PENSAR "GRANDE":

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[NÃO TEMOS A PRESUNÇÃO DE FAZER DESTE BLOGUE O TEU ''BLOGUE DE CABECEIRA'' MAS, O DE APENAS TE SUGERIR UM ''PENSAR GRANDE''].
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“Pode-se enganar a todos por algum tempo; Pode-se enganar alguns por todo o tempo; Mas não se pode enganar a todos todo o tempo...” (Abraham Lincoln).=>> A MÁSCARA CAIU DIA 18/06/2012 COM A ALIANÇA POLÍTICA ENTRE O PT E O PP.

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''Os Economistas e os artistas não morrem..." (NHMedeiros).

"O Economista não pode saber tudo. Mas também não pode excluir nada" (J.K.Galbraith, 1987).

"Ranking'' dos políticos brasileiros: www.politicos.org.br

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# 38 RÉUS DO MENSALÃO. Veja nomes nos ''links'' abaixo:
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valor ...ria...nine

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sábado, fevereiro 20, 2010

EDITORIAL [In:] O ''GRANDE IRMÃO'' OU ''1984'' * (REAL ?)

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Há algum tempo, por falta de tempo, não tenho escrito ''de próprio punho'' o Editorial. Não obstante, eu tenho postado algumas matérias que eu ''teria escrito'' ou, mais popularmente, ''assinado em baixo''. Hoje, estamos postando três matérias. E, em todas a mesma percepção dos autores, no sentido do ''quantum'' os meios de comunicação estão distorcendo o sentido do SER (humano) para o TER. A primeira, assinada pela jornalista Érica Silva(1), mostra a ''posse'' de uma cidade, ainda que pequena (também por isso), por um programa televisivo de péssima qualidade cultural e moral, comprovadamente sabida. A segunda, de autoria de Luciano Mattuella(2), psicanalista, apresenta uma análise do mesmo programa, em termos de uma mídia distorcida e distorsiva, seja ela representada pela televisão ou outros meios eletrônicos, a exemplo do poder de ''twitter" junto aos jovens ainda em formação ''estrutural''. Por fim, o artigo de Frei Betto(3) apresenta o mesmo contexto dos artigos anteriores: o ''fetiche'' das vitrines nos ''shopping´s da vida".

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BIG BROTHER 10

O reino do Grande Irmão

Érica Daiane da Costa Silva

Quem foi à orla de Juazeiro (BA) na noite da terça-feira (13/01) percebeu uma movimentação extraordinária. Às margens do rio São Francisco, um trecho da orla havia se transformado em cinema ao ar livre. Isso mesmo. Um telão, algumas cadeiras e pessoas que chegavam e iam ficando. O motivo? Juazeiro vivia naquele momento grande expectativa pela estréia do Big Brother Brasil 10, edição que conta com a participação da PM juazeirense Anamara.

As fotos confirmam. Familiares, amigos, vereador, imprensa local, segurança pública... crianças e adultos atentos, vestindo camiseta com a foto da PM povoavam o espaço reservado para o povo de Juazeiro prestigiar em praça pública o reality show. A imagem lembrava os cineclubes das pequenas cidades onde a sala de cinema não existe. Bem lembrado, Juazeiro não tem cinema, não tem cineclube na praça, mas naquela noite parou em frente a uma grande tela ao ar livre para ver a policial mais conhecida no Brasil, pelo menos neste momento.

Mas, assim que o programa teve início, eis que vem a chuva. Em busca de proteção, as pessoas saem correndo para o bar mais próximo e, sem pedir licença, logo se acomodam ocupando todo o espaço próximo à TV de tela plana. Se estivéssemos falando de trabalhadores e trabalhadoras sem-terra, talvez fosse registrada uma invasão do bar.

Naquele meio, jornalistas obrigados a cumprir p autas registravam cada detalhe, explorando bem a euforia do povo ao ouvir uma fala da jovem Anamara. Funcionários públicos também aguardavam o espetáculo e a chuva terminar para recolher as cadeiras molhadas. Enquanto isso, a chuva continuava.

