Futuros nomes da área, como Mantega, Miriam Belchior e Tombini, não estavam no desenho original de Dilma
Os três principais nomes que serão anunciados hoje pela presidente eleita, Dilma Rousseff, para sua equipe econômica tiveram grande influência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. São mais ligados a Lula do que a Dilma. Conforme antecipou ontem O GLOBO, a trinca será formada pela gerente do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Miriam Belchior, que assumirá o Ministério do Planejamento; pelo diretor de Normas do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, que irá para a presidência da instituição; e por Guido Mantega, que permanecerá no Ministério da Fazenda. Esse não era o desenho original pensado por Dilma.
Pesaram na decisão da presidente eleita a força do continuísmo e o esforço por um gesto de conciliação na transição. Segundo interlocutores, o nome preferido de Dilma para comandar a Fazenda era o do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, que ficará no cargo e deve ser confirmado hoje. O secretário de Política Econômica, Nelson Barbosa, era pensado para o Planejamento. Os dois são os economistas mais consultados por Dilma.
Hoje, antes de participar de uma audiência pública no Senado, o presidente do BC, Henrique Meirelles, dará entrevista para falar do caso do banco PanAmericano, que quase quebrou devido a fraudes, e confirmará que deixará o cargo no último dia deste ano. Meirelles e Dilma teriam um encontro ainda ontem à noite. Também ontem à noite, Dilma voltou a se encontrar com Lula no Palácio da Alvorada.
Dilma não gostou do fato de Meirelles ter exigido manter a autonomia do BC para permanecer no cargo, como noticiado semana passada. Hoje, Meirelles dirá que considera concluído seu trabalho à frente do BC de manutenção da estabilidade econômica do país.
Dilma quer influir
na Fazenda
A escolha de Tombini foi uma decisão pragmática de Dilma - para evitar solavancos na política econômica -, mas também teve grande influência de Lula. Ainda na semana passada, Lula comentou com parlamentares que Tombini seria o futuro presidente do BC, e que o nome era do agrado do próprio Meirelles.
Apesar das concessões a Lula, Dilma sinalizou que quer comandar pessoalmente o processo decisório da política econômica e influir na troca de cargos importantes da Fazenda, como a Receita. Ela já avisou que deseja uma equipe harmônica. Ou seja, não adotará o modelo de Lula de estimular divergências para construir o consenso.
O nome de Miriam Belchior não era a opção original para o Planejamento. Apesar de ser subordinada a Dilma na Casa Civil, Miriam sempre foi ligada a Lula e ao chefe de Gabinete, Gilberto Carvalho. Nos bastidores, Carvalho defendeu a indicação de Miriam. Quando Lula quis nomeá-la para chefiar a Casa Civil, em março, foi a própria Dilma quem pediu a Lula pela sua então secretária-executiva, Erenice Guerra.
Miriam integra o seleto grupo de auxiliares diretos de confiança máxima de Lula. Ela e Carvalho foram secretários em Santo André (SP), na gestão do então prefeito Celso Daniel, morto em 2002, com quem Miriam foi casada.
Quando Erenice foi demitida em setembro, após o escândalo de tráfico de influência, Miriam foi cotada para assumir a Casa Civil. Mas recusou a proposta para evitar se transformar em alvo na campanha eleitoral.
Para ocupar o lugar de Meirelles, Tombini precisará passar novamente por sabatina no Senado. Há tempo suficiente, pois o Congresso deve funcionar até por volta de 20 de dezembro.
A avaliação entre integrantes da área econômica do governo e da equipe de transição é a de que, ao escolher Tombini, Dilma deu sinais claros de que não mexerá no modelo em vigor, que vincula radicalmente a meta de inflação ao manejo da taxa básica de juros (Selic). A escolha de Tombini, disse um técnico da área econômica do governo, também mostra que Dilma não quer ser taxada de desenvolvimentista - característica que a marcou quando chefiou a Casa Civil.
Ontem, em Ribeirão Preto (SP), Lula disse que a única "herança maldita" que Dilma poderá receber será a da crise econômica mundial, principalmente de Europa e Estados Unidos. Discursando num evento do setor sucroalcooleiro, afirmou que o país cresceu em seu governo:
- Nada melhor para o país, depois dessa experiência bem-sucedida de um metalúrgico (na Presidência), que ter uma mulher, que não vai receber uma herança maldita. Se tiver que receber, será da crise econômica lá de fora, porque aqui dentro estamos crescendo - disse Lula, que voltou a afirmar que não defende a manutenção de ninguém no governo. - Dilma indica quem ela quiser. Não cabe a ex-presidente ficar defendendo quem fica. Ela vai escolher livremente quem quiser.
COLABOROU Adauri Antunes Barbosa
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