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quarta-feira, fevereiro 24, 2010

BRASÍLIA: A ''DANÇA COM LOBOS'' (?) *

PAULO OCTÁVIO RENUNCIA.E AGORA, WILSON?

Paulo Octávio sai de cena

Autor(es): # ANA MARIA CAMPOS
Correio Braziliense - 24/02/2010



Janine Moraes/Esp. CB/D.A Press


O Distrito Federal chega ao terceiro governador em 12 dias. Em carta enviada à Câmara Legislativa, Paulo Octávio comunicou a renúncia ao mandato e disse que voltava às “fileiras da cidadania”. Foi o ato derradeiro do político que fracassou na tentativa de obter o apoio dos antigos aliados de Arruda e estava na iminência de ser expulso do Democratas. A chefia do Executivo local passa às mãos de Wilson Lima (PR), distrital ligado ao grupo arrudista que tenta imprimir um discurso independente na chegada ao Buriti. “Não vou aceitar ingerências políticas”, avisou o novo governador, em nota. Para estabelecer as mínimas condições de governabilidade e evitar uma intervenção federal, as forças partidárias tentam um equilíbrio político, com Wilson Lima no governo e Cabo Patrício (PT) na presidência da Câmara Legislativa.



Em carta enviada à Câmara Legislativa, vice-governador renuncia ao cargo e agora vai se dedicar exclusivamente às suas empresas


Janine Moraes/Esp. CB/D.A Press - 14/2/10
Paulo Octávio também deixou o DEM ontem: com isso, fica impossibilitado de concorrer a qualquer cargo nas próximas eleições


A Operação Caixa de Pandora deixa mais uma marca na história. Às 17h28, quando o deputado distrital Cabo Patrício (PT) começou a ler a carta de renúncia do vice-governador Paulo Octávio, agora sem partido, encerrava-se a aliança de dois políticos que sempre sonharam comandar a capital do país, passaram anos às turras na disputa pela chefia do Executivo local e afundaram juntos diante da contundência das denúncias feitas pelo ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa.

José Roberto Arruda está preso há 13 dias na Superintendência da Polícia Federal e Paulo Octávio saiu da política para se dedicar exclusivamente às empresas, um conglomerado que inclui interesses no ramo imobiliário, construção civil, hotelaria, concessionária de veículos e shoppings. Não vai concorrer nas próximas eleições. Encerrou, assim, uma obsessão: governar a cidade onde construiu o seu império. Ele ainda tentou ficar. Desde que a prisão preventiva de Arruda foi decretada, no último dia 11, Paulo Octávio buscou um pacto suprapartidário, com apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Envolvido em acusações de recebimento de propina, ele não conseguiu nem mesmo caminhar com seu próprio partido, o DEM.

Numa carta com apenas uma linha, Paulo Octávio se despediu da legenda pela qual disputou as últimas três eleições: “Venho por meio desta comunicar a minha desfiliação do partido”. Foi uma saída para evitar a expulsão sumária, mesma estratégia adotada por Arruda em dezembro. A renúncia foi um gesto amadurecido nos últimos seis dias. Na última quinta-feira, ele chegou a escrever uma carta em que entregava o cargo. Anunciou que sairia e voltou atrás sob a justificativa de que atendia pedido de partidos, do Palácio do Planalto e da população. O vaivém o deixou ainda mais fragilizado politicamente e fez crescer o sentimento no meio político de que sua permanência apressaria a intervenção federal no DF.

Além do bombardeio de denúncias em que seu nome aparece em investigações de corrupção, Paulo Octávio desistiu de enfrentar a crise porque não obteve a promessa de apoio na Câmara Legislativa para evitar o processo de impeachment. Numa resposta objetiva, ele explicou por que jogou a toalha: “Não me sentiria confortável para negociar apoio ao governo dia a dia”. Ou seja, cada projeto exigiria trocas com distritais. Em entrevista ao Correio, Paulo Octávio disse que nunca participou de nenhum acordo com deputados envolvendo pagamentos em troca da aprovação de projetos na Câmara, cerne do Inquérito nº 650 em curso no Superior Tribunal de Justiça (STJ), origem da Operação Caixa de Pandora. Sobre a acusação que pesa contra Arruda, Paulo Octávio afirmou: “Não tenho conhecimento disso”.

