A presidente Dilma tirou as negociações para a compra de caças da área exclusiva do Ministério da Defesa, enfraquecendo o ministro Nelson Jobim, e decidiu que Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, participará da escolha. Os americanos F-18 ganharam força frente aos Rafalle franceses, preferidos de Lula.
Entrada de ministro do Desenvolvimento na negociação pode provocar atritos com Ministério da Defesa
A presidente Dilma Rousseff determinou que o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, passe a integrar o núcleo do governo que vai escolher os novos caças para a Força Aérea Brasileira (FAB), optando entre franceses (da Dassault), americanos (da Boeing) ou suecos (da Saab).
Responsável pela política industrial do governo Dilma, que tem a inovação e a tecnologia como prioridades, Pimentel defende que a transferência de tecnologia exigida pelo Brasil na operação seja estendida à indústria aeronáutica civil, não se restringindo meramente à área militar. A entrada de Pimentel pode provocar atritos com o Ministério da Defesa, que vinha coordenando o tema.
Segundo altos funcionários do governo, ao praticamente abortar o que havia sido, de modo informal, acertado entre o ex-presidente Lula e o chefe de Estado francês, Nicolas Sarkozy, Dilma adia um peso a mais nas contas públicas e o impacto no Orçamento, que recebeu ontem corte de R$50 bilhões. Ela pretende adiar para 2012 ou 2013 gastos que comprometam a situação fiscal. O valor dos caças é estimado em US$6 bilhões.
Para Dilma, neste momento, não importa se os vencedores serão franceses, suecos ou americanos. Em temporada de cortes, a presidente está determinada a provocar os competidores a demonstrar que a transferência tecnológica é factível e está respaldada pela legislação de seus países. O único senão para as negociações é a vida útil da atual frota dos Mirage 2000 da FAB, que termina em 2016. Os F-5, que ficam na reserva, devem ser aposentados em 2018 e já não têm a mesma capacidade bélica de anos atrás.
O prazo considerado razoável pela Aeronáutica para a entrega dos novos caças é de quatro anos. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, já manifestou publicamente preocupação com a possibilidade de o país ficar com sua defesa fragilizada. Jobim não só pressiona por uma decisão rápida como manifesta reservadamente apoio ao acordo com os franceses, costurado por ele e pelo ex-presidente Lula.
Se, de um lado, a ampliação do debate para outras esferas do governo já expõe divergências sobre o tema, de outro, abre-se a possibilidade de se negociar algo maior, incluindo acordos de investimentos e na área comercial. No caso dos Estados Unidos, país da Boeing - fabricante do Super Hornet F-18 - as salvaguardas tecnológicas, que já impediram a venda de aviões Tucanos da Embraer para a Venezuela, representam o principal entrave. Fontes do governo são céticas sobre uma proposta tecnológica vantajosa dos EUA, o que dependeria de aprovação pelo Congresso, onde Barack Obama é refém do Partido Republicano.
Autoridades que participaram da reunião entre Dilma e o secretário de Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, revelaram que em nenhum momento a brasileira afirmou que o F-18 seria a melhor opção. Entre os técnicos do setor, fala-se que Obama pode apresentar um novo pacote, que mudaria o rumo das negociações na segunda quinzena de março.
O Ministério do Desenvolvimento afirma que Pimentel não recebeu um sinal formal da presidente de que participaria das conversas. Porém, técnicos admitem que o ministro ganhou força para negociar diretamente com os EUA um amplo acordo, que inclui produção de satélites, investimentos e abertura de mercado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário