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quarta-feira, fevereiro 02, 2011

EGITO/MUBARAK [In:] CHEIRANDO A MOFO DE SARCÓFAGO (II)

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MUBARAK ACEITA SAIR APÓS ELEIÇÃO, MAS PRESSÃO CONTINUA

SOB PRESSÃO DAS RUAS E DE EX-ALIADOS, MUBARAK DIZ QUE NÃO BUSCARÁ REELEIÇÃO


Autor(es): Jamil Chade
O Estado de S. Paulo - 02/02/2011

Pouco depois de ditador anunciar que não se candidatará às eleições de setembro, Obama telefona para ele e diz que transição para a democracia deve começar imediatamente; comandantes do Exército, porém, negociam com oposição o futuro político do país


Pressionado pelas ruas de um país paralisado, o presidente egípcio, Hosni Mubarak, recebeu ontem a recomendação dos EUA para dar um fim ao seu reinado de 30 anos ao mesmo tempo em que perdia o apoio de seu Exército. Em declarações à nação, Mubarak anunciou que não concorrerá a mais um mandato nas eleições marcadas para setembro.

No entanto, ele se recusou a deixar imediatamente o poder, como exige a oposição, e garantiu que "morrerá no Egito", deixando claro que não aceitará ser exilado. "A história me julgará", declarou.

Pouco depois do discurso, o presidente americano, Barack Obama, telefonou para Mubarak e, em meio a uma conversa de meia hora, disse-lhe que a transição "tem de começar agora, com eleições livres, justas e com a participação de todos os partidos" (mais informações na página A11).

O discurso de Mubarak provocou a ira dos manifestantes e dos partidos de oposição, que querem a saída imediata do presidente. "Mubarak insultou o povo egípcio hoje (ontem)", afirmou Mohamed ElBaradei, que ontem iniciou as negociações para a criação de um governo de transição. Ele exige Mubarak fora do país até a sexta-feira.

O dia começou com centenas de milhares de pessoas nas ruas, levando faixas, alto-falantes, rostos pintados e bandeiras, na maior manifestação do país desde o início do regime Mubarak. Era nos bastidores, porém, que os lances mais decisivos ocorreriam. Mubarak foi informado ontem pelo Exército que os militares o queriam fora do poder para acabar de vez com o impasse.

Seria do presidente americano, Barack Obama, porém, a cartada mais decisiva. A Casa Branca enviou ao Cairo o diplomata Frank Wisner para dar um recado claro a Mubarak: Washington não apoiaria mais um mandato para ele. O aliado de 30 anos dos EUA ficou sozinho. Obama exigiu do líder egípcio que informasse à população que ele não continuaria no poder.

O ditador, horas depois, foi à televisão para cumprir a recomendação americana. Atacou, contudo, a oposição por não aceitar o diálogo, acusou rivais de "explorar a juventude inocente" e de promover a violência e os saques no país.

Mubarak indicou que será ele quem deverá conduzir o processo de transição, o que não põe fim ao drama no Cairo. O presidente ainda deixou claro que não aceitará o exílio. "Lutei pela soberania desse país e morrerei aqui", declarou Mubarak, pedindo "dignidade e honra". Após seu discurso, a população que estava na praça central do Cairo não disfarçava a ira, com gritos de "Fora, fora, fora!". Outra decisão da oposição a Mubarak foi manter a greve geral iniciada ontem e paralisar o país e sua economia para forçar o governo a ceder. À noite, o grupo liderado por Baradei ainda negociava o que fazer para que Mubarak entenda que só a renúncia será aceita.

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