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24/09/2012 - 06h00
Sem manutenção, avião antitráfico não voa desde janeiro
MARIO CESAR CARVALHO
DE SÃO PAULO
Uma das estrelas da campanha da presidente Dilma Rousseff (PT), em 2010, o avião não tripulado que seria a principal arma para combater o tráfico de drogas nas fronteiras não voa desde janeiro deste ano por falta de contrato de manutenção.
Uma cláusula da compra do sistema, feito junto à empresa israelense IAI (Israel Aerospace Industries), impede a aeronave de voar sem o contrato de manutenção.
A manutenção não é só para eventuais reparos do avião em caso de acidente. Ela inclui a checagem do equipamento, altamente sofisticado, antes de toda decolagem.
Os Vants (veículos aéreos não tripulado) são aeronaves controladas remotamente, a partir de uma base em terra. A versão comprada pela PF é capaz de fotografar o rosto de um traficante a 9.000 metros de altitude, segundo a empresa israelense.
O sistema completo consumiu cerca de R$ 80 milhões, de acordo com a PF. Inclui uma estação terrestre, equipamentos ópticos que registram e transmitem imagens para uma base terrestre e um segundo Vant que ainda não chegou ao Brasil.
No primeiro ano do governo Dilma, a PF anunciou que o projeto inteiro estava orçado em R$ 655 milhões. O pacote incluía 14 Vants e quatro estações terrestres: no Paraná, em Brasília, em Rondônia e no Estado do Amazonas.
O conjunto seria suficiente para patrulhar os 15.791 quilômetros da fronteira terrestre brasileira, de acordo com o projeto original.
Uma única estação saiu do papel, em São Miguel do Iguaçu (PR), ao lado de Foz de Iguaçu, na tríplice fronteira. Foi inaugurada em novembro de 2011, pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso. Desde então, o projeto já sofreu com falta de combustível e até de uma carreta para transportar o Vant.
O avião voou 400 horas e identificou cerca de 1.200 alvos críticos, como portos e barcos clandestinos. Parou no fim do ano passado porque acabaram as horas de treinamento que a empresa israelense incluiu na venda. Daí a necessidade do contrato de manutenção.
A PF diz que não pode informar sobre o futuro cronograma do projeto por se tratar de "informação reservada". O contrato de manutenção ainda não foi finalizado, segundo a polícia, porque está em fase de "discussão técnica". A instituição considera "normal" o prazo da administração pública.
A manutenção será feita por uma empresa brasileira, que receberá treinamento do fabricante israelense.
A Folha apurou que a PF teme os termos do contrato depois que o Tribunal de Contas da União (TCU) considerou desproporcional o custo do treinamento dos 13 pilotos que estavam previstos no projeto original: R$ 24,3 milhões, ou R$ 1,9 milhão por piloto. O treinamento consumiu 31% do custo total do projeto.
O preço supera o valor gasto pela Força Aérea Brasileira (FAB) para treinar seus pilotos de Vants. Defensores do projeto da PF dizem que o Vant da instituição é mais complexo que o da FAB.
O custo ficou alto, segundo essa visão, porque o treinamento levou em conta que o projeto seria implantado integralmente, com 14 aviões e quatro bases terrestres. Se isso tivesse ocorrido, o treinamento corresponderia a 3,8% dos R$ 655 milhões previstos.
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