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sexta-feira, fevereiro 05, 2010

GOVERNO LULA/BANCO CENTRAL [In:] JUROS EM ALTA (Juro!!!)

Planalto resiste, mas BC aponta para alta dos juros em 2010

Questão de tempo

Autor(es): Vicente Nunes
Correio Braziliense - 05/02/2010
Economistas são unânimes em dizer que o Banco Central sinalizou claramente uma alta nos juros. A dúvida é quando o ajuste começará


O mercado financeiro reforçou as apostas de alta na taxa básica de juros (Selic(1)), mas ficou evidente a sua divisão quanto à data em que o arrocho monetário começará. Se analistas e operadores arrumaram argumentos de sobra na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, para justificar uma ação “enérgica” por parte do BC para manter a inflação no centro da meta fixada pelo governo, de 4,5%, também reconheceram que a instituição, mesmo com o discurso mais duro, não se comprometeu com prazos. Até porque, a despeito de todos os alertas sobre os riscos que rondam o país, as expectativas estão sob controle.

“Havia uma expectativa de que o BC divulgasse uma ata ‘sangrenta’, indicando que a alta dos juros é iminente. Mas não foi o que aconteceu. Ainda que o Copom tenha usado palavras mais duras do que no documento referente à reunião de dezembro passado, não se viu um compromisso explícito sobre quando a Selic começará a subir”, disse o economista-chefe do Banco BES Investimento, Jankiel Santos. Para ele, mesmo tendo aumentado a chance de os juros subirem no encontro do Copom de 16 e 17 de março, o mais provável é que o BC espere um pouco mais para avaliar melhor o que está acontecendo com a inflação. “Por isso, continuo acreditando em alta a partir de abril”, frisou.

A economista Luíza Rodrigues, do Banco Santander, está mais pessimista. “Todos os sinais emitidos pela ata do Copom (referente à reunião da semana passada, quando a Selic foi mantida em 8,75% ao ano) são de que a elevação da Selic virá no próximo mês, porque as pressões inflacionárias são reais”, afirmou. “O dólar está em alta, reflexo da maior aversão ao risco. O uso da capacidade instalada da indústria está quase no limite, reflexo da demanda forte. O crédito voltou tanto para as pessoas físicas quanto para as empresas. Há ainda os efeitos defasados das políticas fiscais e a ameaça de alta das commodities (mercadorias com cotação internacional”, emendou. “Ou seja, são muitos os riscos e as incertezas. As pressões sobre a inflação estarão generalizadas.”

Diante desse quadro, a economista destacou que o Santander não só antecipou de abril para março a aposta de alta na Selic, como elevou a projeção para a taxa de 11,25% para 12% ao ano. Quer dizer: o arrocho monetário começará mais cedo e será mais forte do que o imaginado. Luíza acredita que, com a visível deterioração das expectativas inflacionárias dos agentes econômico, que levou o Copom a trocar a palavra “cautela” para “vigilante” ao se referir ao tema, os juros subirão independentemente de quem estiver no comando do BC — o presidente da instituição, Henrique Meirelles, pode se candidatar a um cargo político — e do desejo do presidente Lula de fazer da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, a sua sucessora.

Contaminação
Para o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes, realmente, os números atuais da inflação incomodam, por estarem nos maiores níveis desde o início de 2003, quando começou o governo Lula. Hoje, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deve divulgar alta próxima de 0,70% em janeiro para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Anualizada, a taxa oficial de inflação apontará para quase 9%, número muito distante do teto da meta (6,5%). “Os números do início de ano estão um pouco acima da sazonalidade do período. E o BC teme que eles contaminem as expectativas e elas saiam do controle”, explicou.

Apesar desse quadro, Thadeu crê que o Copom empurrará para abril ou junho o aumento dos juros. Ele lembrou que, na ata, o BC chamou a atenção para o fato de alguns países que se recuperaram mais rápido da crise mundial terem subido os juros para conter as pressões inflacionárias decorrentes do excesso de crescimento. “A Austrália fez isso, mas já parou de aumentar as taxas, pois os riscos de uma nova crise nas economias desenvolvidas voltaram a assustar”, disse. “O Copom elevou o tom, mas também dispersou as apostas dos que acreditavam em aumento da Selic já. Tanto que as taxas de juros no mercado futuro recuaram”, emendou.

1 - Taxa
O Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic) é informatizado e se destina à custódia de títulos emitidos pelo Tesouro Nacional e pelo Banco Central, funcionando como registro e liquidação de operações com esses papéis. Esse sistema empresta o nome à taxa básica de juros, cujo percentual é definido pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.

Todos os sinais emitidos pela ata do Copom são de que a elevação da Selic virá no próximo mês, porque as pressões inflacionárias são reais”
Luíza Rodrigues, economista do Banco Santander

Mercado vê exageros na ata

Ao mesmo tempo em que alerta para a necessidade de aumento da taxa básica de juros (Selic) com o intuito de combater pressões inflacionárias, o mercado vê exageros nas estimativas do Banco Central. Segundo a economista Luíza Rodrigues, do Banco Santander, o BC pesou na mão ao prever alta de 4% neste ano para os preços administrados, que incluem as tarifas públicas. “Estamos trabalhando com um índice menor, próximo de 3%”, afirmou.

Os preços administrados representam cerca de 30% da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Ou seja, quanto menor for alta dos administrados, mais espaço haverá para acomodação dos reajustes dos chamados preços livres, que sofrem influência direta dos juros. “Estamos trabalhando, inclusive, com queda nas tarifas de energia elétrica em várias distribuidoras”, ressaltou.

Pelas projeções do BC, na média, as contas de luz ficarão 3,3% mais caras e as de telefone, 1,6%. Já o gás de cozinha e a gasolina não deverão ter reajustes este ano. O Ministério da Fazenda acredita que a gasolina fique até mais barata, devido à redução da Cide, imposto que incide sobre o valor do combustível. Para 2011, o BC não detalha as estimativas de aumento para cada um desses itens. Divulga apenas uma projeção fechada para os preços administrados, que deverão subir 4,1%.

Segundo a ata, o BC também espera que a meta de superavit primário (economia para o pagamento de juros da dívida) de 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB) seja cumprida. Se houver um freio no gasto público, as pressões inflacionárias diminuirão e os juros não precisarão subir tanto.

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