SÃO PAULO
Na quinta-feira passada, os amigos do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu estranharam a presença de um cinegrafista entre os convidados do encontro promovido em solidariedade ao petista, na capital paulista. A câmera, segundo alguns dos presentes, filmava cada momento de tensão e alívio do ex-braço direito do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que acompanhava com atenção a sessão que julgava os embargos infrigentes, apresentados pelos réus, no julgamento do mensalão.
As filmagens do encontro farão parte do documentário “O Vilão da República”, da cineasta Tata Amaral, que abordará um dos momentos mais difíceis da trajetória de José Dirceu. Em agosto, a Produtora Tangerina Entretenimento conseguiu a autorização do Ministério da Cultura para captar R$ 1,5 milhão, por meio de renúncia fiscal, para a realização do documentário.
Em entrevista ao GLOBO, por e-mail, a cineasta conta que já possui 17 horas de depoimento do petista e diz esperar não ter dificuldades de captar recursos para o documentário, mesmo tratando-se da história de um condenado em um julgamento de grande repercussão.
O GLOBO O documentário falará sobre que período da vida do petista? Qual é o objetivo dele?
TATA AMARAL - “O Vilão da República” abordará o período em que José Dirceu foi ministro-chefe da Casa Civil até o final do julgamento da Ação Penal 470. A ideia é acompanhar a intimidade deste personagem controverso num momento importante de sua vida. Acho que o filme pode ficar interessante do ponto de vista criativo. Como método, são estes os chamados “filmes de observação”.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff já gravaram depoimentos? Há a intenção de tê-los no documentário?
Tenho intenção de entrevistar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Quantas horas de depoimento já foram gravadas de José Dirceu?
Agora já são 17 horas. São entrevistas preliminares que servirão de base para a pesquisa e que, parte delas, poderão fazer parte da montagem final do filme. As gravações foram feitas em São Paulo, por enquanto.
Ele fala sobre o julgamento do mensalão nos depoimentos? O que ele diz?
José Dirceu fala sobre vários assuntos, inclusive a ação penal. Como se trata de um filme de observação, meu objetivo é captar a intimidade do personagem num momento importante de sua vida quando está sendo julgado por corrupção ativa e formação de quadrilha. Meu foco não é jornalístico, entende?
No encontro na casa de José Dirceu, na quarta-feira passada, disseram-me que vocês fizeram algumas gravações. O que vocês gravaram?
Gravamos o encontro entre nosso personagem e alguns amigos que se reuniram para assistir à sessão do julgamento.
Há a intenção de fazer gravações em outros países? Em quais?
Pretendo ir aos Estados Unidos, Cuba, Venezuela, além de locações aqui no Brasil.
Vocês já conseguiram a autorização para captação de recursos pela Lei Rouanet? Quanto?
A atividade cinematográfica é fomentada através da Lei do Audiovisual, não pela Lei Rouanet. São mecanismos de renúncia fiscal de diversas modalidades e investimentos realizados por empresas estrangeiras que operam no Brasil (distribuidoras e programadoras de canais a cabo). Há também a possibilidade de investimento por parte de emissoras abertas, de canais a cabo e de conteúdo de internet, brasileiras e estrangeiras. Buscarei financiamento através dos mecanismos que estão à disposição para o fomento da atividade cinematográfica, através dos quais realizei meus filmes anteriores, bem como o de todos os cineastas brasileiros. São mecanismos de estado, não de governo. Financiam filmes que constroem nossa cinematografia, promovem o entretenimento e discutem a realidade brasileira. Isto é salutar e legítimo. Nosso orçamento é de R$ 1,5 milhão, incluindo a comercialização.
Você acredita que terá dificuldade de captar recursos para o documentário por se tratar da história de alguém condenado em um julgamento de grande repercussão?
Espero que não. Acho que um filme com José Dirceu desperta interesse.
oglobo.com.br
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