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terça-feira, junho 26, 2012
FESTANÇA !
CONSELHO DE ÉTICA PEDE CASSAÇÃO DE DEMÓSTENES
DEMÓSTENES PERDE NO CONSELHO DE ÉTICA |
Autor(es): JOÃO VALADARES |
Correio Braziliense - 26/06/2012 |
Em relatório de 79 páginas, o senador Humberto Costa (PT-PE) acusou o parlamentar goiano de quebra de decoro e recomendou a cassação de Demóstenes Torres (ex-DEM-GO). Os 15 integrantes do Conselho de Ética do Senado presentes à sessão aprovaram o parecer por unanimidade. Humberto acusou Demóstenes de pôr o mandato a serviço do bicheiro Carlinhos Cachoeira e de mentir em plenário quando negou ter qualquer envolvimento com o esquema criminoso do contraventor. Para a defesa de Demóstenes, as escutas que flagraram o parlamentar em conversas com Cachoeira são ilegais. O senador ainda acredita que pode salvar o mandato. Para isso, aposta tudo na votação secreta no plenário.
Por unanimidade, integrantes do colegiado aprovam o relatório que pede a cassação do mandato do senador goiano. Processo segue agora para Comissão de Constituição e Justiça, antes de ir ao plenário
O senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) sofreu, na noite de ontem, a primeira derrota na cruzada empreendida para tentar salvar o mandato. Como já era esperado, os 15 integrantes do Conselho de Ética do Senado aprovaram, por unanimidade, em votação nominal e aberta, o relatório de autoria do senador Humberto Costa (PT-PE), que pede a cassação do parlamentar goiano por quebra do decoro parlamentar. A sessão, que teve início às 18h30, durou cinco horas. Demóstenes, que disse querer ser julgado pelo que fez e não pelo que falou, era o braço político da organização criminosa chefiada pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira, que se encontra preso no Complexo Penitenciário da Papuda. Em 79 páginas bem fundamentadas, recheadas de citações de juristas, filósofos e pensadores diversos, o relator deixou claro que o investigado colocou o mandato a serviço do esquema de jogos ilegais, pagamentos de propina e lavagem de dinheiro.
Agora, o relatório segue para apreciação e votação na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) para que sejam observados os aspectos constitucionais e jurídicos. O prazo para análise é de cinco sessões deliberativas no Senado. Se houver entendimento entre os líderes, todas as sessões podem ocorrer no mesmo dia, antecipando assim a votação secreta no plenário. Em seu voto, o relator disse que não era crível que Demóstenes Torres tenha alegado desconhecer a folha corrida do seu interlocutor (Carlinhos Cachoeira).
No relatório, Humberto Costa fez um resumo de todos os deslizes cometidos por Demóstenes. "Ele admitiu que o contraventor pagava as contas de seu aparelho de rádio-celular Nextel, que nomeou como servidora em seu gabinete parlamentar, a pedido de Cachoeira, uma pessoa com residência fixa em Anápolis, e que intercedeu para que uma pessoa, também a pedido de Cachoeira, fosse nomeada em órgão público estadual em Minas Gerais." Humberto Costa lembrou que "um estafeta de Cachoeira comprou para ele, nos EUA, por encomenda, um som no valor de 27 mil dólares, além de cinco garrafas de vinho francês, que adquiriu por 18 mil dólares uma mesa na Argentina, e que o bicheiro pagou os serviços de queima de fogos da festa de formatura de sua esposa".
O relator afirmou que a alegação de Demóstenes de que "teria jogado verde" ao informar Cachoeira sobre uma operação policial é fantasiosa. "Seria necessário um esforço hercúleo de boa-fé para crer que alguém inteligente e perspicaz como Demóstenes precisasse desse tipo de expediente para confirmar o que era de conhecimento público, sobretudo os que conviviam com Cachoeira."
Loterias
O senador pernambucano citou, no documento, vários trechos de diálogos travados entre Demóstenes e o bicheiro, e, com isso, desmontou todas as justificativas dadas pelo político goiano. "É simplesmente patética a declaração do representado, em um dos diálogos, sobre a aprovação do já discutido projeto de lei que regularizaria as loterias estaduais. "Vou fazer o que você quer". Nos diálogos, há expressões equivalentes a essa. Evidenciam uma humilhante subalternidade de um senador da República aos interesses de Carlos Augusto de Almeida Ramos."
O parecer atesta que a ligação entre o bicheiro e o senador goiano engloba doações não declaradas de campanha e repasse de verbas do contraventor diretamente para Demóstenes. "Não deixa qualquer dúvida de que a pessoa referida no trato dos R$ 20 mil é o senador Demóstenes. O fato central é que houve uma transação entre Gleyb (membro da quadrilha) e Cachoeira que envolvia Demóstenes."
A defesa de Demóstenes Torres insistiu na mesma tecla. Durante os 30 primeiros minutos da sessão, alegou que as provas são ilegais e que o senador foi investigado de forma irregular, uma vez que tem foro privilegiado.
Os próximos passos
O relatório será encaminhado hoje à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) para que sejam verificados os aspectos constitucionais e jurídicos.
O prazo de análise é de cinco sessões deliberativas no plenário do Senado. Isso não significa que sejam necessários cinco dias para a aprovação. Se houver acordo de líderes, todas as sessões podem ser realizadas no mesmo dia.
Após tramitação na CCJ, o relatório segue para votação em plenário. Ao contrário do Conselho de Ética, a votação será secreta.
Um bloco de senadores defende que a votação seja realizada já na próxima semana. O recesso parlamentar tem início em 17 de julho.
Três depoimentos na CPI do Cachoeira
A CPI que investiga as relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com servidores públicos e empresários vai ouvir hoje Luiz Fiúza Gouthier, ex-assessor do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB-GO); Écio Antônio Ribeiro, suspeito de ser um laranja do esquema do contraventor; e Alexandre Milhomen, arquiteto que teria reformado a casa vendida por Perillo. Os depoimentos terão início às 10h15. Amanhã, a comissão tomará os depoimentos de Jayme Rincón, tesoureiro da campanha de Perillo; Eliane Gonçalves Pinheiro, ex-chefe de gabinete do governador; e o jornalista Luiz Carlos Bordoni, que disse ter recebido recursos de empresas fantasmas na campanha de Perillo, em 2010. |
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