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quarta-feira, outubro 06, 2010

ELEIÇÕES 2O1O/SEGUNDO TURNO [In:] ''CARAS & BOCAS"

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Dilma, em missa durante a pré-campanha, em maio: candidata tenta desfazer a imagem de que o PT é pró-aborto.

Saem as propostas, entram os tabus

Trazidos para a campanha por líderes religiosos, temas como aborto e legalização do casamento civil gay preocupam os estrategistas de Dilma e de Serra neste 2.º turno

06/10/2010 | 00:20 | André Gonçalves, correspondente

Brasília - Nada de economia, saúde e educação. Os assuntos que quebram a cabeça dos estrategistas de Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) na virada para o segundo turno têm pouco a ver com propostas de gestão para o país. A corrida é para desvendar a influência no eleitorado de temas ético-religiosos como aborto, união civil entre gays e criminalização da homofobia.

O fenômeno passou ao largo das sondagens divulgadas pelos principais institutos de pesquisa até agora, mas é apontado como uma das explicações para a expressiva votação de Marina Silva (PV), que impediu a vitória petista no primeiro turno. Tanto que o primeiro estudo do Datafolha sobre o confronto direto entre Dilma e Serra incluirá questões sobre aborto e tentará aferir o impacto das orientações propagadas por líderes religiosos sobre partidos e políticos.

Na tevê, Dilma irá defender a família e a valorização da vida

A estratégia traçada pelo comando da campanha de Dilma Rousseff (PT) para recuperar os votos perdidos após a polêmica sobre o aborto prevê um discurso de “valorização da vida” por parte da candidata do PT à Presidência.

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Para pastor, PT tem de documentar posição contra o aborto

Pastor da 1.ª Igreja Batista de Curitiba, Paschoal Piragine virou celebridade na internet ao longo das últimas quatro semanas. O pronunciamento feito por ele no dia 29 de agosto contra candidatos e partidos que não se comprometem com questões ético-cristãs, em especial o PT, teve 2,9 milhões de exibições no site YouTube. Ele diz que até aceitaria mudar de posição, desde que Dilma se manifestasse formalmente contra o aborto.

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José Serra: “Não virei cristão de última hora”

São Paulo - Em seu primeiro dia de campanha no segundo turno das eleições presidenciais, o candidato José Serra (PSDB) alfinetou ontem a adversária Dilma Rousseff (PT) ao falar sobre religião. “Não virei cristão de última hora, como não virei nada de última hora. As minhas posições são muito conhecidas. Sempre as explicito de maneira muito clara”, disse Serra. “Não fiquei mudando de uma hora para outra, segundo a conveniência eleitoral.”

Dilma vem sendo alvo de boatos de que supostamente estaria tentando passar uma imagem de pessoa religiosa que não condiz com a verdade – o que teria ocorrido desde que foi escolhida pelo PT para disputar a Presidência.

Teria passado a ir a missas e a reafirmar que sua crença é a católica. Até mesmo o agendamento do batizado do neto, para a última sexta-feira, foi interpretado por alguns como uma estratégia eleitoral para reforçar essa ideia. A petista nega o suposto uso da religião durante a campanha.

Das agências

“São pontos que ganharam relevância principalmente por terem se alastrado com rapidez pela internet, mas ninguém sabe ao certo como e quem atingem”, diz o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília.

Do lado do PT, o plano é desfazer o estrago causado pela aprovação da proposta da descriminalização do aborto como diretriz partidária, em fevereiro, no 4.º Congresso Nacional do partido. O PT pretende agora negar que vá propor a legalização do aborto. No PSDB, o objetivo é evitar que a polêmica respingue em Serra.

Petista e católica, a ministra do Desenvolvimento Social, Márcia Lopes, explica que a campanha de Dilma irá explorar os avanços do governo Lula para combater esses ataques. “Há nos porões um discurso de destruição que é contraditório. Houve algum governo mais cristão que o nosso, que mais distribuiu renda, que mais valorizou a vida?”, questiona ela.

Márcia e o irmão, o chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, estão na linha de frente do diálogo com católicos e evangélicos. Para Márcia, os ataques contra Dilma não representam o que pensa a maioria dos líderes religiosos. “É um discurso pesado demais, teve até gente que me perguntou se a Dilma iria tirar a estátua do Cristo Redentor.”

Eleita senadora no domingo, a paranaense Gleisi Hoffmann (PT) participou da primeira reunião para definir a estratégia de campanha para o segundo turno. “Essa campanha de desconstrução foi orquestrada pelos nossos adversários”, sustenta. Segundo ela, o diagnóstico é que Dilma está sendo vítima dos mesmos ataques que minaram a primeira candidatura presidencial de Lula, em 1989.

Pelo time do PSDB, o deputado federal paranaense Luiz Carlos Hauly afirma que não há influência da cúpula partidária no alastramento das discussões sobre o aborto na internet. “A beleza da democracia é que os candidatos são obrigados a expor a sua conduta familiar, pessoal e quem decide é o eleitor. Se você negar o que fez ou já defendeu no passado, as pessoas percebem.”

Nos últimos quatro anos, Dilma mudou de posição sobre o que pensa sobre o aborto. Em declarações à revista Marie Claire (2009) e ao jornal Folha de S. Paulo (2007), ela disse ser favorável à descriminalização. Ao longo da campanha, no entanto, chegou a defender que essa é uma questão que precisa ser debatida pelo Congresso. Mas voltou atrás e disse que não irá propor a discussão ao Legislativo e que defende a vida.

Quando era ministro da Saúde, Serra também foi criticado por religiosos por ter normatizado, em 1998, a realização de aborto em casos de risco de vida para a grávida e de gravidez após estupro. Ambas as situações são protegidas por lei desde 1940, mas poucos hospitais públicos realizavam as operações.

O tucano também foi alvejado por iniciar um programa de distribuição de pílulas do dia seguinte a partir de 2001 – na época, porém, o medicamento era destinado a vítimas de violência sexual e só passou a ser liberado em massa em 2005, já no governo Lula. Serra, durante esta campanha, não se manifestou sobre essas duas ações.

Homossexuais

A união civil de casais do mesmo sexo e a criminalização do preconceito contra homossexuais também entraram na campanha por meio do discurso de líderes religiosos, que pregam que os fiéis não elejam candidatos a favor dessas duas ideias. Ambas têm projetos de lei no Congresso propostos por petistas.

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http://www.gazetadopovo.com.br/votoconsciente/conteudo.phtml?tl=1&id=1054419&tit=Saem-as-propostas-entram-os-tabus
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