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segunda-feira, setembro 20, 2010
FRANÇA [In:] UM CONTO DE ''PHADAS''
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É provável que a primeira-dama da França, Carla Bruni, esteja furiosa com a publicação, esta semana, de A história, Carla: Une Vie Secrète, uma biografia não-autorizada escrita pela jornalista francesa Besma Lahouri. Depois de um ano e meio de pesquisa e mais de 100 entrevistas – nenhuma delas com a própria Carla, que teria negado o pedido –, Besma descreve uma mulher muito diferente da figura discreta e elegante que virou quase um acessório do presidente Nicolas Sarkozy nas reuniões de chefe de Estado. “Selvagem e geniosa”, a ex-top model Carla Bruni retratada no livro é muito mais interessante do que a apagada versão de Jackie Kennedy arquitetada com a ajuda do Palácio do Eliseu e o controle cuidadoso de todas as informações relacionadas a ela.
Na biografia, Carla é uma criança solitária, criada por babás em uma mansão em Turim, na Itália, e uma jovem ousada em seus objetivos. Muitos de seus amigos riram quando ela, então com 15 anos, disse que namoraria o vocalista dos Rolling Stones. Menos de dez anos depois, Carla ligaria para os incrédulos dizendo: “Sabem com quem estou saindo?” Ela também decretou para si mesma que seria famosa. Teria mesmo feito uma cirurgia plástica no nariz aos 16 anos – o que ela nega – para melhorar suas chances no mundo da moda. Como modelo, cantora, namorada de inúmeros homens poderosos – entre eles Kevin Costner, Donald Trump e Eric Clapton – e, agora, primeira-dama, Carla novamente cumpriu sua meta.
Ao relembrar o passado da primeira-dama, Besma, que também escreveu a biografia do ex-jogador de futebol Zinédine Zidane, colocou um obstáculo ao novo objetivo de Carla Bruni de abandonar a imagem de femme fatale que ela mesma gostava de cultivar para assumir a de “mulher tímida”. Em entrevista a ÉPOCA, a jornalista francesa discute quem é a verdadeira Carla Bruni e se ela é capaz de ser uma verdadeira primeira-dama (para ler a íntegra, clique em leia mais, no fim da página, ou aqui).
Por que você decidiu fazer uma biografia de Carla Bruni?
Você está quase sem voz de tanto dar entrevistas para veículos do mundo todo sobre a biografia. Você esperava todo esse interesse?
Quando terminei o livro, um ano atrás, Nicolas Sarkozy era um homem muito poderoso. Eu não sabia quando a obra ia ser lançada e nem como o público iria reagir. Em um ano, a opinião pública sobre o presidente se deteriorou. Não acho que o mesmo tenha acontecido com Carla Bruni. O povo francês não a conhece. Ela costumava falar muito, contar sobre sua vida, mas ninguém havia perguntado sobre ela aos seus amigos, às outras modelos, aos estilistas. De qualquer forma, fiquei surpresa e agradecida pelo interesse. Ela é uma boa história, cria controvérsia.
Por que demorou tanto para que o livro fosse lançado? Você teve que censurar partes da história?
Até que ponto Carla Bruni mudou para se tornar primeira-dama e até que ponto foi obrigada pelos assessores do Palácio do Eliseu a mudar?
Quando você vê Carla Bruni hoje, vê uma mulher muito tímida, com uma voz doce, que quase nunca fala e, quando o faz, fala “meu marido, meu marido, meu marido”. A verdadeira Carla Bruni é selvagem, geniosa. Ela sempre amou intensamente seus homens, mas, em algum ponto, a história tinha que acabar. Perguntei a um famoso fotógrafo que é amigo dela se Carla realmente amava Sarkozy e ele disse que sim, que ela o ama exatamente como amava os dois ex-namorados, o filósofo Raphaël Enthoven e o advogado Arno Klarsfeld. O tempo todo ela é muito intensa e muito honesta, mas sempre dona do seu próprio show.
