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quarta-feira, maio 05, 2010
PF/MÁFIA CHINESA [In:] ... ENTÃO ''DESLIGA'
PF VÊ LIGAÇÃO DE TUMA JR. COM CHEFE DA MÁFIA CHINESA
PF LIGA TUMA JÚNIOR, SECRETÁRIO NACIONAL DE JUSTIÇA, A CHEFE DA MÁFIA CHINESA |
Autor(es): Rodrigo Rangel de Brasília - O Estado de S.Paulo |
O Estado de S. Paulo - 05/05/2010 |
Gravações sugerem que líder mafioso é próximo do secretário da Justiça; ministério nega investigação Telefonemas e e-mails interceptados pela Polícia Federal em investigação sobre contrabando ligam o secretário nacional da Justiça, Romeu Tuma Júnior, a Li Kwok Kwen, o Paulo Li, chefe da máfia chinesa paulista, informa Rodrigo Rangel. Segundo o inquérito, Li tinha livre trânsito na secretaria e ganhava dinheiro intermediando vistos para chineses ilegais. Por outro lado, o secretário, que preside o Conselho Nacional de Combate à Pirataria, aparece como cliente de Li, encomendando celulares e um videogame. Ao ser preso, Li telefonou para Tuma Júnior - que depois ligou para a PF em São Paulo e, em depoimento, declarou ignorar as atividades de Li. Em nota, o Ministério da Justiça afirmou que não há investigação contra Tuma Júnior, mas sim "trechos de conversas do secretário com um alvo da PF".
Paulo Li foi preso com mais 13 pessoas, sob acusação de comandar quadrilha especializada no contrabando de telefones celulares falsificados, procedentes da China. Ao ser preso, Paulo Li telefonou para Tuma Júnior na frente dos agentes federais que cumpriam o mandado. Dias após a prisão, ao saber que seu nome poderia ter aparecido no inquérito, Tuma Júnior ligou para a Superintendência da PF em São Paulo, onde corria a investigação, e pediu para ser ouvido. O depoimento foi tomado num sábado, para evitar exposição. Ele declarou que não sabia de atividades ilegais de Li. O surgimento do nome Tuma Júnior no inquérito seguia em segredo até agora. O esquema, estimou a PF à época, girava R$ 1,2 milhão por mês. Os aparelhos eram vendidos no comércio paralelo de São Paulo e no Nordeste. Denunciado pelo Ministério Público Federal pelos crimes de formação de quadrilha e descaminho, Paulo Li seguia preso até ontem. Além de ocupar um dos postos mais importantes da estrutura do Ministério da Justiça, Tuma Júnior preside, desde o último dia 23 de abril, o Conselho Nacional de Combate à Pirataria. Foi investigando Paulo Li ? a quem a PF se refere nos relatórios como comandante de "uma das maiores organizações criminosas de São Paulo e do Brasil" ? que os policiais descobriram seus laços com Tuma Júnior. Entre os telefonemas gravados com autorização judicial, são frequentes as conversas de Li com o secretário nacional de Justiça. Vistos. Paulo Li, que de acordo com as investigações também ganhava dinheiro intermediando a emissão de vistos permanentes para chineses em situação ilegal no País, tinha livre trânsito na secretaria. Segundo o inquérito, Li conseguia agilizar processos em tramitação no Departamento de Estrangeiros, órgão subordinado diretamente ao secretário. Os telefonemas também revelam Tuma Júnior como cliente assíduo do esquema: sem hesitar, ele fazia encomendas por telefone de aparelhos celulares, computador e até videogame. As gravações mostram Li especialmente interessado nos bastidores da aprovação da lei que deu anistia a estrangeiros em situação irregular no País. Assim que a lei foi sancionada, em julho passado, o chinês logo passou a intermediar a aprovação de processos de anistia. As demandas de Paulo Li eram transmitidas abertamente a Tuma Júnior ? muitas delas, por telefone. Nos contatos, o secretário se mostrava diligente, de acordo com a PF. Num deles, em 1.º de agosto de 2009, ele convida Li para uma conversa em Brasília ou em Ribeirão Preto, onde daria palestra dias depois. "Eu tenho um monte de respostas daqueles negócios. Se você quiser vir...", disse. Tuma afirmou que a conversa com Li tem de ser "pessoalmente". Tuma demonstra ter proximidade com Li, a ponto de convidá-lo para dividir o quarto de hotel caso quisesse encontrá-lo durante seu compromisso oficial em Ribeirão Preto. "Mesmo que você tenha que dormir lá, você dorme comigo no quarto. Não tem problema. E você não paga hospedagem", afirmou. Busca e apreensão. Durante busca e apreensão no escritório de Li, os policiais federais apreenderam cartões de visita, com brasão da República e tudo, em que o chinês se apresentava como "assessor especial" da Secretaria Nacional de Justiça, comandada por Tuma Júnior. Nos contatos com o secretário, Li se mostrava ansioso pela aprovação da anistia. "Está todo mundo esperando a anistia, hein, caramba!", disse, em 29 de maio. "Eu sei, eu vou ver esta semana", respondeu Tuma. Assim que a lei foi aprovada no Congresso, semanas depois, Tuma se encarregou de dar a notícia ao amigo chinês. "Já aprovou, viu?", anunciou. "Ih, caramba! Coisa boa!", festejou Li. "Só que mantiveram a data de 1.º de fevereiro", ressalvou o secretário, referindo-se ao fato de a lei beneficiar imigrantes que ingressaram no Brasil até 1º de fevereiro de 2009. "Agora vai pro presidente, ele vai marcar uma data pra assinar", diz Tuma. O chinês pede: "Me avisa, hein". Tuma não só avisou mas colocou Li, à época já investigado pela PF, ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cerimônia em que a lei foi sancionada, em 2 de julho. Li fez questão de guardar a foto com o presidente. O arquivo foi interceptado pela PF na caixa de e-mails do chinês.
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