Entrada de Serra na disputa preocupa PT
Por Raquel Ulhôa | De Brasília
Uma derrota da presidente Dilma Rousseff em 2014, possibilidade que nenhum petista ousava admitir há quatro meses, hoje é considerada perspectiva real para setores do PT, empenhados em manter, ao menos, uma governabilidade mínima até a eleição. A preocupação mais recente é a hipótese de o ex-governador José Serra concorrer ao Palácio do Planalto, com apoio do PSD.
O partido de Gilberto Kassab mantém o apoio à reeleição da presidente, mas seus dirigentes deixam claro que o compromisso é com ela e não com o PT. Se Dilma não for candidata, o PSD estará livre para tomar outro caminho. E o mais natural seria o apoio a Serra, caso ele entrasse na disputa, como admitem até pessedistas que não gostam dele.
Esse cenário é considerado bastante provável por analistas. Por ter concorrido com Dilma e ter trajetória política marcada pela oposição ao PT, Serra seria o mais beneficiado com a queda da aprovação e do índice de confiança na presidente, mostrada por pesquisas de opinião. Serra é visto como adversário mais forte que o senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB e seu pré-candidato à Presidência da República, por ter discurso e atuação mais combativos.
Com relação à ex-senadora Marina Silva - que pretende disputar por uma legenda em formação (Rede Sustentabilidade) e aparece como a principal beneficiada das manifestações de rua-, a vantagem de Serra, segundo analistas, é a experiência como gestor. Além disso, Marina se destaca hoje dos demais pré-candidatos por uma prática política supostamente diferente, mas há receio de que, quando a campanha começar de fato, com debates e discussão de programas, o "glamour" será quebrado.
O fracasso da articulação pela fusão entre PPS e PMN, em uma legenda que daria maior estrutura -especialmente tempo de televisão- a eventual candidatura presidencial, foi um complicador para os planos de aliados de Serra, mas não os sepultou. A avaliação é que, se ele aparecer nas pesquisas como um candidato competitivo ao Planalto, Dilma cair e outros candidatos da oposição não empolgarem, haverá chances de atrair partidos para uma coligação nacional.
Segundo o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP), o partido "vê com bons olhos" a discussão do lançamento de uma possível candidatura do ex-governador à disputa presidencial.
Além da competitividade de eventual candidatura de Serra para presidente da República, outro complicador para o PT seria a situação em São Paulo. A especulação é que, se o PSD entrasse numa aliança para lançar Serra à Presidência da República, Gilberto Kassab, presidente da legenda, teria apoio do ex-governador, ex-prefeito e ex-ministro da Saúde para concorrer a governador.
Pessedistas dizem que o partido de Kassab não apoiaria a reeleição do tucano Geraldo Alckmin nem a candidatura de um petista para o governo do Estado. Ala do PT acredita que dessa vez um nome do partido na eleição estadual poderia ter alguma chance, especialmente porque a população mostra cansaço com a hegemonia do PSDB no Estado, a chamada "fadiga de material".
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em conversas recentes, depois das grandes manifestações populares, ouviu de petistas próximos que, se até junho de 2014 Dilma não recuperar índices de aprovação que aumentem sua competitividade, ele "não será convidado a disputar a Presidência no lugar dela, mas será intimado, convocado" a fazê-lo.
Até mesmo uma eventual candidatura de Lula a presidente, em lugar de Dilma, é considerada temerária por petistas, por ser corresponsável por seu governo. Com ela no cargo e a gestão mal avaliada pela população, ele teria dificuldade de sustentar um discurso de campanha.
Pelo conjunto da obra, a ordem, no PT, inclusive dada por Lula, é esquecer 2014 no momento e pensar na governabilidade de Dilma. Os petistas fazem as contas dos aliados com os quais o governo pode, de fato, contar no Congresso até o início do ano que vem, inclusive se a situação da presidente se agravar.
A contabilidade não é animadora. Os petistas colocam o PSD no campo do apoio duvidoso, no qual o PSB já estava incluído, por causa da pré-candidatura do governador Eduardo Campos (PE), presidente nacional do partido, a presidente. Os petistas estão convencidos de que, a esta altura, Eduardo só não disputará se Lula for candidato, em vez de Dilma.
Pelas contas de petistas, Dilma começou o governo com uma base parlamentar no Congresso que contava com 62 dos 81 senadores e 400 dos 513 deputados. Com as manifestações e a queda nas pesquisas, o governo contaria, hoje, com apoio de 37 senadores e 270 deputados. Mas, se a situação de Dilma piorar, a avaliação é que os aliados certos seriam, apenas, 25 no Senado (alguns falam em 22) e 120 na Câmara dos Deputados.
Além de analisar as pesquisas de opinião com lupa, para detectar as fragilidades de Dilma e as reais insatisfações da população, os petistas avaliam os erros cometidos por seu governo. Dilma foi recomendada por aliados a fortalecer o diálogo com os partidos da base. Lula deve ajudar, viajando e conversando mais.
"Quando a popularidade de Dilma estava alta, Lula já nos alertava para pararmos de cantar vitória antes do tempo. Agora, com a queda na avaliação do governo mostrado pelas pesquisas, todo mundo desceu do salto alto", diz um petista. O ex-presidente ainda se nega a admitir a possibilidade de disputar. O desafio do PT é ajudá-la a manter a sustentação no Congresso e a melhorar sua performance nas pesquisas - sempre de olho nos passos da oposição, no momento com foco em Serra.
adicionada no sistema em: 05/08/2013 12:24 |
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