MUITO JÁ SE FALOU SOBRE os atrasos das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e sobre seu caráter eleitoreiro, para catapultar a candidatura presidencial da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, batizada simbolicamente como a “mãe do PAC”. Todas as críticas fazem sentido.
O governo federal não concluiu nem a metade do planejado.
De acordo com levantamento da ONG Contas Abertas, 54% das ações do programa, lançado há três anos, não saíram do papel. Ainda assim, o PAC tem servido de plataforma, ou melhor, de palanque, para os discursos em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva exalta as transformações pelas quais o país vem passando durante o seu mandato, faturando os ganhos políticos para Dilma, PT e partidos e políticos aliados.
Para completar, o governo resolveu lançar na última segunda-feira, com alarido, a segunda etapa do programa, o PAC 2, sem ter concluído a primeira. A iniciativa despertou as queixas da oposição, que vê como absurdo o atropelo, considerado um oportunismo de duplo sentido. Por um lado, haveria uma espécie de assédio eleitoral, uma chantagem implícita aos eleitores: ou eles votam pela continuidade do governo, representado pela candidatura Dilma, ou o conjunto trilionário de obras do PAC e do PAC 2 corre o risco de não se concretizar. Por outro lado, há a acusação de que o governo, a nove meses de terminar, não pode planejar um programa tão profundo e impô-lo ao sucessor, caso este não seja do campo governista.
Até que ponto estas críticas fazem sentido? O questionamento, obviamente, está intimamente ligado ao papel da oposição no tabuleiro político.
Ela vai discordar. É inerente à sua natureza e segue o instinto de sobrevivência.
Quantas vezes os detratores de hoje, quando no governo, reclamaram, com razão, da postura intransigente do oposicionista PT, que taxou o Plano Real de eleitoreiro, quando a população, sabiamente, o apoiava? Ocorre o mesmo agora. É possível que a classe política brasileira já tenha aprendido com algumas lições do passado, mas as posições dos jogadores na dinâmica política por vezes turvam e impedem uma análise fria e sensata, ainda mais num ano eleitoral.
As críticas ao PAC fazem sentido do mesmo modo que o inverso delas também faria. É o típico caso comparável ao copo d’água pela metade. Tanto se pode dizer que ele está quase vazio ou quase cheio. Depende do ponto de vista. Trata-se, logo, de uma questão mais de quantidade, a respeito do ritmo de conclusão, do que de qualidade. No debate que se vem travando sobre o PAC, desde 2007, poucas críticas da oposição questionam a necessidade, a importância das obras do programa.
O PAC reinaugura uma visão que faltava ao país, que esteve às voltas com outras prioridades nas últimas duas décadas: a estabilização da economia e a inserção de amplas camadas da população à margem da cidadania e do mercado. O PAC retoma o investimento pesado em infraestrutura – energia, transporte. É um planejamento de longo prazo, sim. E é melhor tê-lo que não tê-lo, apesar da oposição fazer bico. Tem razão o presidente Lula ao lembrar que a execução também não é simples, pelo impacto e capilaridade do programa e por questões técnicas, como o licenciamento ambiental. Quanto a capitalizar eleitoralmente, fica a pergunta: que animal político racional faria diferente?
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