"A gente não quer só comida"

Na Adolfo Viana, umas das principais avenidas de Juazeiro, o retrato de uma cidade vazia ou pelo menos das pessoas recolhidas em suas casas. A chuva? Sim, não resta dúvida, mas ao longo do caminho muitos televisores ligados e pessoas atentas à programação global da noite de verão. Enquanto isso, na calçada de uma loja, dois homens dormiam, provavelmente sem saber da existência da mobilização em torno do "grande irmão". Grande irmão que expõe a mulher como um objeto de pouco valor, que incentiva a disputa, a competitividade, que valoriza a espetacularização da intimidade das pessoas. Grande irmão que parece dizer que não é possível viver em coletividade, ao contrário, alguém terá de se dar bem e pra isso passará por cima dos demais.

Um show da realidade onde para ganhar um milhão e meio basta conseguir conviver com outras pessoas numa casa e ganhar a simpatia do público. Um público que segue direitinho as regras impostas por interesses privados, interesses dos donos das redes de televisão, das empresas patrocinadoras, dos que sugam a cada dia o suor da classe trabalhadora. Uma classe trabalhadora que paga a conta de luz no final do mês, que consome os produtos divulgados pelo Big Brother, que acaba seguindo os comportamentos, a moda, formando opiniões a partir do que a Rede Globo permite que seja "espiado".

Numa parada na pastelaria, a decepção de ver no vídeo a música de Jorge de Altinho ("Nas margens do São Francisco nasceu a beleza...") antecipar a fala da PM que menciona a música "Um tapinha não dói", do grupo Furacão 2000. A chuva parece cessar. Já dizia uma música dos Titãs: "A televisão me deixou burro, muito burro demais! E agora eu vivo dentro dessa jaula junto com os animais..." Que o Brasil, em tempos de BBB e em outros tempos também, possa lembrar de outra música, também dos Titãs, que diz: "A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte... a gente quer saída para qualquer parte".

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O CÉLEBRE GRANDE IRMÃO

Luciano Mattuella

Mesmo aqueles que não acompanham o Big Brother Brasil 10 não conseguirem ficar completamente alheios às repercussões da participação da “sister” Tessália, conhecida no meio virtual como a “Twittess”. Foi a primeira vez que os brasileiros assistiram a um BBB com o recurso do Twitter para publicar suas opiniões. Formou-se, rapidamente, um movimento chamado #foratessália, palavra que ocupou por vários dias os trending topics (os assuntos mais comentados pelos usuários do serviço eletrônico) do Twitter no Brasil.

Quando finalmente o povo teve chance de votar contra a permanência de Tessália na casa, foi fulminante. A moça sofreu uma expressiva rejeição do público e saiu do jogo. Em entrevista, alguns dias depois de sua saída, Tessália disse que não se surpreendeu com o movimento #foratessália e até mesmo já esperava por isso, que entendia como algo que faz parte do meio virtual. Parecia estar sendo sincera.

Gerou muita polêmica o fato de Tessália se utilizar de um script no Twitter, um recurso para conseguir mais followers (seguidores de seu perfil virtual – sua timeline) de modo rápido. E ela foi bem-sucedida. Muito bem. Logo, ainda antes da participação no BBB, veio o convite para que Tessália fizesse um ensaio sensual na revista VIP – onde recebeu definitivamente o apelido Twittess (um neologismo que junta as palavras “twitter” e “miss”).

Há algo aí para se pensar, mas, antes eu gostaria de apresentar um segundo fato.

No caderno Kzuka – direcionado, pelo que entendo, ao público adolescente – da Zero Hora de sexta-feira passada, dia 5 de fevereiro, foi perguntado a uma menina de 16 anos quem ela gostaria de ser caso não fosse ela mesma. A resposta: “uma celebridade qualquer”. Reparem na formação da frase: não é “qualquer celebridade”, mas sim “uma celebridade qualquer“.

A pergunta do jornal é muito parecida com aquela que se faz às crianças pequenas: “O que tu queres ser quando crescer?”. É uma questão complexa. A resposta, em geral, explicita muito mais o desejo narcísico do pais do que o real interesse da criança, afinal é no imaginário dos pais que habitam os primeiros ideais com os quais as filhos sentem-se impelidos a se identificar.

