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quarta-feira, fevereiro 20, 2013

EUTANÁSIA. MEDICINA E ÉTICA NO TRABALHO

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Médica de UTI é presa por suspeita de ajudar pacientes terminais a morrer

Investigada há um ano, Virgínia Soares de Souza trabalha no Hospital Evangélico, em Curitiba (PR), e polícia analisa prontuário de 18 pacientes mortos no período

20 de fevereiro de 2013 | 2h 03

Julio Cesar Lima - Especial para o Estado
Atualizada às 9h06


CURITIBA - A médica Virgínia Soares de Souza, que trabalha na UTI do Hospital Evangélico, em Curitiba (PR), foi presa na manhã de terça-feira, 19, durante operação do Núcleo de Repressão aos Crimes Contra a Saúde (Nucrisa), da Polícia Civil. 

Ela é suspeita, segundo fontes ligadas à polícia, de ter praticado eutanásia (indução à morte de pacientes com consentimento, mas que é crime no Brasil) e vinha sendo investigada havia um ano, juntamente com outros profissionais. Pelo menos 18 casos estão sob investigação.

Logo após seu depoimento, a médica foi levada ao Centro de Triagem na capital. Cerca de 20 pessoas que atuam ou trabalharam na UTI estão sendo ouvidas. 

A Polícia Civil não revelou quantos casos de eutanásia teriam sido praticados pela médica, pois a investigação corre sob sigilo de Justiça. Mas, além da prisão da profissional de saúde, a polícia levou 18 prontuários de pacientes que estiveram na UTI nos últimos meses e se colocou à disposição de pessoas que perderam familiares na UTI e queiram prestar algum tipo de queixa.

A delegada Paula Brisola concederia uma entrevista coletiva no final da tarde. Mas, 30 minutos depois do horário previsto, a Secretaria de Segurança Pública informou que somente o secretário Cid Vasquez falaria sobre as investigações, hoje. Antes, a delegada havia dito a uma emissora de TV que não poderia dar detalhes da operação. "Uma palavra mal interpretada pode provocar algum transtorno. É um processo que está em andamento e não há como passar algo."

O advogado de defesa de Virgínia, Elias Mattar Assad, falou que sua cliente trabalha desde 1988 no hospital e não há sentido em sua prisão. 

"Não há nada que desabone o trabalho dela. Pode ter ocorrido um erro de interpretação em alguns termos por meio de pessoas não familiarizadas com a linguagem de uma UTI", disse. "Ela sempre agiu preservando vidas dentro da ética médica e dos critérios nacionais de terapia intensiva, com criteriosas discussões dos casos com médicos assistentes e famílias dos pacientes".

Segundo o secretário estadual de Saúde, Michele Caputo Neto, "o Estado terá participação na comissão de sindicância que vai investigar as mortes na UTI".

Em nota, o Hospital Evangélico informou que abrirá sindicância interna. Também declarou que, por se tratar de processo que corre sob segredo de Justiça, não teria "conhecimento adequado dos fatos para emitir qualquer juízo". Sobre Virgínia, disse reconhecer a "competência profissional" e afirma que "até o momento desconhece qualquer ato técnico da mesma que tenha ferido a ética médica."

Outros problemas. Uma morte ocorrida na UTI do Evangélico em agosto passado chamou a atenção da imprensa na época. A qual a direção do hospital admitiu o erro de uma enfermeira, que desligou a máquina que mantinha vivo um paciente. 

O paciente, João Carlos Rodrigues, de 33 anos, sofria de uma rara doença neuromuscular degenerativa e estava internado ali havia quatro anos e quatro meses. Rodrigues escreveu um livro, Caçador de Lembranças, no qual relata desde os sintomas da doença até a internação. Ao saber da morte do filho, a mãe de Rodrigues teve um infarto fulminante e também morreu.

Além da morte de Rodrigues, outra atribulação pela qual o Hospital Evangélico foi a acusação de ter dívidas de até R$ 260 milhões. A unidade também foi obrigada a devolver R$ 3,1 milhões ao Ministério do Esporte por conta de recursos recebidos para treinamento de médicos para a Copa do Mundo, o que não ocorreu. Neste mês, o hospital enfrentou greve de médicos.

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