Família diz que presidente do Senado está no limite e deverá renunciar se pressão não diminuir Depois de quase seis meses sob forte pressão, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), está no limite da resistência e pode deixar o cargo ainda esta semana. Sarney e seu grupo político ainda não bateram o martelo em torno da palavra renúncia, mas entendem que só terá condições de permanecer na presidência da Casa se um fato extraordinário fizer parar a crescente onda de denúncias contra ele e seus familiares. Mas nem aliados mais próximos arriscam a dizer o que poderia ser a tábua de salvação do senador.
- Esta semana as coisas se resolvem, para um lado ou para o outro - declarou ontem ao GLOBO um integrante da família Sarney.
Segundo esse parente, a pressão criada pelo conjunto de acusações contra Sarney, os filhos e até netos, muitas pessoais, ficou insuportável. E tudo que Sarney e os filhos fazem para se defender ou se explicar, avalia, se volta contra eles. Na família, há a preocupação com a resistência física do senador para, aos 79 anos, suportar a crise.
- Está insustentável, está desumano, está demais - desabafou o familiar do senador.
A fragilidade política do presidente do Senado também é considerada fato consumado no Planalto. Isso explicaria o discurso do presidente Lula em São Paulo, semana passada. Após passar boa parte da crise cobrando apoio do PT a Sarney, Lula mudou de tom e disse que não tem nada a ver com os problemas da Casa.
- O Sarney está muito abatido. Mas ainda está analisando a relação custo-benefício de ficar ou de sair - disse um interlocutor de Lula.
Mesmo entre os mais aguerridos peemedebistas do Senado a sustentação de Sarney é considerada dificílima, pela diminuição do apoio no próprio PMDB. Dos 18 senadores da bancada, ele teria o apoio irrestrito de 12. Nos partidos aliados, PT e PTB estão divididos. PDT, DEM e PSDB, ainda que com dissidentes, são contra Sarney.
O presidente do Senado retornou ontem no fim da tarde a Brasília, reuniu-se com assessores e fez consultas por telefone à família e a aliados.
- É uma aritmética muito complicada, e ele poderá ter mesmo que se desligar do cargo - admitiu ao GLOBO ontem um dos senadores peemedebistas mais próximos de Sarney.
Renúncia levaria foco de volta à CPI da Petrobras
Ainda assim, o grupo de Sarney tentará uma última cartada. Ele passou os últimos dias em articulações com a ajuda dos líderes do PMDB, Renan Calheiros (AL), e do PTB, Gim Argello (DF). A esperança é que a base governista não o abandone de vez. A renúncia levaria o foco da oposição de volta à CPI da Petrobras e ao ataque ao governo.
- A situação do Sarney está muito difícil. Mas, se ele sair da presidência do Senado, o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) terá que perder o mandato - disse um integrante da cúpula do PTB, em referência ao tucano que já admitiu que tinha um funcionário na Europa.
Integrantes do PMDB apostam que a disputa entre o partido e o PSDB no Conselho de Ética vá criar um fato político que consiga dar a Sarney sobrevida no cargo. O senador Wellington Salgado (MG) confirmou que o PMDB entrará esta semana com representação contra Virgílio por quebra de decoro parlamentar:
- Tudo vai depender do que vier de lá, mas o PMDB não vai se submeter ao massacre. Se ele (Virgílio) for à tribuna, eu também vou. Não tenho vergonha de defender o presidente Sarney.
O líder tucano reagiu dizendo que "é uma honra ser anti-Sarney e anti-Renan":
- O partido está tranquilo. Já sabemos como essa tropa de choque funciona, e a intimidação é zero. Não há hipótese de conseguirem algo por aí. Não haverá erro de omissão nosso.
No momento em que Sarney perde apoio, a direção do PMDB divulgou nota que é recado claro aos senadores Pedro Simon (RS) e Jarbas Vasconcelos (PE), que desde o início se posicionaram contra Sarney: "Podem deixar a legenda o quanto antes sem risco de perder o mandato. Ganharão eles, porque deixarão de pertencer ao partido do qual falam tão mal, e ganhará o PMDB, por tornar-se ainda mais coeso e musculoso".
Além da reunião do Conselho de Ética, marcada para quarta-feira, os partidos vão se reunir ao longo da semana para discutir a situação de Sarney. Os senadores de PSDB, PTB e PT têm reuniões das bancadas marcadas para amanhã. No PT, o presidente nacional do partido, deputado Ricardo Berzoini (SP), deverá estar presente. Semana passada, chamou de infantil e precipitada a nota assinada pelo líder no Senado, Aloizio Mercadante (SP), pedindo que Sarney se licencie.
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