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sexta-feira, outubro 22, 2010

LARANJA/SUCO CONCENTRADO [In:] MERCADO ''ESPREMIDO''

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Indústrias procuram novos mercados para o suco do Brasil



Autor(es): Inaldo Cristoni | Para o Valor, de São Paulo
Valor Econômico - 22/10/2010

Exportações: Campanha prevê ações para vender mais na China, que consome menos de 100 mil toneladas

A indústria brasileira de suco de laranja quer reduzir os efeitos da concorrência de outros tipos de bebidas, que está tirando fatias importantes de seu mercado. O setor viveu seus anos de glória - nas palavras de Christian Lohbauer, presidente da CitrusBR - principalmente entre as décadas de 1980 e 1990, mas desde 2003 se depara com a queda ou estagnação do consumo no exterior.

Segundo Lohbauer, que dirige a entidade criada no ano passado para representar Cutrale, Citrosuco, Citrovita e a LD Commodities, os quatro maiores produtores em operação no Brasil, a demanda por outros tipos de bebidas, como águas aromatizadas, isotônicos, energéticos, refrigerantes ou sucos de outras frutas está em crescimento.

Dependente do mercado internacional, já que exporta 98% de toda a produção, o setor decidiu agir. "Estamos fazendo um trabalho de comunicação institucional no mundo inteiro sobre os benefícios do suco de laranja. Mas, como vendemos uma commodity, e não um produto na prateleira, dependemos dos engarrafadores e varejistas internacionais", explica.

Para essa iniciativa, o setor conta com o apoio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil). O passo seguinte será definir as ações, que devem ser colocadas em prática a partir do próximo ano, para fazer com que os europeus e americanos, principalmente, voltem a tomar o suco de laranja brasileiro na mesma intensidade com que consumiam no passado. Christian vê a possibilidade de realizar um projeto-piloto, talvez na Alemanha, o maior consumidor individual do suco brasileiro.

Segundo o presidente da CitrusBR, trata-se de uma ação de longo prazo. "É muito difícil saber o efeito de uma campanha", assinala Christian, lembrando que os produtores dos Estados Unidos estão gastando US$ 30 milhões por ano em propaganda do suco de laranja e ainda não estão colhendo resultados expressivos.

Outra iniciativa é a busca de novos mercados, considerados ainda incipientes. Entretanto, o processo de prospecção é lento e demanda tempo para que os consumidores adquiram o hábito de tomar suco de laranja. Além disso, nesses países há também a concorrência de outras bebidas. De qualquer forma, a indústria brasileira está de olho na China, por exemplo, que atualmente consome menos de 100 mil toneladas do produto.

De acordo com Maurício Mendes, presidente da empresa de consultoria e informação em agronegócio AgraFNP, o consumo mundial de suco de laranja caiu de 2,7 bilhões de litros na safra 2003/2004 para 2,2 bilhões de litros na safra 2008/2009. A União Europeia adquire 70% da produção brasileira, com destaque para a Alemanha, França, Inglaterra e Espanha. Mas o consumo nesses mercados está estagnado. Já nos Estados Unidos, para onde são destinados 20% dos embarques brasileiros, o cenário é ainda mais crítico porque nos últimos dez anos houve uma queda de 25% na demanda.

Um dos motivos que colaboram para esse quadro é o preço do suco de laranja que, segundo Mendes, chega a ser até quatro vezes maior que o de algumas bebidas. Fatores climáticos, que interferem na safra, têm sido um dos responsáveis pelas oscilações do preço do produto no mercado internacional. No ano passado, por exemplo, houve excesso de oferta da fruta, e os preços do suco caíram para o consumidor final.

Em 2010, porém, o panorama é diferente. Os estoques acumulados da fruta foram desovados aos poucos e como houve queda de 19% na safra 2009/2010 da Flórida, maior produtor de laranja dos EUA, a escassez da fruta contribui para a alta do preço do suco. "Essa década foi de baixa remuneração ao produtor, o que contribuiu para uma diminuição na produção de laranja tanto no Brasil como nos Estados Unidos", afirma Mendes.

Para se ter ideia, o preço spot - que corresponde a aproximadamente 40% da laranja comercializada - girava em torno de R$ 3,50 a caixa no ano passado, enquanto nos contratos de médio e longo prazo, que representam cerca de 30% das vendas, o preço era de R$ 10,00 a caixa, em média. Este ano, o preço pago aos produtores (spot) subiu para R$ 15,00.

O setor enfrenta, ainda, o problema das doenças típicas da citricultura. Uma delas é o greening, que se faz presente nos pomares brasileiros e americanos desde 2004 e que tem grande poder devastação. Como ainda não existe cura, a forma de combate que se conhece hoje é a erradicação da planta contaminada.

Praticamente a totalidade dos pomares da Flórida está infectado pela doença, enquanto 38% dos laranjais de São Paulo - maior produtor nacional da fruta - foram atingidos, diz Christian. Por sinal, o ataque da doença nos Estados Unidos foi determinante para que a indústria brasileira mantivesse praticamente os mesmos volumes de exportação nos últimos anos, apesar da retração do consumo mundial.

De acordo com o presidente da CitrusBR, na última década o volume de embarques evoluiu de 1,2 milhão de toneladas para 1,4 milhão de toneladas. No ano passado, a indústria brasileira destinou 1,3 milhão de toneladas ao exterior, o que representou US$ 1,619 bilhão em negócios. Em volume houve um ligeiro acréscimo de 0,7% em relação a 2008, mas em valores, os embarques caíram 19% em relação ao ano anterior.

Com a recuperação, a expectativa é terminar o exercício de 2010 com volume de exportação muito próximo ao do ano passado. Mas em termos de valores deve superar a marca de US$ 2 bilhões. Mesmo assim, Mendes, da Agro FNP, acha pouco provável que a participação do suco de laranja no ranking das exportações do agronegócio seja superior ao índice de 2,8%, registrado em 2009. Segundo ele, a capacidade de expansão do mercado e das áreas de plantio para soja, carne e álcool é superior.

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