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terça-feira, maio 22, 2012
... A IR POR ÁGUA A BAIXO
Temor de políticos ameaça CPI
O Globo - 22/05/2012 |
Não demorou muito para se dissipar a expectativa positiva de que a CPI do Cachoeira poderia resultar em algum avanço no combate à corrupção. Às críticas à noticiada intenção do governo e partidos alinhados de limitar as investigações sobre a teia montada pelo contraventor goiano nos três poderes, o relator da comissão, deputado Odair Cunha (PT-MG), reagiu com veemência. Em artigo publicado no GLOBO, garantiu que as investigações seriam as necessárias para desvendar as relações (de Cachoeira) "com esferas de governo e seus mandatários, parlamentares, corporações empresariais e funcionários de tais corporações".
A promessa, porém, não será cumprida na primeira fase da CPI, definida na semana passada. As atenções estarão voltadas apenas à atuação do esquema na Região Centro-Oeste. Cachoeira está na relação dos depoentes, mas dela não consta um elo que parece chave no esquema, Fernando Cavendish, dono da Construtora Delta, ligada à máfia de Cachoeira.
Há indícios de que Congresso e Executivo temem um depoimento franco de Cavendish. Afinal, alguém que diz, em conversa gravada, que põe milhões de reais nas mãos de político para conseguir o que quer deve ter sido protagonista de muitas cenas picantes nos bastidores das finanças da baixa política. Também por ter sido a Delta a maior empreiteira do PAC, o empresário frequentou com assiduidade gabinetes brasilienses. Talvez pelo bom relacionamento no poder, o empreiteiro tenha recebido o tratamento VIP de ter sua construtora absorvida pela holding J&S, beneficiária de crédito subsidiado do BNDES, acionista da principal empresa do grupo, o frigorífico JBS. A investigação sobre Cavendish se justifica pela conexão entre ele e Cachoeira, por meio de remessas milionárias para empresas laranjas do contraventor. Nenhum governador consta dos depoimentos desta fase da CPI, nem Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, localizado no Centro-Oeste. Já Sérgio Cabral continua um assunto fora de pauta, pois, até agora, não surgiu qualquer evidência de operações suspeitas da dupla Cachoeira/empreiteiro com o governo fluminense. Por enquanto, o que há são registros da amizade do governador com Cavendish. Se novos fatos surgirem, que se convoque Cabral, assim como precisam ser chamados Perillo e Agnelo Queiroz (PT-DF).
A preocupação com o que pode revelar Fernando Cavendish parece ter arrefecido até mesmo os radicais do PT, interessados em manipular a CPI para constranger a imprensa profissional e dar um troco em "Veja", pelas reportagens sobre corrupção com o envolvimento de militantes graduados da legenda. E como também o PMDB não aceita participar desta aventura, ao lado de Collor, outro interessado, por razões conhecidas, a investir contra a imprensa, a manobra parece se frustrar. Assim como a tentativa de criar embaraços ao procurador-geral Roberto Gurgel, por ser ele quem encaminhará a denúncia contra os mensaleiros no STF.
O fracasso de tentativas de uso espúrio da CPI merece comemoração. Mas, infelizmente, ela pode frustrar quem a considerava chance rara de se mapear a infiltração de um braço do crime organizado no Estado. Os temores parecem tantos que há o risco de um acordão para tratar o escândalo como um caso regional. Será lamentável.
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