A presidente eleita planeja confirmar hoje mais uma lista de figuras que vão compor o seu ministério. Cardozo, na Justiça, além dos peemedebistas Lobão (Minas e Energia) e Wagner Rossi (Agricultura), está confirmado
Está tudo pronto para que a presidente eleita, Dilma Rousseff, anuncie hoje mais um lote de ministros. Entre a madrugada e a tarde de ontem, por exemplo, ela escolheu mais três: José Eduardo Cardozo (PT-SP) para a Justiça; Wagner Rossi (PMDB-SP), para Agricultura, e o senador reeleito Edison Lobão (PMDB-MA), que retorna ao Ministério de Minas e Energia. Os anúncios devem ser feitos por nota oficial, conforme ocorreu com os nomes já oficializados.
A intenção da equipe de transição é a de que ela anuncie hoje o núcleo palaciano e aqueles mais próximos, algo que já está fechado. Dilma raiou a madrugada batendo o martelo sobre o nome do futuro ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. O deputado petista, que não foi candidato a deputado federal para voltar à advocacia, terminou integrando a coordenação da campanha. Ontem, foi convidado oficialmente para o governo, numa reunião na Granja do Torto que terminou depois de 1h da manhã. Lá estava ainda o futuro ministro da Casa Civil, Antonio Palocci. Cardozo saiu da Granja do Torto e viajou para aproveitar a sexta-feira e o fim de semana em consultas a dois ex-ministros da Justiça, Márcio Thomaz Bastos e Tarso Genro, sobre a composição da equipe (leia mais na página 3).
A escolha de Cardozo fecha a configuração dos ministros da cota pessoal da presidente eleita e aqueles mais próximos. Estão nesse rol os futuros ministros da Casa Civil, Antonio Palocci; da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho; o da Fazenda, Guido Mantega; e a doPlanejamento, Miriam Belchior. Carvalho e Palocci ainda não foram anunciados e há ainda Alexandre Padilha, cotado para permanecer no Ministério de Relações Institucionais, nas mesmas funções que exerce hoje no governo Lula.
Na reunião com Dilma, Palocci, Cardozo e ainda o presidente do PT, José Eduardo Dutra, fizeram uma avaliação geral do processo de escolha dos ministros de outras pastas. Citaram inclusive a preferência por Antonio Patriota para Relações Exteriores e a indicação de Paulo Bernardo como nome já fechado para as Comunicações. Bernardo, inclusive, já se reuniu com integrantes do futuro ministério. No seu ofício, passarão pelo seu crivo a escolha do presidente dos Correios, de diretores da Agência Nacional de Telecomunicações e da Telebras. Ele foi uma espécie de interventor na área para ajudar a fortalecer os Correios quando houve a crise que resultou na queda da diretoria este ano.
“Tricô”
Dilma aproveitou ainda para tratar com seus futuros ministros e aliados de primeira hora o espaço do PMDB. E foi justamente para tentar amenizar a situação do partido que ela convidou ontem os ministros da Agricultura e de Minas e Energia. A ideia é não deixar enfraquecer a posição de Michel Temer como negociador. Afinal, Dilma aprendeu a confiar e a admirar o vice e não deseja outro interlocutor no PMDB.
Já ficou definido, por exemplo, que o PMDB terá mais dois ministérios, um para a Câmara e outro para o Senado. No rol estão Cidades e Previdência. “Se Cidades não for oferecido ao PP, nós poderemos discutir, mas não vamos pedir o espaço de um aliado do bloco”, comentou ontem o líder do partido, Henrique Eduardo Alves (RN), numa declaração mais amena do que aquela feita há dois dias. E já há quem diga que é possível dar ao partido uma quinta posição. Ontem mesmo houve reunião entre Palocci e o ex-vice-presidente de Loterias da Caixa Econômica Wellington Moreira Franco, do PMDB, para conversar a respeito (leia detalhes na página 6). Michel Temer, quebrando a tradição, permaneceu em Brasília ontem fechado em negociações sobre o futuro ministério. Enquanto ele conversava com o partido, os governadores do Nordeste se reuniam em Brasília para tentar se fortalecer e, assim, conquistar não só a Integração Nacional como outros espaços importantes para o governo (leia mais na página 4).
Colaborou Ivan Iunes
O time e as cifras
Veja o perfil e o Orçamento à disposição de alguns dos integrantes (uns prováveis, outros certos) do ministério de Dilma
Justiça
José Eduardo Cardozo (PT)
Um dos assessores diretos de Dilma, o deputado pelo PT paulista desistiu da reeleição para se dedicar à campanha. Como participou das negociações para formar a aliança de apoio à petista, tornou-se um dos três nomes principais ao redor da candidata. Foi convidado oficialmente na madrugada de ontem. Na pasta da Justiça, caberá a ele controlar um caixa de R$ 11,017 bilhões.
