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quarta-feira, novembro 18, 2009
MUNDO/MEIO AMBIENTE: É POSSÍVEL UMA ENERGIA ''LIMPA"?
Edição 571 - 25/04/2009 | |
Em abril deste ano, ÉPOCA mostrou, em matéria de capa, que a energia limpa representa uma chance para o planeta entrar em uma nova era de crescimento econômico. | |
Por que o colapso financeiro mundial representa uma chance para o planeta entrar em uma nova era de crescimento econômico movido a energia limpa
A melhor tecnologia que a espécie humana já inventou para combater o aquecimento global se chama crise econômica. É fácil entender por quê. Ao longo da história, há uma relação inequívoca entre a prosperidade e a quantidade de gás carbônico despejado na atmosfera. Crescimento econômico significa mais fábricas, mais emprego, mais gente indo de carro para o trabalho, mais consumo de energia, mais queima de petróleo e gás – e, do jeito como o mundo funciona, mais poluentes no ar.
Até hoje, nenhuma tecnologia verde foi capaz de reduzir tanto as emissões de gases causadores do efeito estufa quanto uma recessão. A queda na atividade econômica reduz o consumo de petróleo e carvão, a produção de soja, de gado e a derrubada das árvores que retiram o carbono do ar. Quando ocorre uma crise na indústria, então, o efeito é cristalino. De todos os países que assinaram o Protocolo de Kyoto, os que obtiveram maiores níveis de redução de suas emissões de gases foram aqueles cujo complexo industrial implodiu com o fim do comunismo: Ucrânia, Lituânia, Estônia, Letônia, Bulgária, Romênia, Hungria, Polônia, Eslováquia e República Tcheca. A Rússia só resolveu ratificar Kyoto em 2004, ao perceber que facilmente atingiria os índices estabelecidos no acordo até 2012, pois as reduções se baseavam em dados anteriores ao colapso da União Soviética.
A crise que a economia global atravessa hoje terá, portanto, um efeito colateral benéfico sobre as emissões de carbono. Fábricas já fecham suas portas na China, cuja energia está baseada no carvão, um dos maiores poluentes da Terra. Desempregados, os americanos deixam de se deslocar para o trabalho e gastam menos petróleo, outro símbolo de nossa economia suja. A queda no consumo brasileiro deixa de exercer pressão sobre nossos produtores de soja e gado para derrubar a Amazônia. Tudo isso resultará, sem a menor dúvida, em algum alívio para a atmosfera.
Mas ninguém pode defender racionalmente a redução da atividade econômica – em outras palavras, a pobreza – como uma política climática para o planeta (muito embora essa ideia, ou alguma variante dela, passe pela mente de certos ambientalistas). Os governantes e o setor privado de qualquer país sempre preferem a prosperidade. Compreensivelmente, eles querem gerar emprego, atrair investimentos e promover o crescimento. Em tempos de crise econômica, o setor mais cortejado pelas autoridades costuma ser aquele que simboliza nossa dependência dos combustíveis fósseis: os produtores de automóveis. Todo governo quer ver mais gente comprando carro. Nos Estados Unidos, o presidente Barack Obama faz de tudo para tentar salvar a decrépita indústria de Detroit da bancarrota. No Brasil, o Ministério da Fazenda reduz impostos para estimular a venda de carros, e o Banco Central comemora a retomada nos índices automotivos como um sinal de que o país começa a reagir à crise global. Ora, se há mais gente andando de carro e consumindo gasolina, haverá mais carbono no ar. Eis, portanto, o paradoxo central que vive nosso planeta: ninguém quer recessão – e ninguém deseja a catástrofe ambiental. Será que precisamos escolher entre esses dois flagelos?
As nações da Terra se preparam para firmar em Copenhague, no final deste ano, mais um acordo climático global, o sucessor do Protocolo de Kyoto. E chegou o momento de dizer com clareza: Kyoto fracassou. Sobretudo, por não resolver o paradoxo que opõe economia e ecologia. A espetacular onda de prosperidade que o planeta viveu nas últimas décadas se alicerçou sobre formas sujas de gerar energia – como carvão e petróleo. Poucos países cumprirão as metas de Kyoto até 2012, porque nenhum governante mentalmente sadio escolheria, para isso, viver um colapso industrial semelhante ao do Leste Europeu no pós-comunismo. Em Copenhague, a humanidade estará, mais uma vez, diante do gigantesco desafio de conciliar o crescimento econômico com uma nova mentalidade ecológica.
Há um consenso entre cientistas, ambientalistas e líderes empresariais: o tempo para debates infrutíferos passou. A próxima década se tornou a última oportunidade que temos para evitar a catástrofe climática. As transformações na dinâmica do planeta já começaram. No início do ano, a pior seca da história arrasou a principal região agrícola da Austrália. O gelo da Antártica começa a se desprender a uma velocidade superior à das piores previsões. Alguns países, como o Reino Unido, preparam obras para lidar com marés mais altas, verões mediterrâneos e a mudança no padrão de chuvas. Uma enquete feita com 1.756 cientistas pelo jornal britânico The Guardian revelou que 90% deles não acreditam que será possível evitar um aquecimento global acima de 2 graus célsius – um limite do tolerável sem consequências catastróficas. Eles estimam que o aumento médio de temperatura até o final do século ficará entre 4 e 5 graus (leia mais). Esse aquecimento desmancharia a cadeia produtiva de alimentos e ameaçaria os suprimentos globais de água. Também inundaria cidades e deixaria centenas de milhões de desabrigados. Eis, aí, a conta perversa de quase três séculos de prosperidade ininterrupta, desde a Revolução Industrial.
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http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI69914-16270,00-A%20NOVA%20ERA%20DA%20ENERGIA%20LIMPA.html
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