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quinta-feira, abril 01, 2010
ELEIÇÕES 2010 [In:] SEM NÍVEL, FICA DIFÍCIL !!! (III)
DILMA PREGA CONTINUÍSMO E SERRA DIZ QUE PAÍS 'PODE MAIS'
NA DESPEDIDA, SERRA AFIRMA QUE BRASIL "PODE MAIS" E DILMA PREGA CONTINUIDADE |
Autor(es): Julia Duailibi, Silvia Amorim |
O Estado de S. Paulo - 01/04/2010 |
O governador José Serra (PSDB) e a ministra Dilma Rousseff (PT) anunciaram ontem a saída dos cargos para se dedicarem às pré-candidaturas à Presidência da República. No discurso de despedida, Serra buscou marcar diferenças em relação ao governo federal, mas evitou críticas diretas ao presidente Lula. Procurou se apresentar como alguém capaz de aperfeiçoar as conquistas do governo atual. "O Brasil pode mais", disse ele. ... Dilma, por sua vez, reforçou sua ligação com Lula, pregando continuidade: "Sabemos que aqueles que lamentam, os viúvos do Brasil que crescia pouco, da estagnação, fingem ignorar que a mudança é substancial". Além de Dilma, outros nove ministros na prática se afastaram ontem. Nos Estados, pelos menos dez governadores também deixaram suas funções. Filiado ao PMDB, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, decidiu adiar sua decisão. Ele sonha com a vaga de vice na chapa de Dilma e avalia se deve sair do BC.
"Aqui não se cultivam roubalheiras", diz tucano No discurso de saída, Serra coloca em prática a estratégia de sugerir que os adversários flertam com a falta de ética O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), despediu-se ontem do cargo, apresentando os dois principais eixos de sua campanha à Presidência: a aposta no discurso ético e no avanço das políticas sociais dos últimos anos. Com um discurso afirmativo, Serra falou das realizações de sua administração e marcou as diferenças em relação ao governo federal, estabelecendo o confronto sem críticas diretas a um presidente com índices recordes de popularidade. Para uma plateia de cerca de 2 mil pessoas, no Palácio dos Bandeirantes, o tucano evidenciou que na corrida presidencial não divergirá do PT na questão social, enfatizando que realizou em São Paulo um "governo popular". Por outro lado, sublinhará as diferenças com a atual gestão, pondo em pauta questões éticas. Ao afirmar que o governo tinha "caráter", colocou em prática a estratégia tucana de mostrar ao eleitor que os adversários flertam com a falta de ética. "O governo tem que ter honra. Assim falo porque aqui não se cultivam escândalos, malfeitos ou roubalheiras. Nunca incentivamos o silêncio da cumplicidade ou conivência com o malfeito." Durante o discurso, em que citou Vinicius de Moraes, Guimarães Rosa e Washington Luís, lembrou do lema da bandeira paulista, Pro Brasília Fiant Eximia ("pelo Brasil façam-se as grandes as coisas"), encerrando seu pronunciamento com a frase: "Vamos juntos. O Brasil pode mais." Serra seguiu então para o terraço principal do Palácio dos Bandeirantes, onde fez um novo discurso, desta vez para 3 mil militantes. Destacou a ação de seu governo na área econômica, no enfrentamento da crise mundial e na geração de empregos. "Na crise, agimos com rapidez e geramos apenas em São Paulo quase 1 milhão de empregos diretos e indiretos com nossos investimentos." A mensagem de renúncia do governador será enviada para a Assembleia amanhã, quando assumirá o governo o vice. Alberto Goldman (PSDB). "Este é um governo de caráter. Não se deixou pautar por mesquinharias", disse Serra. "Estou convencido de que as pessoas têm de ter honradez." Bravatas. Em uma breve biografia, o governador disse que nunca se deu a "frivolidades das bravatas". "Na minha vida pública já fui governo e oposição. De um lado ou de outro, nunca me dei às frivolidades das bravatas, nunca investi no quanto pior melhor, nunca exerci a política do ódio. Sempre desejei o êxito administrativo dos adversários no poder, pois isso significa querer o bem do cidadão." O tucano fez questão de afirmar que seu governo é uma gestão popular. Citou vários de seus programas voltados para a baixa renda, como o Leve Leite, o Emprega São Paulo e o salário mínimo paulista. "Este governo, que é um governo popular, se orgulha de redistribuir renda. Essa é a alma do nosso governo. Tivemos sensibilidade para agir e diminuir a desigualdade." Sisudo. Criticado pela falta de carisma e por ser centralizador, Serra se defendeu. "Procuro ser sério, mas não sou sisudo. Realista, mas não sou pessimista. Calmo, mas não omisso. Otimista, mas não leviano. Monitor, mas não centralizador." O governador ainda se contrapôs à gestão econômica do PT na área fiscal. "Austeridade para nós não é mesquinharia econômica, não. Austeridade é cortar desperdícios, reduzir custos, precisamente para se fazer mais com aquilo de que se dispõe." Disse que sua gestão aumentou a receita sem elevar impostos, "apenas combatendo a sonegação". Sem citar números, Serra destacou os principais projetos da sua gestão, com prioridade para os sociais e os de infraestrutura. Falou do programa de metas na área da educação, das obras em saneamento e dos investimentos em ensino técnico. Citou frase de Washington Luís, segundo a qual "governar é abrir estradas". Mas disse: "Governar é saber quais estradas vamos abrir." O tucano frisou a importância do "planejamento", uma das bandeiras da adversária Dilma Rousseff. "O governo tem de fazer isso mesmo. Botar o Estado para funcionar, no lugar de fazer nomeações e cabides de emprego." O governador tentou durante todo seu discurso falar para os paulistas e, segundo ele, para "todo o Brasil". "Olhando para trás e vendo tudo o de que participei, sinto ganhar bastante força para esta etapa seguinte, a etapa que nos espera", disse o pré-candidato do PSDB. Dilma deixa governo com ataque a FHC
Lula engrossa coro e manda recado a José Serra: "Vai ter que botar o pé no barro" João Domingos e Tânia Monteiro BRASÍLIA Transformada em mestre de cerimônias da despedida dos dez ministros que deixaram o governo para se candidatar às eleições de outubro, a pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, voltou a insistir numa eleição plebiscitária.