Conto no livro que o estilista Christian Lacroix diz a Carla que, depois do casamento com Sarkozy, ela tinha tudo o que poderia desejar e pergunta o que ela poderia almejar depois. Ela não respondeu nada, apenas sorriu. Se eu fosse Sarkozy, teria um pouco de medo.
Mas, no livro, você revela que havia uma operação oficial para cuidar da imagem da nova primeira-dama.
Mas, recentemente, Carla Bruni se manifestou contra a condenação da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani ao apedrejamento sob acusação de assassinato e adultério.
Foi sua primeira manifestação e ficamos muito felizes. Mas a reação iraniana foi tão dura que tudo o que ela disse desapareceu e as pessoas ficaram focadas no que os iranianos disseram. Ela está tendo problemas porque, quando ela não fala, as pessoas criticam. E, quando fala, as pessoas também criticam.
Hoje ela não serve para esse papel porque não quer fazer nenhum esforço. Ela tem que entender que está vivendo com um político, e não com Mick Jagger ou Eric Clapton. Está casada com o presidente da França e tem que fazer a diferença. E ela não está acostumada a fazer esforços que não vão lhe trazer benefícios pessoais. Mas, talvez, daqui a dois ou três anos ela possa ocupar perfeitamente o cargo.
Mas imagino que deve ser difícil estar na posição dela, saída do mundo da moda para o da política.
Quando ela se casou, tinha 40 anos e uma vida própria. Agora sua própria vida parece não lhe pertencer mais. Ela está tentando muito. E, no meu livro, digo que Nicolas Sarkozy está se tornando cada vez mais Nicolas Sarkozy-Bruni. Ele tem que se encaixar na vida dela e ela não quer muito se encaixar na vida dele. Estava lendo sobre as férias que eles tiraram na casa da mãe de Carla Bruni e foi engraçado porque três de seus ex-namorados estavam lá com eles. O presidente estava cercado por três homens que foram amantes de sua esposa. É como uma briga: ela é a primeira-dama que vai deixar para trás seu passado ou vai conseguir empurrá-lo para a vida do presidente?
Você vê Carla Bruni como uma “femme fatale”, que pode controlar três ex-namorados e o marido presidente, ou uma “femme fragile”, que precisa de quatro homens para se sentir querida?
Carla Bruni, assim como Sarkozy, não suporta ficar só. Quando a segunda mulher de Sarkozy o deixou, todo mundo tinha que encontrar alguma coisa para fazer com ele. Levá-lo ao restaurante, cantar com ele. Os dois são muito parecidos. No caso de Carla Bruni, ela se achava especial em relação ao irmão e à irmã. Ela era muito calada, foi criada por babás, e não por seus pais.
Mas qual a verdadeira Carla Bruni: carente e insegura ou forte e independente?
É verdade que, ainda na adolescência, ela estabeleceu como “sonho de consumo” o roqueiro Mick Jagger?
Quando tinha 15 anos, Carla disse para os amigos que, um dia, sairia com Mick Jagger. Mas ela tinha 15 anos e todo mundo riu dela. Um dia, em Paris, havia um grande show do Eric Clapton e ela deu um jeito de entrar no camarim. Conheceu Clapton e começou a namorá-lo. E pediu a ele para apresentá-la a Mick Jagger. Quando finalmente ficou com ele, ligou para todos os seus amigos e disse: “Ei, você sabe com quem estou saindo? Mick Jagger.” Vinte anos depois, quando ela estava saindo com o presidente, ela ligou para os amigos e disse: “Vocês sabem quem eu estou namorando?”
Ao que parece, ela é do tipo “kiss and tell” (beija e conta).
Quando ela quis que o povo francês soubesse que estava namorando Sarkozy, ela organizou a ocasião para os paparazzi. Carla quer guardar vários segredos mas também fazer um filme sobre sua vida.
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Um dos segredos que ela quer guardar são as cirurgias plásticas, que ela nega veementemente ter feito.