Na quinta-feira, quando foi e voltou na ideia de renunciar, Paulo Octávio recebeu deputados no fim da noite, no gabinete do Palácio do Buriti. Chegou a dizer, segundo distritais presentes, que temia ficar à frente do Executivo, sem conseguir montar a sua própria equipe, com muitos assessores em quem não confia, num momento de crise institucional tão profunda e acabar como Arruda, na prisão. Desde junho do ano passado, quando Durval Barbosa deu os primeiros depoimentos ao Ministério Público do Distrito Federal, a gestão compartilhada de Paulo Octávio e Arruda passou a ser devassada pelos investigadores.

Cobrança
Em conversas com ex-correligionários do DEM, Paulo Octávio fez uma espécie de cobrança. Disse que se tivesse sido escolhido candidato do partido em 2006, tudo poderia ser diferente, já que a ligação de Durval Barbosa, o delator dos escândalos no GDF, seria diretamente com Arruda. A reclamação expõe uma relação difícil entre os dois comandantes da administração “compartilhada”. Eles trombaram muitas vezes, mas precisaram um do outro para vencer as eleições. O acordo eleitoral chegou a ser renovado, mas se perdeu diante da avalanche provocada pela Caixa de Pandora. Sem partido político, nenhum dos dois será candidato nas próximas eleições.

Mas Paulo Octávio poderá ser representado pela mulher, Anna Christina Kubitschek Pereira. Filiada ao DEM, ela sempre acalentou planos de seguir os passos do avô, Juscelino Kubitschek, fundador de Brasília, e da mãe, Márcia, que foi deputada federal e vice-governadora. “Ela seria uma ótima política e pensa no assunto”, contou Paulo Octávio. Partiu da mulher o incentivo para que Paulo Octávio ficasse mais tempo no governo e enfrentasse a crise. Mas não deu. Sobre o sentimento da renúncia no ano em que Brasília completará 50 anos, Paulo Octávio limitou-se a dizer: “Vou ter um tempo para mim”.


INTERINO

288 horas
Período em que Paulo Octávio ficou à frente do Governo do Distrito Federal. Ele assumiu o cargo às 17h15 de 11 de fevereiro e a carta de renúncia foi lida ontem, às 17h28, na Câmara Legislativa.

NA POLÍTICA

24 anos
Tempo de vida política de Paulo Octávio. Ele filiou-se ao PFL em 1986. Em 1990, foi eleito deputado federal com 38.253 votos, terminando a disputa em segundo lugar, atrás apenas de Augusto Carvalho.

ELEIÇÕES

4 mandatos
Quantidade de cargos públicos conquistados nas urnas. Em 1990 e 1998, foi eleito deputado federal. Em 2002, conquistou o mandato de senador. Em 2006, elegeu-se vice-governador.

BENS

R$ 323 milhões
Patrimônio declarado por Paulo Octávio à Justiça Eleitoral em 2006. Ele é um bem-sucedido empresário do ramo da construção civil.

A família nas eleições

Presidente da Fundação Memorial JK, Anna Christina Kubitschek Barbará Pereira é filiada ao DEM, partido que até o início do escândalo provocado pela Operação Caixa de Pandora era presidido no DF por Paulo Octávio, com quem tem dois filhos. Neta de JK, a filha mais velha de Márcia Kubitschek sempre cogitou disputar eleições, seguindo os passos da família tradicional na política do Distrito Federal. Mas até agora preferiu acompanhar os projetos do marido. A candidatura a vaga de deputada federal ou senadora neste ano ocorreria no cinquentenário da capital e pode significar a continuidade do poder político de Paulo Octávio. Com personalidade forte, Anna Christina durante anos guardou mágoa de José Roberto Arruda, a quem atribui a derrota da mãe na candidatura ao Senado em 1994. (AMC)


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(*) Título de filme.
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