De olho na reeleição, Dilma acelera as alianças locais
Presidente tem corrido para definir a reforma na Esplanada dos Ministérios e amarrar, assim, prováveis aliados. Cenários estaduais deverão ter peso decisivo no pleito de 2014.
Hora das alianças estaduais
Cenários locais terão um peso decisivo no momento de os presidenciáveis fecharem os arranjos políticos nacionais de 2014»
PAULO DE TARSO LYRA
A divulgação das primeiras pesquisas de intenção de voto das eleições de 2014 dará um novo combustível para a corrida dos presidenciáveis em busca de apoios de aliados na disputa pelo Planalto no ano que vem. Apesar dos números iniciais apresentarem uma ampla vantagem da presidente Dilma Rousseff, as negociações com os partidos não devem ser tão simples assim.
Até o momento, as realidades locais ainda têm falado mais alto em comparação com as combinações nacionais.
Dona da caneta, Dilma tem corrido para acertar o novo desenho da Esplanada e amarrar prováveis aliados. Definiu o Ministério da Agricultura para o PMDB mineiro e quer trazer ainda o PR e o PSD para seu lado. As novas conversas estão marcadas para depois da Páscoa. O partido do senador Alfredo Nascimento (PR-AM) quer retomar o controle do Ministério dos Transportes, mas não seria improvável se acabasse sobrando para os republicanos o Turismo, com o deslocamento de Gastão Vieira para a Ciência e Tecnologia.
Nascimento é categórico ao afirmar que, se a legenda voltar ao governo, fará uma aliança com Dilma de ponta a ponta no país.
"Não faz sentido termos um cargo no governo e não estarmos com a presidente nos palanques estaduais", disse ele ao Correio. O Planalto acha que pode fazer o mesmo com o PSD. "Depois da Semana Santa, vamos insistir em oferecer o Ministério da Micro e Pequena Empresa para Afif (Guilherme Afif Domingos, atual vice-governador de São Paulo). Com um ministério e uma presidente com 70% da aprovação, vamos ver se eles continuam a negar uma união formal conosco", declarou um aliado da presidente.
O PSD, contudo, segue fazendo charme. Seus dirigentes, como o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, juram que a legenda apoiará Dilma. Mas os dois governadores da legenda apontam para outro rumo. Raimundo Colombo, de Santa Catarina, influenciado pelo ex-senador Jorge Bornhausen, está totalmente aberto a conversar com Eduardo Campos (PSB). "Bornhausen sempre vai querer afastar seu partido do PT. Mas os dirigentes do PSD juram que ele não tem voz ativa", espera o secretário de organização do PT, Paulo Frateschi.
Recomposição
No Amazonas, Omar Aziz não poderá concorrer a mais um mandato, mas é a principal voz do PSD no estado e foi isolado — pelo menos por enquanto — por um acordo envolvendo justamente Alfredo Nascimento e o atual líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM). "A recomposição está difícil, mas vamos lutar para ter o PSD ao lado de Dilma no Amazonas", assegurou um integrante da burocracia partidária.
Em outro casos, nem sequer a presença em um ministério com orçamento robusto, como é o caso de Cidades, garante alianças estaduais para Dilma. Na maioria dos locais onde o PP deve lançar candidatos a governador, o palanque deve estar aberto para o PSDB de Aécio Neves. Em todos eles, os pepistas são inimigos diretos do PT. Isso ocorre no Rio Grande do Sul com a senadora Ana Amélia; no Paraná, onde o partido está umbilicalmente ligado ao governador tucano Beto Richa; em Minas, já que o PP tem o vice-governador do tucano Antonio Anastasia. E em Alagoas, eles ajudaram a reeleger Teotônio Vilela Filho para o comando estadual.
"O PP não vai obrigar ninguém a nada. Nossa tradição sempre foi deixar os diretórios estaduais livres para escolher seus caminhos", afirmou o vice-presidente do PP, Ricardo Barros (PR).
Escolhas
Até mesmo dentro da própria legenda corre-se o risco de estar dormindo com o inimigo. O PSB do Paraná, por exemplo, embora não tenha candidato próprio ao governo em 2014, está inserido na administração de Beto Richa (PSDB) e, com isso, deve subir no palanque de Aécio. Em Minas, a situação se assemelha com o atual prefeito, Márcio Lacerda, aliado de primeira hora de Aécio Neves, mas filiado ao PSB de Eduardo Campos. Até o momento, ele garante que o partido não tomou uma decisão. "Estou concentrado no trabalho na prefeitura. Lançamos algumas sementes de trabalho que precisam ser bem conduzidas", disse Lacerda ao Correio.
Tradicional aliado do PSDB desde 1994, quando Fernando Henrique Cardoso escolheu Marco Maciel como vice provocando estupefação em parte do próprio partido — exceção feita em 2002, quando o candidato a vice de José Serra foi a peemedebista Rita Camata (ES) — o DEM sinaliza que em 2014 não será um parceiro tão fácil. "O PSD nos quebrou, levando parlamentares e tempo de televisão.
Precisamos garantir a nossa sobrevivência", admitiu o líder do DEM na Câmara, Ronaldo Caiado (GO). "Se para a realidade local for necessário abrir palanque para Eduardo Campos, tudo bem. Se o melhor for apoiar Aécio, ótimo. É improvável, mas se houver algum estado em que estejamos próximos do PT, precisaremos pensar", brincou ele. Presidente do PSDB até maio, o deputado Sérgio Guerra (PE) admite que o cenário está em aberto. "PR, PDT, PTB, PP e PPS. Todas essas legendas estão abertas às conversas. Vamos conversar", completou ele.
Articulações
Confira a situação dos partidos pelos estados
PTB Roberto Jefferson conversa com Eduardo Campos, o partido em São Paulo é próximo do PSDB e o senador Gim Argello (DF) quer a legenda ao lado de Dilma Rousseff.
PDT A legenda recuperou o Ministério do Trabalho, mas o presidente Carlos Lupi admitiu ao Correio que está livre para conversar com todos os presidenciáveis.
PP O partido tem o Ministério das Cidades, mas nos principais locais em que deve lançar candidatos ao governo estadual — Rio Grande do Sul, Alagoas e Minas Gerais — o palanque presidencial deve ser para Aécio Neves.
PMDB Dilma conseguiu resolver o problema com o PMDB mineiro ao dar o Ministério da Agricultura para Antônio Andrade. Mas enfrenta problemas no Rio Grande do Sul, Bahia, Mato Grosso do Sul e Pernambuco.
PSD Dilma quer o partido na Esplanada, Gilberto Kassab promete apoio à reeleição da presidente, mas os dois governadores do partido simpatizam com Eduardo Campos.
PPS O presidente Roberto Freire quer uma fusão com o PMN, conversa escondido com Eduardo Campos e aparece em eventos do PSDB ao lado de Aécio Neves.
PSB O partido apoia Eduardo Campos, mas poderá enfrentar dificuldades para se posicionar no Paraná e em Minas Gerais, por sua ligação forte com o PSDB.
PR Se receber de volta o Ministério dos Transportes, embarca na nau dilmista de olhos fechados.
Longo caminho 559 dias
Tempo que falta até o primeiro turno das eleições presidenciais, marcado para 5 de outubro de 2014.
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