Não sei por quê! Tantas mulheres fazem e ela era tão livre, falava sobre tantas coisas… Eu escrevi sobre isso porque fotógrafos e editores contaram-me a história de como muito cedo ela decidiu mudar seu nariz. Era muito raro naquela época uma garota de 16 anos fazer uma plástica, mas ela teria feito porque queria ficar mais bonita e ser a melhor. E, então, um jornalista alemão perguntou a Carla se ela já havia feito algo no rosto e ela disse que não, nunca. Não sei por que ela mentiu. Não sei por que ela não disse: “Não é da sua conta” ou “Fiz porque eu queria ser a melhor”. Se ela tivesse dito “Não é da sua conta”, eu nunca teria escrito sobre o assunto. Para mim, o mais fascinante é a forma como ela quer controlar sua própria imagem. Tudo na vida de Carla, da cabeça aos pés, é controlado.
Muitas pessoas a descrevem como uma “devoradora de homens”, que se aproveita deles e os abandona, deixando-os destroçados. Como, então, eles continuam próximos dela?
Não se fica bravo com uma mulher tão poderosa, que agora é mulher do presidente. No meu livro tentei entender por que os ex continuam ao redor de Carla Bruni. Carla, assim como seus ex, são parte do “gauche caviar”, a esquerda, que considera Sarkozy conservador. Mesmo aqueles que costumavam protestar contra Sarkozy agora aceitam convites para passar as férias com o presidente. Por causa do poder, é claro, e porque Carla já ajudou ex-namorado a comprar casa, a voltar para o showbizz. Ela os abandona, quebra seus corações, mas sempre tenta manter uma ligação com eles.
Você concorda com as pessoas que consideram Carla uma mulher oportunista?
Não. Diria que ela muda muito facilmente de convicção. Ela ama homens poderosos e, claro, homens poderosos vão ajudá-la. Quando tinha 24 anos, perguntaram a ela do que ela gostava em um homem e ela respondeu: poder. Mas, para mim, o melhor exemplo de que ela não é oportunista é o fato de ter se casado com Nicolas Sarkozy apenas três meses depois de manifestar ser contrária às suas políticas. Hoje, as posições dele são muito conservadoras com os imigrantes e ela está muito calada. Ela costumava se opor a políticos como Sarkozy mas agora ela se casou com um deles.
Numa entrevista, você disse que a vê mais como esperta que como inteligente. Por quê?
Porque, geralmente, quando uma pessoa é muito culta, não precisa mostrar sua cultura. E Carla Bruni sempre quer mostrar seu saber, sempre quer dizer que livro está lendo, de que autor gosta. Ela gosta de ler, gosta de dizer que gosta de ler, tem uma biblioteca com edições caras em casa. Um dos entrevistados descreveu Carla como esperta como um macaco, sedutora como um gato e fria como uma cobra.
Como você imagina que Carla recebeu a biografia?
Ela pediu ao meu editor para ter uma cópia do livro antes que ele fosse lançado. Como ela pode ser tão escrava de sua própria imagem? Deixe as pessoas lerem sobre você, você não precisa ligar. Não escrevi nenhum insulto. Só quis contar de maneira honesta a história dessa mulher fictícia que é a Carla Bruni atual. Mas ela é prisioneira da própria imagem e não suporta que alguém escreva ou diga alguma coisa que fuja de de seu controle.
Há uma outra biografia de Carla Bruni sendo lançada agora: Carla e os ambiciosos, dos jornalistas Michael Darmon Yves Derai.
Sim, e ela deve estar feliz com ela. Não li o livro, foi lançado esta semana, mas ela deu entrevista aos autores [Carla Bruni se negou a falar com Besma].
Há rumores de que essa biografia faria parte de uma estratégia oficial para conter os danos à imagem da primeira-dama. Isso é verdade?
Sendo honesta, todo dia as pessoas me perguntam isso, mas eu sinceramente não sei. Só fiquei sabendo da existência do outro livro dois meses atrás.
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http://colunas.epoca.globo.com/mulher7por7/2010/09/17/aos-15-anos-carla-bruni-decidiu-que-conquistaria-jagger-e-o-mundo/
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