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quarta-feira, julho 11, 2012

ILAÇÕES 2014



As eleições municipais e 2014

O Globo - 11/07/2012
 

Situadas no calendário eleitoral no meio dos mandatos do presidente e dos governadores, as eleições municipais nem sempre funcionam como barômetro de tendências para dois anos após. Pois a política local costuma seguir roteiros próprios, fora dos mapas usados nas campanhas para o Planalto, governos estaduais, Congresso e assembleias legislativas.
Inimigos municipais podem ser aliados federais, e vice-versa, num país em que partidos ainda não são sólidos, até pela falta de uma cláusula de barreira efetiva. O início da campanha para o pleito municipal deste ano, porém, tem estimulado análises sobre a possível composição de forças em 2014, no próprio campo do grupo político no poder desde 2003, o condomínio do PT e aliados. As próximas eleições municipais serão as primeiras, desde 2005, em que o grande fator de aglutinação no grupo liderado pelo PT, Lula, não estará no Planalto. A presidente Dilma não se cansa de reverenciar o patrono, mas são conhecidas as lamúrias de políticos da base saudosos de quando transitavam com total desenvoltura em Palácio. No mínimo a coreografia do jogo político com Dilma é outra, mais contida.
Animais de alta sensibilidade, os políticos são treinados em sondar o futuro. E quando, por exemplo, existe uma conjuntura econômica preocupante como a atual, o faro para detectar perspectivas de poder à frente tende a ficar ainda mais apurado.
É visível como o bailado na aliança que sustentou Lula e dá suporte a Dilma não é tão harmônico como nos tempos da cidadela do poder inexpugnável. Os passos mais desencontrados têm sido da dupla PT-PSB, da qual já não se espera um pas de deux sequer apresentável. Se a desarmonia é prenúncio de divórcio em 2014, não se sabe. Mas a crise na relação é aberta. Em entrevista à "Folha de S.Paulo", publicada domingo, o presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, governador de Pernambuco, diz que o PT cria mais problema para Dilma que o partido dele. Faz sentido. Não escapa aos observadores a ameaça da CUT - braço sindical petista - de insuflar greves de servidores federais, em luta por mais salários num momento de crise, em que manter a responsabilidade fiscal é condição básica para se enfrentar as turbulências. É como se no Planalto estivesse a oposição.
O governador não esconde a irritação com o estilo do PT nacional (leia-se, paulista) de intervir em arranjos regionais. Fez assim no Recife, ao anular uma prévia, cassar o vitorioso (o prefeito João da Costa), afastar a opção de aliança de Eduardo Campos (Maurício Rands) e impor o senador Humberto Costa; em Belo Horizonte, outra tratoragem: rompimento com o prefeito, do PSB, Márcio Lacerda, também apoiado pelos tucanos, e lançamento de candidato próprio (Patrus Ananias). Em Fortaleza, o governador, do PSB, Cid Gomes discordou do nome do candidato lançado pela prefeita petista, em mais um conflito. No entendimento de Eduardo Campos, o PT, mais uma vez, não controla o ímpeto de buscar a hegemonia - uma faceta de correntes políticas vindas de certas frações da esquerda.
Na entrevista, o governador cerra fileiras com Dilma para 2014 - previsível. E lembra de um aspecto-chave: o início de novo "ciclo geracional" em 2014 - quando ele terá 49 anos, Aécio, 54, e Lula, 69. Campos não aceita que a normal troca de guarda entre gerações seja interrompida "em nome de projeto pessoal". O calendário político de 2012 ganha peso.

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