mundo é outro. Os técnicos da área econômica, porém, identificam um histórico de depreciações cambiais em períodos de campanha presidencial, fruto das incertezas com relação às diretrizes econômicas das novas administrações. Acham que na eventual disputa entre Dilma Roussef, ministra da Casa Civil, e José Serra, provável candidato do PSDB, não haverá dúvida quanto ao compromisso de Dilma com a preservação dos fundamentos da macroeconomia, dados pelo tripé meta de inflação, superávit fiscal e câmbio flutuante, mas tal incerteza, alegam esses técnicos, é legítima no caso de Serra, alimentada pelo fato de que ele nunca demonstrou nenhuma simpatia por esse arcabouço, à exceção da área fiscal, onde muito provavelmente ele seria mais austero. Serra também não esconde seu desacordo com a autonomia do Banco Central, que ele acha que, por excesso de conservadorismo ou erros de avaliação, vem mantendo os juros ainda elevados.

Em jantar na residência do presidente da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB-SP), na segunda-feira, Lula, perguntado sobre o futuro da taxa de câmbio, reiterou sua posição. "O câmbio é flutuante e, portanto, flutua. Sempre que me trazem esse problema (taxa muito valorizada que compromete o desempenho das exportações) eu digo: façam uma proposta. Mas o que eles querem é que eu mude (o regime cambial)." Lula também deixou aberta a porta para uma taxação maior do ingresso de capital externo. "Se fizermos alguma coisa ela será pontual, como, por exemplo, a taxação via IOF", referindo-se à proposta que circula no governo, de taxar o ingresso de moeda estrangeira para aplicação em renda fixa em títulos da dívida pública com 1,5% de IOF. A ideia, que vinha sob estudo de técnicos oficiais, está em banho-maria. Autoridades argumentam que tal medida, agora, seria de pouca valia já que o ingresso de moeda estrangeira está mais concentrado em investimentos diretos e bolsa de valores (ver tabela). A parte destinada a títulos públicos e renda fixa, atingida pelo IOF, é pequena.

A retomada da política de acumulação de reservas cambiais associada à redução de mais 1 ponto percentual na taxa Selic, conforme decisão do Copom, que na quarta-feira cortou a taxa básica para 9,25% ao ano, pode dar uma ajuda momentânea no câmbio, mas não se espera uma mudança da tendência, que é de apreciação do real. Juros mais modestos reduzem o custo de carregamento das reservas, dado pelo diferencial entre a taxa paga pelos títulos públicos e os juros internacionais que remuneram as aplicações das reservas.

A estratégia do Banco Central, porém, não é pacífica entre os economistas. Há os que acreditam que, num regime de câmbio flutuante, a acumulação de reservas é totalmente desnecessária e eventuais desequilíbrios no balanço de pagamentos podem ser corrigidos pela própria oscilação da taxa de câmbio e veem a retenção de riqueza sob a forma de reservas internacionais como prejudicial se confrontada com a possibilidade de uso desses recursos para investimentos mais nobres no país. Os defensores de reservas altas como um seguro salientam, entre outras vantagens, o fato de que elas atenuam os efeitos de uma parada abrupta do fluxo de capitais para o país, desestimulam ataques especulativos contra a moeda e diminuem a perda de produto em casos de crise cambial.

Discordâncias teóricas à parte, é inquestionável o papel das reservas de mais de US$ 200 bilhões na solvência do país depois da crise global disparada em setembro de 2008.

Claudia Safatle é diretora adjunta de Redação e escreve às sextas feiras

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