"Essas pessoas fingem ignorar que as mudanças no Brasil são substanciais porque têm medo", afirmou Dilma, que deixou o ministério ontem. "Não sabem o que oferecer ao povo, que hoje é orgulhoso, tem certeza que sua vida mudou e não aceita mais migalhas, parcelas e projetos inacabados." Segundo a ex-ministra, no governo de Lula o povo não é coadjuvante. "É o centro das nossas atenções." A petista encheu Lula de elogios. Disse que o presidente é o líder mais popular da história do País e que é, entre todos, "o mais brasileiro". Numa demonstração de que dependerá da ajuda de Lula para fazer sua campanha, dirigiu-se ao presidente de forma reverente, chamando-o a todo instante de "senhor". "O governo do senhor é um momento importante, de ápice, de vitória", afirmou a ex-ministra. "Talvez o mais longo momento de vitória de todos esses que lutaram." Ela citou as lutas contra a ditadura, a redemocratização, pelos direitos, igualdade, justiça e liberdade. "A geração que me sucedeu conseguiu realizar seus sonhos, até mais do que imaginou." Dilma estava confiante. Pregou a necessidade de todos reafirmarem a continuidade da obra de Lula e se despediu com um "até breve", esperando voltar dentro de nove meses ao Palácio do Planalto, agora como presidente. Na fala, a ex-ministra da Casa Civil avisou que não faria discurso de improvisos, porque gastaria a metade chorando, enquanto na outra metade se esqueceria do que tinha de falar. Mesmo assim, a pré-candidata petista cometeu seus costumeiros erros. Chamou Fernando Haddad (Educação) de Paulo Haddad (ministro do Planejamento no governo de Itamar Franco) e referiu-se ao Palácio do Itamaraty como Palácio do Planalto. Missão. No discurso em que se despediu dos dez ministros e cumprimentou os novos integrantes da Esplanada, o presidente Lula disse que Dilma era a única entre os ministros que não queria ser candidata ao Palácio do Planalto. Mas acabou tendo de sair do governo para se candidatar a "um cargo talvez até melhor do que a Casa Civil". Evitou referir-se à Presidência, para não ser punido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por campanha antecipada ? ele já foi condenado duas vezes e terá de pagar R$ 15 mil de multas por isso. "Tinhoso". Lula aproveitou o discurso para fazer elogios a todos os ministros que saíram. Baseou-se, para isso, em informações fornecidas pelos próprios ex-ministros, nas reuniões que tiveram nos últimos dias. Fez piadinhas, contou histórias, deu leveza à cerimônia. Ao falar sobre Geddel Vieira Lima (Integração Nacional), lembrou que o ex-ministro lhe fez oposição durante os primeiros quatro anos de governo. E que, apesar de ser "tinhoso, brigão, era um cumpridor de tarefas". Lula lançou ainda um desafio ao governador José Serra, pré-candidato tucano ao Planalto. "Quem quiser me derrotar vai ter que trabalhar mais do que eu. Quem quiser dormir até as 10 (Serra tem fama de dormir até tarde), quem quiser achar que tem que fazer relação com um formador de opinião pública e vai me derrotar, vai ter que botar o pé no barro, vai ter que viajar este País, vai ter que correr", disse Lula. Mídia. O presidente aproveitou ainda o discurso para atacar os meios de comunicação, seu exercício predileto das últimas semanas. Lembrou que recentemente foi a Israel e não visitou o túmulo do criador do sionismo ? Theodor Herzl ? porque o ato não estava previsto nem na agenda dele nem na de Israel. Mesmo assim, segundo Lula, foi criticado pelos jornais brasileiros por não ter ido lá. "E ainda diziam: "O que o Lula está se metendo, o que ele pensa que é? Discutir crise internacional... Se coloca no seu lugar, baixinho". Eu sou baixinho, mas o povo brasileiro não é. O povo brasileiro é muito grande", afirmou o presidente. Lula disse que a ONU criou o Estado de Israel e ela tem de ter força para criar o Estado palestino, e para fazer com que haja a paz entre os dois. "Todo mundo ? judeus e palestinos ? já sabe que precisa dos dois Estados. Agora, aquilo não é um clube de amigos. Ali, é preciso saber o seguinte: a paz só vai acontecer quando os que estão em guerra quiserem." Lula afirmou que é amigo de todo mundo. "Da mesma forma que eu cumprimento o Sarkozy (presidente da França), eu cumprimento o Ahmadinejad (Irã), cumprimento o rei Abdullah (Jordânia). Não tem problema. Um chefe de Estado não escolhe amizades, um chefe de Estado se relaciona com outro chefe de Estado. E discute interesses, não é questão de amizade pessoal." / --- COLABORARAM CÉLIA FROUFE e LEONARDO GOY |
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