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quarta-feira, setembro 23, 2009

BRASIL/HONDURAS [ In:] ...E AGORA JOSÉ (laya)?

Embaixada sob fogo cruzado em Honduras

Cerco a Zelaya


Autor(es): Rodrigo Craveiro
Correio Braziliense - 23/09/2009


Militares reprimem com violência simpatizantes do líder deposto que se reuniam diante da Embaixada do Brasil e matam um ativista. Governo de fato corta luz, água e telefone do prédio, na tentativa de forçar a saída do presidente


A volta de Manuel Zelaya a Honduras transformou a capital, Tegucigalpa, em um ambiente cada vez mais tenso. Enquanto o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, permanecia aquartelado dentro da Embaixada do Brasil, no bairro de Colonia Palmira (região central), um clima de guerra tomou conta da cidade: soldados do Exército tomaram as ruas, reprimiram manifestações e isolaram a representação diplomática brasileira. Nas vias que dão acesso a Tegucigalpa, cerca de 600 mil simpatizantes do líder deposto estão impedidos, pelas forças de segurança, de prosseguir viagem.

O presidente de fato, Roberto Micheletti, ordenou o corte de água, eletricidade e dos telefones da embaixada — um artifício para levar Zelaya à rendição. Durante todo o dia, nenhum tipo de alimento podia chegar ao prédio. Lá dentro, ele; a mulher, Xiomara Castro; os filhos e assessores mais próximos contavam com o fornecimento de luz por meio de um gerador. O governo brasileiro apelou na noite de ontem por uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU para discutir a crise.

Por telefone, Juan Barahona, coordenador do Bloco Popular e da Frente Nacional contra o Golpe de Estado, afirmou ao Correio que esteve ao lado do presidente afastado até as 23h de segunda-feira (3h de ontem em Brasília), quando deixou o prédio e montou guarda diante dos portões, com cerca de 4 mil pessoas. Os seguidores de Zelaya desafiaram o toque de recolher, imposto inicialmente até as 7h (hora local) de ontem e estendido até as 6h de hoje, e não arredaram do local. Foram retirados à força. “Às 5h30 de hoje (ontem), a polícia e o Exército chegaram usando canhões d’água, bombas de gás lacrimogêneo e gás lacrimogêneo. Resistimos por várias horas e, às 9h, conseguiram dispersar a resistência. Foi aí que eles (policiais) usaram ‘balas vivas’”, relatou o ativista, assegurando ter visto feridos.

Relatos davam conta de que pelo menos uma pessoa morreu, várias ficaram feridas e 300 estão detidas em um estádio de Tegucigalpa. O jornalista Eduardo Maldonado, da Rádio Globo de Honduras, confirmou à reportagem que o sindicalista Oscar Chávez, do Instituto Nacional Agrário, foi morto ontem durante a repressão. “Temos dezenas de feridos nos hospitais. Houve uma repressão terrível por parte da polícia”, contou. “Cerca de 400 pessoas estão dentro da embaixada”, acrescentou. Depois de expulsarem os manifestantes, policiais colocaram amplificadores voltados em direção à embaixada e tocaram o hino nacional de Honduras.

Invasão
“A repressão aqui é brutal. Vários veículos foram danificados”, admitiu o radialista Omar Rodríguez, um militante de esquerda cuja emissora de rádio teve ontem o fornecimento de energia elétrica cortado. “Há uma ordem da Suprema Corte de Justiça para invadirem o prédio e capturarem Zelaya, mas Honduras é signatária das Convenções de Viena”, observou. Barahona garantiu que uma comissão de advogados foi chamada à Casa Presidencial, ao meio-dia de ontem (15h em Brasília), para analisar o tratado. A informação foi desmentida por um assessor de Micheletti. “Isso (invasão) é impossível”, disse, sob a condição de anonimato.

Dario Nuñez Fiallos, de 34 anos, afirmou ao Correio que vive a apenas 400m da representação brasileira. “As casas aqui perto estão pichadas com mensagens de apoio a Zelaya e de repúdio a Micheletti, muitos vidros foram quebrados e várias pessoas foram golpeadas.” Ele acusou a polícia de negligência, ao usar bombas de gás lacrimogêneo. “Crianças e famílias foram atingidas dentro da embaixada”, denunciou.