Freud já comentava, em 1914, sobre esse futuro antecipado que os pais conjugam para a criança: que ela consiga realizar tudo aquilo que não conseguimos. E este é um investimento saudável, pois lança o sujeito na dialética do desejo próprio. Com o tempo, a criança distancia-se do imaginário dos pais para procurar pelos ideais que estão inscritos na Cultura. Esta passagem do desejo dos pais para o desejo da Cultura ocorre, de praxe, na adolescência, momento em que a pergunta “o que vais ser quando crescer?” é re-atualizada, em geral pelo vestibular – uma espécie de concurso de entrada na vida adulta.

O que tanto Tessália quanto a menina entrevistada pelo Kzuka denunciam de forma tão evidente? O que elas nos dão a ver do Imaginário Social em que estamos inseridos? Adio um pouco a resposta para citar uma pequena passagem do livro “The End of Dissatisfaction?”, de Todd McGowan, sobre o qual falei no post anterior:

“All of the knowledge that the father once embodied and passed on to the son has become useless because (…) success doesn’t require knowledge today. The basis for success has become celebrity, not knowledge.”

[Todo o conhecimento que o pai uma vez encarnava e passava adiante para o filho se tornou inútil porque o sucesso não requer mais conhecimento hoje em dia. A base para o sucesso tornou-se celebridade, não conhecimento.]

Pai, no discurso psicanalítico, é um conceito multifacetado que vai muito além da figura de carne-e-osso do progenitor. No contexto da citação acima, a palavra pai pode ser substituída por tradição, no sentido de um saber acumulado e transmitido de geração em geração (diferente de tradicionalismo, que é a tradição colocada no museu, sem possibilidade de dinamismo).

O que salta aos olhos na frase da menina de 16 anos é que nem importa mais qual celebridade ela admira, ou seja, não há mais uma identificação a um traço de sucesso ou de reconhecimento: o que é almejado é o lugar de celebridade. Ser reconhecida não necessariamente por mérito, mas pela simples existência. É algo bastante sintomático desta sociedade que McGowan apresenta no livro. Sintomático, eu digo, porque traz à luz algo da estrutura, do funcionamento implícito, do contexto social em que vivemos.

E nem se trata mais de uma grande celebridade, mas de uma celebridade qualquer – celebridade passa a ser uma moeda cotada pelo número de amigos no Facebook, no Orkut, de seguidores no Twitter… Não se está mais falando de um ideal impossível de ser atingido, mas de um role model que pode facilmente ser seguido – um ideal, se assim se pode dizer, horizontal. O vizinho mais sortudo.

Assim, tanto a Tessália quanto a garota do Kzuka, cada uma a seu modo, nos permitem entender o que acontece por debaixo do edredon do nosso contexto social.

