Sem reação, Dilma reúne ministros
A presidente Dilma Rousseff passou a quinta-feira no Palácio do Planalto, cancelou os compromissos fora de Brasília para acompanhar da capital federal as movimentações em todo o país e, à noite, ordenou que nenhum ministro deixasse a capital federal.
Em reunião com assessores, ela avaliava a possibilidade de fazer um pronunciamento oficial em cadeia nacional de rádio e televisão — a Secretaria de Imprensa da Presidência (SIP), entretanto, negou que ela tenha discutido essa hipótese.
Hoje, Dilma iria para Salvador, onde lançaria o Plano Safra — Semiárido, ao lado de governadores do Nordeste.
No domingo, embarcaria para Tóquio, onde passaria a semana em visita de Estado, e só retornaria entre os dias 29 e 30. Mas os protestos, que ontem foram os mais violentos das últimas duas semanas, acenderam o sinal vermelho.
A agenda oficial desta sexta-feira começa às 9h30, em reunião com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e outros titulares de pastas da Esplanada, como Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral, e Gleisi Hoffmann, da Casa Civil.
O problema, entretanto, é que nem o próprio governo sabe bem o que está ocorrendo nas ruas. Além da preocupação com os rumos do país, Dilma e o PT estão temerosos com as implicações eleitorais dos eventos recentes. Tanto que ela tem mantido contato permanente com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o marqueteiro João Santana, com quem se reuniu na terça-feira para pedir conselhos e traçar estratégias.
Petistas avaliam que cancelar as viagens é o movimento mais sensato a ser feito pela presidente agora. "Tem um movimento acontecendo no Brasil. Se ela fosse para Salvador, diriam que desprezou o que está ocorrendo no país. Ela tem que estar em Brasília", afirmou o senador Walter Pinheiro (PT-BA). O líder do partido no Senado, Wellington Dias (PI), reconhece que a extensão das manifestações acendeu o alerta no PT e no governo, o que exige uma parada para a reflexão. "Nós teremos que ter a humildade de entender que quem comanda tudo é o povo."
Já a oposição critica esse recolhimento de Dilma, e a avaliação é que a reação do governo está "muito tímida". "O momento recomenda cautela e precauções, e ela deve evitar exposições, que serão, inevitavelmente, desgastantes. Mas a postura do Executivo é de visível constrangimento", afirma o presidente do DEM, senador Agripino Maia (RN).
Na avaliação do cientista político Rui Tavares, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, o cancelamento de agendas vai além da preocupação da presidente com a situação no país. Ele acredita que existe também uma nítida questão eleitoral. "Basta ver que um dos seus principais conselheiros, com quem ela se reuniu esta semana, é um marqueteiro", sustenta.
Colaborou Paulo de Tarso Lyra
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