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quarta-feira, abril 14, 2010
CUSTO INDUSTRIAL E INFLAÇÃO [In:] AUMENTO DO CUSTO DE PRODUÇÃO
Matérias-primas e salários pressionam custo industrial
Indústria vê pressão em salário e preço dos insumos |
Valor Econômico - 14/04/2010 |
A elevação dos preços de algumas das principais matérias-primas e o início de uma nova rodada de reivindicações salariais pressionam os custos de grandes grupos industriais do país, revelaram ontem os empresários presentes à entrega do prêmio "Executivo de Valor" aos profissionais que mais se destacaram em 24 setores de atividade. A revista "Executivo de Valor" circula hoje para assinantes e em bancas. A elevação dos preços de algumas das principais matérias-primas e o início de uma nova rodada de reivindicações salariais pressionam os custos de grandes grupos industriais do país. E a falta de mão de obra qualificada é outra fonte de preocupação. A constatação foi feita ontem à noite por empresários e dirigentes de companhias, durante cerimônia de entrega do prêmio Executivo de Valor. A Gerdau, segundo maior fabricante de aço do Brasil, diz que o impacto do aumento do minério de ferro e do carvão "será muito forte". O preço do aço, por sua vez, é uma das grandes preocupações da Fiat porque o insumo tem peso muito importante na composição dos custos da indústria automobilística. "Nossa matéria-prima é o aço, e já existe uma pressão de custo há mais de seis meses", diz Harry Schmelzer Jr., presidente da WEG, que fabrica equipamentos e motores elétricos. Ele disse que a empresa está para anunciar aumento de preços de seus produtos. O grupo Gerdau sente aumento de custos de duas fontes: dissídios salariais e matérias-primas. André Gerdau Johannpeter, presidente da companhia, afirma que a despesa com pessoal tem peso expressivo nos custos da empresa. No caso das matérias-primas, o que mais pressiona são minério de ferro, principalmente, e a sucata. "O impacto do aumento de 100% no minério e de mais 50% no carvão será muito forte e ambos afetam também o custo da sucata", explica Gerdau. O presidente da montadora de veículos Fiat no Brasil, Cledorvini Belini, lembra os recentes anúncios de reajustes nos preços do minério de ferro e do aço. "Mas as negociações com o setor siderúrgico ainda não começaram", observou. Belini explica que o aço tem um peso grande na composição dos custos da indústria automobilística e que os preços no Brasil têm sido historicamente mais altos que a média internacional. Walter Schalka, presidente da Votorantim Cimentos, diz que a alta dos preços das matérias-primas já é sentida, mas "por enquanto a companhia está conseguindo absorver esse aumento com elevação do volume de produção." Este cenário, porém, não deve se manter por muito tempo, afirmou o executivo. Antonio Maciel Neto, presidente da Suzano Papel e Celulose, diz que o setor sofre com a alta do petróleo, que atinge diretamente os fretes internacionais. Outro produto com o preço em recuperação é a soda cáustica, muito utilizada pelo segmento de papel e celulose. " O movimento de aumento de preços de matérias-primas, como o minério de ferro e as resinas, é resultado, principalmente, do crescimento dos mercados emergentes", explica José Drummond Jr. , presidente da Whirlpool para a América Latina, maior fabricante de produtos de linha branca (geladeiras e fogões) do país. "Nós já começamos a sentir esse impacto. Por isso o compromisso com a disciplina de custos continua firme, para que esses aumentos não diluam nossa competitividade." O diretor-geral do Hospital Israelita Albert Einstein, Henrique Sutton de Sousa Neves, conta que a valorização do real reduziu nos últimos anos os gastos com importações de equipamentos e materiais. "Atualmente, as pressões são, principalmente, nos fornecedores de produtos nacionais, sem reajustes há mais tempo, na área de construção civil e em produtos novos com diferenciais em relação aos substituídos." Segundo ele, em função da queda da taxa de desemprego, há também aumento de custos de pessoal em algumas categorias profissionais. Laércio Cosentino, da Totvs, empresa da área de tecnologia da informação, diz que "a grande pressão de custos vem dos dissídios coletivos". O executivo diz que neste ano "haverá uma reposição salarial acima da inflação, o que contribuirá para aumento do custo de desenvolvimento de TI [tecnologia da informação]." O aumento de custos também atinge a área de seguros. Antonio Cássio dos Santos, presidente da Mapfre , diz que a seguradora detecta pressões nos segmentos de transportes, crédito interno e de automóveis. "Desde que foi desencadeada a crise econômica internacional, foi verificado um aumento anormal no roubo de cargas", disse ele. Bernardo Gradin, presidente da Braskem, maior petroquímica das Américas, observa que a companhia tem sido pressionada pelo aumento dos preços das matérias-primas, sobretudo nafta, por conta do aumento do petróleo. A Braskem não tem sentido dificuldades para a contratação de mão de obra, mas o assunto preocupa, segundo o empresário. O presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, afirmou que o banco já está encontrando dificuldades para contratar gerentes para trabalhar nas agências que estão sendo abertas. Os principais executivos da Cosan, da Cargill e da Brasil Foods observam que há alguns insumos cujos preços estão subindo, mas não é algo generalizado. A Cosan identifica aumento nos preços dos fertilizantes usados nas lavouras de cana-de-açúcar. Marcos Lutz, presidente-executivo da Cosan, afirma, porém, que os custos da empresa vão depender mais das condições climáticas que podem interferir na produtividade das lavouras. Para José Antônio Fay, diretor-presidente da Brasil Foods, alguns insumos já tiveram reajustes nos preços. "As cotações do fosfato e algumas vitaminas estão subindo e isso interfere nos nossos custos internos. Nos custos de exportação, estamos identificando aumento no preços do frete marítimo, que está muito mais caro", diz Fay. A Cargill também identificou alguns reajustes, mas nada que mereça ser destacado. "Essa não é uma tendência generalizada", diz Marcelo Martins, presidente da Cargill no Brasil. Em relação à à mão de obra qualificada, Cargill, Cosan e Brasil Foods consideram que está mais difícil de encontrar funcionários. "Nós formamos muita mão de obra e acabamos perdendo para o mercado. Percebemos que falta especialização", afirma Lutz. "Nós temos 67 fábricas e sempre existem vagas, mas nem sempre em lugares que as pessoas querem. Mesmo assim temos dificuldades para encontrar mão de obra especializada", explica Fay. "A oferta de mão de obra não está conseguindo acompanhar a demanda por profissionais", diz Martins. |
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