Depois da queda do Muro de Berlim, em 1989, o cientista político americano Francis Fukuyama revisitou obras de antigos filósofos, entre eles Hengel, para decretar o "fim da História". Os escombros do Muro simbolizariam a vitória do modelo democrático-liberal e capitalista sobre o dirigismo autoritário — um pleonasmo —, com a hegemonia consolidada de uma superpotência, os Estados Unidos.
Diante de teses imperativas como aquela, aconselha-se alguma cautela intelectual. E, de fato, as dificuldades enfrentadas pelo mundo, depois da explosão da bolha financeira/ imobiliária nos Estados Unidos, em fins de 2008, viriam a justificar os cuidados diante de previsões tão peremptórias, postura reforçada pelo crescimento da China.
O cenário mais provável parece ser o da liderança americana, à frente da China, onde se testa um modelo no qual há a tentativa de conciliar ingredientes que se repelem a médio e longo prazos: enriquecimento da sociedade e ditadura política.
O curioso é que, com a crise deflagrada em 2008/2009, analistas tão afoitos quanto Fukuyama cometeram o mesmo erro do cientista político americano, mas com o sinal trocado: de hegemônico, o capitalismo passou quase a estado terminal.
A ponto de o tema ter sido tratado no Fórum deste ano de Davos, na Suíça. Talvez haja até mesmo um certo modismo em tratar do "fim do capitalismo", mesmo em reuniões fora dos circuitos tradicionais da militância de esquerda.
Tempos de crise grave são sempre confusos, ensina a História. Hoje, há o agravante da agenda ambientalista, assunto de fato sério. Da mistura da crise mundial com a pauta do aquecimento do clima ressurgem teses inspiradas na preocupação com os limites físicos do crescimento, levantada na década de 70, pelo Clube de Roma, um think-tank de intelectuais.
Não é a primeira vez que o capitalismo gera suas próprias contradições e as supera, aperfeiçoando- se. Foi assim que os cenários catastróficos do Clube de Roma terminaram superados pelos avanços tecnológicos estimulados nas economias de livre mercado. Acontecerá mais uma vez.
Enquanto isso, os defensores do capitalismo de estado aproveitam para defender um modelo já testado e reprovado. O Brasil foi um laboratório desses testes. O desfecho é de conhecimento geral: ineficiência generalizada, estatais assentadas em enormes dívidas camufladas, aumento da dívida interna sem controle, inflação, entre outras mazelas.
A China costuma ser citada como um bom exemplo de aplicação deste tipo de modelo. O autoritarismo político rima com o "socialismo de mercado", uma espécie de primo-irmão do capitalismo de estado. Mas a experiência chinesa ainda está em andamento. Aguardemos.
No final de janeiro, a revista inglesa "The Economist" publicou vários textos sobre a nova onda de apoio ao capitalismo de estado. Os números sobre empresas públicas ou semipúblicas impressionam. Mas as limitações do modelo são insuperáveis. Em um dos textos da publicação, é lembrado que Japão e Coreia do Sul se apoiaram nos respectivos estados para começarem a avançar, na década de 50. O mesmo aconteceu com a Alemanha nos anos 70 do século XIX, e inclusive com os EUA, depois da guerra da independência. Em algum momento, todos tiveram de rever o peso do estado na economia.
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