Minas e Energia
Édison Lobão (PMDB-MA)
Jornalista, advogado e empresário, assumiu o cargo pela primeira vez em janeiro de 2008, depois da longa interinidade de Nelson Hubner. A desconfiança sobre suas capacidades no setor não durou. Montou quase toda a equipe com pessoas que já haviam trabalhado com a ex-ministra Dilma Rousseff e não se desviou um milímetro dos projetos traçados por ela. Caiu nas graças e na simpatia da toda-poderosa do Planalto. É senador desde 1987, com intervalos de 1991 a 1994, quando foi governador do Maranhão. Sempre fiel à família Sarney, garantiu fácil sua recondução ao ministério. Terá a seu dispor um cofre com R$ 5,7 bilhões.
Agricultura
Wagner Rossi (PMDB-SP)
Ex-deputado pelo PMDB paulista, sempre foi próximo a Michel Temer e da bancada ruralista, a qual integrou por cinco anos. Esses dois fatores lhe garantiram a indicação para permanecer no cargo. Rossi chegou ao governo Lula como presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e, em 2008, foi guindado ao ministério, substituindo o deputado Reinhold Stephanes, também do PMDB. A pasta gerenciará R$ 8 bilhões.
Ministério das Comunicações
Paulo Bernardo (PT)
Entre os desafios que o atual ministro do Planejamento terá pela frente na pasta está a questão das concessões de rádio e TV, da implantação do Plano Nacional de Banda Larga e da nova lei de comunicação eletrônica. Bernardo tem grande credibilidade e respeito do presidente Lula, que recorre a ele quando tem problemas a resolver. Terá ao seu dispor um cofre com R$ 4,36 bilhões.
Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior Fernando Pimentel (PT)
Ex-prefeito de Belo Horizonte e candidato derrotado ao Senado, é amigo pessoal da presidente eleita. Conheceu Dilma durante o movimento estudantil e na militância contra a ditadura militar. Na campanha, atuou como colaborador informal. Sua principal tarefa será ajudar a formular a política industrial do governo num cenário de dificuldades no setor exportador por conta da valorização do real frente ao dólar e ao euro. Terá à disposição um Orçamento estimado em R$ 1,76 bilhão.
Defesa
Nelson Jobim
O ministro da Defesa aceitou o convite da presidente eleita para continuar no cargo. O presidente Lula havia manifestado o desejo de que ele permanecesse em razão de sua boa relação com as Forças Armadas. De acordo com um petista, Jobim só aceitou negociar sua permanência com a condição de retirar o setor de aviação civil da competência do Ministério da Defesa. Tem ao seu dispor R$ 60,2 bilhões.
Educação
Fernando Haddad (PT)
Após pressão de Lula pela manutenção de Haddad, a presidente eleita, Dilma, decidiu fazer o convite para sua permanência. Haddad teve a imagem arranhada pelas falhas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Apesar de resistências do PT ao ministro, considerado “pouco político”, a avaliação de Lula, de que ele faz um bom trabalho, falou mais alto. Maneja um dos maiores orçamentos da esplanada: R$ 62,5 bilhões.
Casa Civil
Antonio Palocci (PT)
Provável titular do ministério responsável pela coordenação do governo, Palocci será reabilitado na cena política. Fiador do rumo econômico no primeiro mandato de Lula, o então comandante da Fazenda foi abatido em março de 2006, no rastro do escândalo da quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo. Palocci foi inocentado pelo STF. Entre suas atribuições, fará dobradinha com a Secretaria das Relações Institucionais na articulação política e cuidará da interlocução com governadores e prefeitos. A Casa Civil tem orçamento estimado em torno de R$ 1 bilhão.
Saúde
Sérgio Côrtes (PMDB)
O secretário de Saúde do Rio de Janeiro era nome praticamente certo, mas ficou pendente em função de o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, ter anunciado o nome antes de a bancada do PMDB ser consultada. É responsável pela implantação das Unidades de Pronto-Atendimento 24 Horas, as UPAs, que Dilma esperava ampliar para o resto do país. O titular da pasta terá de manejar um montante de R$ 74 bilhões.
Fazenda
Guido Mantega
Quadro histórico do PT, nasceu em Gênova (Itália) e sempre defendeu uma filosofia econômica voltada ao desenvolvimento, com juros menores. Intitula-se “keynesiano”, corrente que se caracteriza pela percepção de que o mercado não se autorregula e, também, por uma intervenção maior do Estado na economia. Mantido no cargo, que assumiu em março de 2006 após a demissão de Palocci, seus primeiros desafios serão melhorar a gestão das contas públicas, compromisso de Dilma durante a campanha. No cofre da pasta, R$ 19,7 bilhões.
Planejamento
Miriam Belchior
Já confirmada na pasta, deve levar para o novo cargo o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do qual estava à frente como subchefe da Casa Civil. Foi uma das responsáveis pela implantação do programa em 2007 e atuou nos últimos meses na seleção dos projetos do PAC 2. Como integrante da equipe de Dilma na Casa Civil, assumiu uma posição de diálogo nos temas referentes à infraestrutura entre União, estados e municípios. Foi mulher de Celso Daniel, ex-prefeito do PT de Santo André assassinado em 2002. No primeiro mandato de Lula, atuou na integração de programas no Bolsa Família. Sua pasta gerencia um caixa de R$ 16,2 bilhões.
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(*) Parafraseando Drummond de Andrade.
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