A Embaixada do Brasil no Suriname confirmou ontem que 17 brasileiros ficaram feridos ao serem atacados por cerca de 300 surinameses em Albina, a 150 quilômetros da capital, Paramaribo, quinta-feira à noite.
Uma das vítimas foi a paraense Deniclea Furtado Teixeira, de 34 anos, que estava grávida de três meses e perdeu o bebê. O aborto teria sido provocado pela situação de tensão a que Deniclea foi submetida.
Dos 81 brasileiros que fugiram de Albina, cinco embarcaram ontem de volta para o Brasil num avião da Força Aérea Brasileira (FAB) e chegaram à noite em Belém.
O Ministério das Relações Exteriores negou que o conflito tenha resultado em outras mortes, como chegou a ser relatado por vítimas e pelo padre brasileiro José Vergílio, que está no país há oito anos.
Ontem de manhã, o Itamaraty enviou a Paramaribo uma missão com dois diplomatas, que embarcaram de Brasília num avião da Força Aérea Brasileira (FAB). O embaixador José Luís Machado e Costa, que estava na capital do país, foi até a região do conflito para conversar com autoridades locais.
No início da noite de ontem, três brasileiros ainda estavam em observação num hospital em Paramaribo.
São eles: os maranhenses Francimar Nascimento Pinheiro, de 32 anos, e Raimundo da Silva Pereira, de 36; e o tocantinense Antonio Rodrigues da Silva, de 46.
As outras 14 vítimas foram atendidas e liberadas, sendo 11 na capital do Suriname e três em SaintLaurent-du-Maroni, na Guiana Francesa.
Conflito em área de garimpo
O conflito ocorreu num acampamento usado por brasileiros que emigraram para trabalhar em garimpos ilegais no Suriname. O local foi invadido por descendentes de quilombolas, após o assassinato de um surinamês por um brasileiro, na véspera do Natal. Os agressores destruíram mantimentos e incendiaram parte das instalações usadas pelos brasileiros.
O padre José Vergílio, que chegou a anunciar que sete brasileiros haviam morrido no conflito, voltou atrás ontem à tarde e afirmou não saber o número de supostas vítimas.
Mesmo assim, acusou as autoridades brasileiras de tentarem atenuar as consequências do ataque.
— As autoridades estão com prudência exagerada. Sei que existem mortos, e muitas mulheres que foram violentadas barbaramente. As pessoas foram encontradas boiando no rio e dizem que não houve nada.
Até o embaixador brasileiro está falando besteira — disse.
Vítima diz ter visto corpos boiando
O garimpeiro Enoque Luz também insistiu que, ao contrário do que informou o Itamaraty, haveria brasileiros mortos em decorrência dos ataques. Segundo ele, pelo menos quatro teriam morrido em Paramaribo. Ele afirmou ainda que foram vistos corpos boiando no Rio Maroni, próximo ao local dos ataques.
— Encontramos no rio corpos e pedaços de gente. Sei que lá no hospital tem quatro corpos na geladeira.
Eles não deixam a gente ir lá reconhecer. Eles não anunciam isso nem no jornal daqui — afirmou Enoque.
O garimpeiro também disse que, entre os brasileiros, não se saberia o paradeiro de pelo menos dez pessoas após o episódio. Ainda segundo Enoque, muitas mulheres foram estupradas no dia 24: — Aconteceram vários estupros.
A gente teve hoje essa informação de mulheres que foram atendidas no hospital de Saint-Laurent.
O governo do Suriname garantiu ao Itamaraty que iria fazer todos os esforços possíveis para manter a segurança e integridade física dos brasileiros residentes naquele país. A informação foi repassada sábado à noite pela ministra interina de Negócios Estrangeiros do Suriname, Jane Aarland, ao secretário-geral do Itamaraty, Antonio Patriota.
Segundo o Ministério de Relações Exteriores, Aarland teria demonstrado boa vontade em resolver e apurar o episódio na conversa telefônica que teve com Patriota, além de ter explicitado que o Suriname iria apoiar os brasileiros naquele país. O empenho do governo do Suriname foi explicitado ao designar o número três da diplomacia daquele país, Robby Ramlakhan, para acompanhar ontem o embaixador José Luiz Machado e Costa.
Brasileiros são atraídos pelo ouro
Ramlakhan e Machado e Costa seguiram ontem de Paramaribo até a região do conflito. O Itamaraty também recebeu a informação de que o ministro da Defesa do Suriname, Ivan Fernald, lamentou publicamente o ocorrido. No sábado, o Itamaraty chegou a entrar em contato com o Ministério da Defesa sobre a possibilidade de enviar para o local alimentos e medicamentos.
No entanto, o pedido não chegou a ser confirmado. Os brasileiros, em sua maioria garimpeiros, saem sobretudo dos estados do Norte e Nordeste brasileiro, atraídos pelas riquezas minerais do Suriname, como o ouro.
— Essa é uma área violenta e de muito conflito. São constantes os relatos de incidentes envolvendo brasileiros nessa região. E é preciso assistência diplomática aos brasileiros que estão lá — afirmou ontem o deputado federal Luciano Castro (PR-RR)
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