Ataques de Collor e Renan a favor de Sarney surpreendem democratas e tucanos, que deixam Simon sozinho no primeiro embate depois do recesso
Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr | | Na volta dos trabalhos legislativos, Sarney ganhou apoios |
| A voracidade dos senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Fernando Collor (PTB-AL) na defesa do general da tropa, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), com trincheiras em todos os cantos do Senado limitou a ação da oposição. A opção acabou sendo adotar a tática da resignação e apostar no desgaste diário para forçar a renúncia do chefe do Legislativo.
O Conselho de Ética tem 11 pedidos de investigação (1)contra José Sarney, acusado de desvio de dinheiro da Petrobras pela fundação que leva seu nome, além das ingerências de seu filho Fernando Sarney. Mesmo assim, os adversários do senador maranhense reconhecem que têm pouca chance de algum desses processos ir adiante. E citam dois fatos: a presidência estar nas mãos de um membro da tropa de choque sarneyzista, o senador Paulo Duque (PMDB-RJ), e o governo ter maioria folgada no colegiado.
“É preciso também considerar que temos um Conselho de Ética desacreditado. A opinião pública pensa dele o que muitos de nós pensamos: foi constituído para colocar panos quentes sobre as denúncias. Ou seja, o que se espera é que as representações encaminhadas sejam derrotadas no colegiado”, disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
Mesmo sem confiar no Conselho de Ética, os opositores continuarão a abastecer o órgão com as denúncias que surgirem. É uma forma de manter o desgaste de Sarney latente, forçando defesas pontuais e explicações na imprensa. “À oposição não cabe outra alternativa a não ser denunciar, como fez, representar ao Conselho de Ética, como fez, exigir julgamento, como faz. Sem julgamento, não há superação da crise. Sem julgamento, não há perspectiva de recuperação do respeito da opinião pública”, emendou o senador paranaense.
O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), também jogou a toalha quanto ao sucesso dos processos no Conselho de Ética, mas disse confiar que o desgaste forçará Sarney à renúncia. Mesmo assim, o presidente do Senado resiste com firmeza em se manter no cargo. O senador tucano ontem prometeu acionar o Conselho Nacional de Justiça contra o desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), que deu uma liminar proibindo o jornal Estado de S.Paulo a fazer denúncias contra a família Sarney referente à Operação Boi Barrica, da Polícia Federal.
O avanço do líder também foi marcado por um recuo. Ele havia preparado um discurso favorável à renúncia de José Sarney, mas decidiu não fazer após um apelo de Pedro Simon para não esquentar ainda mais o clima beligerante. “Há fatos graves que a cada momento acuam o presidente Sarney e que terminarão por levá-lo à renúncia, jamais ao afastamento. A maior prova é que estamos aqui a discutir essa questão quando o início de um semestre legislativo deveria ser de propostas, de agenda positiva, de legislação”, afirmou Arthur Virgílio.
Reflexo
A cautela da oposição já é um reflexo da tática de intimidação dos aliados de Sarney. Como a questão acabou polarizada com o PSDB, o PMDB prometeu levar Arthur Virgílio ao Conselho de Ética por quebra de decoro ao manter um funcionário do gabinete recebendo salário enquanto estudava no exterior. A mesma maioria favorável à Sarney no colegiado torna-se contrária ao líder tucano, na avaliação dos peemedebistas. Nessa lambança, o DEM prefere o papel mais cauteloso possível. A explicação é a sobra de esqueletos escondidos na Casa, sobretudo na primeira-secretaria quando ocupada por Efraim Morais (PB) e Romeu Tuma (SP). Eles não querem se indispor nesse episódio e acabarem alvejados também.
1 - DENÚNCIAS Entre as 11 denúncias no Conselho de Ética contra o presidente do Senado, José Sarney, a mais grave é por associação com atos secretos irregulares. Em um grampo da Polícia Federal, o senador aparece conversando com o filho Fernando Sarney sobre a nomeação do namorado da neta Maria Beatriz a um cargo no Senado. A indicação acabou sendo concretizada pelo ex-diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, em uma canetada que jamais foi divulgada. Além disso, a Fundação Sarney é acusada de desviar patrocínio da Petrobras.
CALMARIA NA CÂMARA Enquanto o Senado pegava fogo, ardendo na crise em torno do presidente José Sarney (PMDB-AP), os deputados agiam como se ainda estivessem em recesso. Com poucos parlamentares presentes, o dia terminou com uma sessão solene para homenagear a Comunidade Lusíada. O único comentário sobre as turbulências no Congresso foram tímidas palavras do presidente da Casa, deputado Michel Temer (PMDB-SP), justamente no momento do bate-boca entre os senadores Pedro Simon (PMDB-RS), Renan Calheiros (PMDB-AL) e Fernando Collor (PTB-AL). Para Temer, a crise ao lado não afetará os trabalhos da Câmara. E disse confiar numa solução para o impasse criado.
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