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quarta-feira, outubro 05, 2011
Assentados ajudam a destruir a Amazônia
O Globo - 05/10/2011 |
Em 2009, o próprio Incra divulgou um documento mostrando que os
assentamentos de reforma agrária haviam contribuído, no ano anterior,
com 21% do desmatamento na Amazônia Legal. No início deste ano,
documento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e da
Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) reforçou
advertências anteriores de que essa equivocada política de distribuição
de terras é um dos principais entraves para as ações de contenção do
avanço sobre a floresta.
A situação é particularmente crítica no Pará (cujos assentamentos
respondem por 51% do total desmatado) e em Mato Grosso (com 22%, e onde
estão as 11 áreas de reforma agrária incluídas na lista negra do Meio
Ambiente). São bem conhecidas as causas do avanço da destruição na
Amazônia. Esse processo é fruto de uma equação na qual se juntam a
concentração de lotes, decorrente da pressão de madeireiras e
especuladores sobre os donos de áreas distribuídas pelo Incra, pouca
eficiência da política de assentamento do órgão (com ineficazes ações de
planejamento, insuficientes linhas de créditos e carência de apoio
técnico às famílias beneficiadas) e desvirtuamento do princípio da
reforma agrária. As terras, distribuídas a assentados de baixa renda,
quase invariavelmente são desviadas para destinações predatórias contra a
floresta - a pecuária e a agricultura (responsáveis pelo aumento do
número de queimadas, uma das mais agressivas formas de destruição da
mata nativa), e a exploração não racional da madeira.
A discrepante visão de um mesmo problema por órgãos da União - o Meio
Ambiente e o Incra - produziu em 2008 um choque de interesses em
Brasília. Pressões e trocas de acusações de um lado e de outro expuseram
as contradições de um governo em que se digladiam grupos com os mais
diversos interesses, e que produziu um equivocado modelo de
assentamentos. Nele, são visíveis os prejuízos para o meio ambiente, e
não há avanços substanciais no que diz respeito a superar históricas
demandas fundiárias, uma vez que as famílias beneficiadas, cedendo a
pressões econômicas, acabam se desfazendo de seus lotes e voltando à
condição de sem-terra. São inquestionáveis evidências de que é
necessário rever tal política. |
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