Ofensiva ruralista
Frente Parlamentar da Agropecuária planeja bloquear estradas em resposta às ações dos índios
Evandro Éboli
BRASÍLIA
Em resposta às ações de índios em Mato Grosso do Sul e com o propósito de mostrar a força do setor, os ruralistas decidiram organizar um grande evento na próxima sexta-feira, que incluirá até a paralisação de rodovias federais. A iniciativa é da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) da Câmara, a bancada ruralista, que mobiliza dirigentes desse setor em pelo menos 14 estados. Em ofício enviado a presidentes de federações, associações de produtores rurais e a outros parlamentares, eles pedem o engajamento não só na paralisação das estradas como "em qualquer outra manifestação".
A frente enviou aos produtores rurais até o material publicitário a ser usado para divulgar o ato: outdoor, anúncio de jornal e revista (meia página, página inteira e preto e branco), banner, camiseta, adesivo para carro, post para facebook e e-mail de marketing. Os ruralistas recomendam que em todo material produzido seja inscrito que a iniciativa é da Frente Parlamentar da Agropecuária. "Para evitar eventuais ações judiciais futuras", diz o texto explicativo.
O material foi enviado aos produtores pelo deputado Luiz Carlos Heinze (PP-RS), coordenador da bancada ruralista no Congresso. Para conseguir adesão ao movimento, Heinze diz que a demarcação de novas reservas indígenas pela Funai, "muitas das vezes sorrateiramente", leva ao meio rural um verdadeiro temor.
"Tendo em vista o agravamento da situação enfrentada pelo setor produtivo frente às últimas invasões ocorridas nas propriedades, inclusive com registro de feridos e óbitos, dirijo-me à Vossa Excelência, em nome dos parlamentares da FPA, para solicitar vosso engajamento nas paralisações de rodovias, ou qualquer outra manifestação", diz o ofício de Heinze, que estabeleceu o horário das 9h às 14h para a mobilização no dia 14.
ataques à FUNAI e a ONGS
Apesar do caráter do protesto, o material de propaganda do ato adota um tom ameno. A peça tem o slogan "Onde tem justiça, tem espaço para todos" e diz que "é hora de descruzar os braços". Mas a conciliação com os indígenas é aparente. As quatro reivindicações que os ruralistas fazem retiram conquistas dos índios: suspender imediatamente as demarcações; transferir para o Congresso Nacional a competência de homologar essas terras; tirar o poder da Funai na realização de estudos antropológicos; e revalidar a portaria da AGU que restringe direitos originários dos índios.
Para os ruralistas, os índios, com suas ocupações, são o novo Movimento dos Sem Terra (MST). "No passado, eram as ações do MST o foco de tensão no campo. Agora, a origem das arbitrariedades é a Funai, que, na ânsia de ampliar ao máximo as reservas indígenas, promove a violência por intermédio de invasões de propriedades rurais fomentadas por ONGs e outros órgãos que patrocinam, financeiramente, a elaboração de laudos fraudulentos, com interesses escusos, numa flagrante violação do direito de propriedade", diz um dos panfletos.
Heinze minimizou a força do evento, diz que não haverá acirramento, e que se tratará apenas de uma "panfletagem" nas rodovias.
- Não pretendemos trancar o trânsito, mas chamar a atenção para um problema que aflige os produtores rurais há anos. Para o povo entender o drama que estamos vivendo - disse Heinze, que reforçou a comparação com o MST:
- O MST invadia, depredava, queimava e roubava. Hoje, são os índios que fazem isso.
O governo já está sabendo do movimento dos ruralistas e demonstrou preocupação.
- Esse acirramento não vai levar a nada. É preciso acalmar os ânimos - disse Paulo Maldos, secretário de Articulação Social do governo federal.
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