O presidente de fato disse que não tem a intenção de entrar em confronto com o Brasil. “Se ele (Zelaya) quiser ficar vivendo lá uns 5 ou 10 anos, nós não temos nenhum inconveniente em que viva lá”, afirmou Micheletti, em entrevista à agência de notícias Reuters. “Nós não iremos fazer absolutamente nada que confronte outro país irmão, nós queremos que eles compreendam que ou lhe dão asilo político ou o entregam às autoridades hondurenhas para seu julgamento.”

Para evitar a extensão do confronto entre partidários de Zelaya e governistas, a comunidade internacional engajou-se numa corrida diplomática. José Miguel Insulza, secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), revelou que apenas esperava garantias de segurança para viajar a Tegucigalpa e mediar o restabelecimento da democracia.

Em carta aos membros do Conselho de Segurança da ONU, o Itamaraty demonstrou-se preocupado “com a segurança do presidente Zelaya e com a segurança e integridade física das instalações da embaixada e de funcionários”. Localizado pelo Correio no Rio de Janeiro, o embaixador Brian Michael Neele, preferiu não falar. O líder deposto exortou seus embaixadores a retornarem a Honduras. Por telefone, o deputado Toribio Aguilera, do Partido de Inovação e Unidade Social Democrata (Pinud-SD), se disse decepcionado com o Brasil. “A posição de Lula e de outros presidentes é uma intromissão”, afirmou.

Ouça entrevistas com o líder pró-Zelaya, Juan Barahona, e com o deputado Toribio Aguilera (ambas em espanhol)


Eu acho...
Arquivo pessoal



“Zelaya é um homem que não respeita acordos, é um homem irresponsável. Me preocupa muito a forma bruta que ele volta ao país. Tememos um derramamento de sangue. O papel do Brasil nos deixou muito decepcionados. Era importante seguir com o diálogo do Acordo San José. Estávamos analisando alguns aspectos para operacionalizar o acordo, mas a intromissão do Brasil nos obriga a reconsiderar o caminho. A posição de Lula e de outros presidentes é de intromissão. Lula e companhia estão dizendo que não vão respeitar nossas eleições, o que é um absurdo”
Toribio Aguilera, deputado do Partido de Inovação e Unidade Social Democrata (Pinud-SD)


Amorim rejeita ameaça

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, assegurou que o Brasil “não vai tolerar” nenhuma ação contra as instalações da embaixada em Tegucigalpa, onde o presidente deposto, Manuel Zelaya, está aquartelado desde a última segunda-feira. Segundo Amorim, o governo de fato enviou uma “nota impertinente e em termos inadequados” à representação, na qual afirmava que ia “blindar” as imediações do prédio. O chanceler brasileiro condenou de forma veemente a suspensão do fornecimento de água, luz e telefone à representação, bem como a decisão da polícia de lançar bombas de gás lacrimogêneo próximo ao prédio.

“Entramos em contato com outros países que mantêm diálogo com o governo de fato para que saibam que seria intolerável qualquer ataque à nossa embaixada”, anunciou Amorim em entrevista coletiva, em Nova York. O ministro evitou dizer que a embaixada na capital hondurenha estava “cercada”, mas confessou preocupação com a segurança de todos os que estão na representação — entre 60 a 80 pessoas, inclusive crianças. Amorim afirmou ainda que o Brasil estudou enviar uma carta ao Conselho de Segurança das Nações Unidas para abordar a questão da segurança na embaixada.

Em Brasília, o líder do PPS na Câmara, deputado Fernando Coruja, apresentou requerimento pedindo a convocação de Amorim para explicar o abrigo dado a Zelaya. Segundo o partido, é preciso esclarecer melhor se o Brasil tinha conhecimento da entrada do presidente deposto e se houve descumprimento de acordos internacionais no episódio. “O senhor Zelaya não pode estar na embaixada e atuando politicamente, usando a embaixada como plataforma política. Ele não pode fazer comício de lá de dentro”, disse o vice-líder do partido, Raul Jungmann.

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