Tensão síria derruba Bolsas
Mercados de ações caem em todo o mundo, e perdas somam US$ 850 bi. Petróleo e ouro sobem
João Sorima Neto
Bruno Villas Bôas
turbulência sem fim
SÃO pAULO, RIO, WASHINGTON E NOVA YORK
A escalada das tensões políticas após o ataque com armas químicas contra civis na Síria - tornando iminente uma intervenção militar dos EUA e seus aliados no país - contaminou os mercados financeiros mundiais ontem. Em meio a retóricas belicosas que assustaram investidores, as Bolsas despencaram nas principais praças e tiveram perdas somadas de US$ 850 bilhões em valor de mercado, segundo a Bloomberg News. O dólar se valorizou frente às principais moedas, mas não em relação ao real; o ouro, outro ativo procurado em momentos de incertezas, também avançou; e as cotações do petróleo fecharam com forte alta. Analistas temem o impacto de um conflito na ainda combalida economia mundial.
- Todo mundo está esperando para ver o que vai acontecer - disse Randy Bateman, diretor de Investimento do Huntington Asset Management,em Columbus, Ohio. - Isso (o conflito) vai escalar? Se os preços de energia subirem muito, isso afetará a recuperação recente da economia? Com o aumento dos preços de moradia, se houver ainda alta do custo de alimentos e combustível, veremos a inflação subir e isso afetará a política do Fed (Federal Reserve, o banco central americano).
petrobras puxa queda da BOVESPA
EUA, França e Reino Unido anunciaram ontem uma série de medidas legais para apoiar uma ação militar. Para os mercados, a iminência de um ataque pode afetar a recuperação econômica de EUA e Europa. Neste cenário, investidores correram para ativos considerados um refúgio em períodos de incerteza, como ouro e petróleo. O ouro avançou 1,95%, para US$ 1.420,20 a onça. Este é o maior patamar do metal em três meses. A cotação do barril para entrega em outubro em Londres, avançou 2,66%, para US$ 114,11. Em Nova York, o preço do leve subiu 2,9%, a US$ 109,01 o barril, o maior patamar em dois anos. A alta da cotação do petróleo é uma má notícia para a Petrobras, cujos preços praticados no país estão defasados em 23%, como destaca relatório do Bank of America, afetando as contas da estatal. Apesar da diferença de preços, o governo teme o impacto sobre a inflação.
O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, seguiu o mau humor do mercado internacional e fechou com desvalorização de 2,6%, aos 50.091 pontos e volume de R$ 7,3 bilhões, puxada pela queda das ações de Petrobras e OGX. Foi o pior pregão desde 2 de julho, quando o Ibovespa recuou 4,24% e o terceiro pior desempenho ontem, em termos percentuais, entre as principais Bolsas, atrás apenas de Índia (-3,18%) e Madri (-2,96%).
Em Wall Street, a crise síria ofuscou a notícia da melhora inesperada da confiança do consumidor americano em agosto, e o índice Standard & Poor"s 500 sofreu a maior queda desde 20 de junho, ao recuar 1,6%. O Dow Jones perdeu 1,1%; e o Nasdaq, 2,2%. Na Europa, Frankfurt caiu 2,28%; Londres, 0,79%; e Paris, 2,42%. Na Ásia, o Nikkei, de Tóquio, recuou 0,69%; e o Heng Seng, de Hong Kong, 0,59%.
- A possibilidade de um conflito geopolítico na Síria aumentou a aversão ao risco e as principais Bolsas globais caíram. É um fator de tensão a mais para o mercado, num cenário que já vinha complicado com as incertezas em relação ao prazo para a redução dos estímulos à economia americana pelo Fed - diz Luís Gustavo Pereira, estrategista da Futura Corretora.
Segundo Pereira, o fato de o governo dos EUA estar próximo de seu limite de endividamento, de novo, com os políticos tentando entrar em acordo para aprovar o aumento do teto da dívida, acentuou o nervosismo dos investidores.
O mercado de câmbio também registrou o nervosismo dos operadores. No Brasil, o dólar abriu com alta de mais de 1% frente ao real. Mas, pouco antes das 15h30m, a moeda americana inverteu o sinal e passou a se desvalorizar, descolando-se do cenário externo. O dólar fechou em baixa de 0,67%, a R$ 2,368. Operadores atribuíram a queda a uma entrada forte de recursos no fim do pregão.
João Medeiros, diretor da Pioneer Corretora, disse que a instabilidade do câmbio marcou o início da queda de braço de bancos pela formação da taxa de câmbio Ptax, no fim do mês, pela qual os contratos de câmbio futuro são liquidados na BM&FBovespa. Quatro bancos, segundo ele, estariam por trás das ordens que provocaram a baixa da moeda.
No resto do mundo, o dólar se valorizou. Moedas como lira turca, peso mexicano e rand sul-africano perderam valor. A divisa americana já vinha subindo em relação a essas moedas pela incerteza sobre a condução da política monetária do Fed. Ontem, a rúpia indiana perdeu 2,84%, a 65,93 por dólar. O iene recuou 1,8%, para 87,27 ienes por dólar. O euro fechou estável com queda de 0,03%.
adicionada no sistema em: 28/08/2013 04:21 |
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