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Frei Betto


Ao visitar em agosto a admirável obra social de Carlinhos Brown, no Candeal, em Salvador, ouvi-o contar que na infância, vivida ali na pobreza, ele não conheceu a fome. Havia sempre um pouco de farinha, feijão, frutas e hortaliças. "Quem trouxe a fome foi a geladeira", disse.
O eletrodoméstico impôs à família a necessidade do supérfluo: refrigerantes, sorvetes etc. A economia de mercado, centrada no lucro e não nos direitos da população, nos submete ao consumo de símbolos. O valor simbólico da mercadoria figura acima de sua utilidade. Assim, a fome a que se refere Carlinhos Brown é inelutavelmente insaciável.
É próprio do humano - e nisso também nos diferenciamos dos animais - manipular o alimento que ingere. A refeição exige preparo, criatividade, e a cozinha é laboratório culinário, como a mesa é missa, no sentido litúrgico.
A ingestão de alimentos por um gato ou cachorro é um atavismo desprovido de arte. Entre humanos, comer exige um mínimo de cerimônia: sentar à mesa coberta pela toalha, usar talheres, apresentar os pratos com esmero e, sobretudo, desfrutar da companhia de outros comensais. Trata-se de um ritual que possui rubricas indeléveis. Parece-me desumano comer de pé ou sozinho, retirando o alimento diretamente da panela.
Marx já havia se dado conta do peso da geladeira. Nos "Manuscritos econômicos e filosóficos" (1844), ele constata que "o valor que cada um possui aos olhos do outro é o valor de seus respectivos bens".
Portanto, em si o homem não tem valor para nós." O capitalismo de tal modo desumaniza que já não somos apenas consumidores, somos também consumidos. As mercadorias que me revestem e os bens simbólicos que me cercam é que determinam meu valor social. Desprovido ou despojado deles, perco o valor, condenado ao mundo ignaro da pobreza e à cultura da exclusão.
Para o povo maori da Nova Zelândia cada coisa, e não apenas as pessoas, tem alma. Em comunidades tradicionais de África também se encontra essa interação matéria-espírito. Ora, se dizem a nós que um aborígine cultua uma árvore ou pedra, um totem ou ave, com certeza faremos um olhar de desdém. Mas quantos de nós não cultuam o própriocarro, um determinado vinho guardado na adega, uma jóia?
Assim como um objeto se associa a seu dono nas comunidades tribais, na sociedade de consumo o mesmo ocorre sob a sofisticada égide da grife. Não se compra um vestido, compra-se um Gaultier; não se adquire um carro, e sim uma Ferrari; não se bebe um vinho, mas um Château Margaux. A roupa pode ser a mais horrorosa possível, porém se traz a assinatura de um famoso estilista a gata borralheira transforma-se em cinderela...
Somos consumidos pelas mercadorias na medida em que essa cultura neoliberal nos faz acreditar que delas emana uma energia que nos cobre como uma bendita unção, a de que pertencemos ao mundo dos eleitos, dos ricos, do poder. Pois a avassaladora indústria do consumismo imprime aos objetos uma aura, um espírito, que nos transfigura quando neles tocamos. E se somos privados desse privilégio, o sentimento de exclusão causa frustração, depressão, infelicidade.
Não importa que a pessoa seja imbecil. Revestida de objetos cobiçados, é alçada ao altar dos incensados pela inveja alheia. Ela se torna também objeto, confundida com seus apetrechos e tudo mais que carrega nela mas não é ela: bens, cifrões, cargos etc.
Comércio deriva de "com mercê", com troca. Hoje as relações de consumo são desprovidas de troca, impessoais, não mais mediatizadas pelas pessoas. Outrora, a quitanda, o boteco, a mercearia, criavam vínculos entre o vendedor e o comprador, e também constituíam o espaço das relações de vizinhança, como ainda ocorre na feira.
Agora o supermercado suprime a presença humana. Lá está a gôndola abarrotada de produtos sedutoramente embalados. Ali, a frustração da falta de convívio é compensada pelo consumo supérfluo.
"Nada poderia ser maior que a sedução" - diz Jean Baudrillard - "nem mesmo a ordem que a destrói." E a sedução ganha seu supremo canal na compra pela internet. Sem sairda cadeira o consumidor faz chegar à sua casa todos os produtos que deseja.
Vou com frequência a livrarias de shoppings. Ao passar diante das lojas e contemplar os veneráveis objetos de consumo, vendedores se acercam indagando se necessito algo. "Não, obrigado. Estou apenas fazendo um passeio socrático", respondo. Olham-me intrigados. Então explico: Sócrates era um filósofo grego que viveu séculos antes de Cristo. Também gostava de passear pelas ruas comerciais de Atenas. E, assediado por vendedores como vocês, respondia:
"Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz".
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(*) 1984. (George ORWELL). Neste livro, Orwell, mostra um país ''fictício" (?) denominado de "Oceania", o qual vive um totalitarismo desde que o IngSoc, o Partido político chegou ao poder sob o comando do onipresente Grande Irmão (Big Brother). Vale a pena (re)ler.

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(1) Edição 573 de 19/1/2010
www.observatoriodaimprensa.com.br
URL do artigo: www.observatoriodaimprensa.com.br

(2) http://exerciciosdeimproviso.wordpress.com/
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