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quarta-feira, setembro 11, 2013
BIODIVERSIDADE, CLIMA E DESMATAMENTOS.
O nosso 11 de setembro
Autor(es): Mauro Oliveira Pires |
Correio Braziliense - 11/09/2013 |
Sociólogo
Esta é a 11ª vez que se comemora o Dia do Cerrado, instituído em 2003 por meio de decreto presidencial, atendendo a proposta do Ministério do Meio Ambiente encampada pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). A data, 11 de setembro, foi uma homenagem ao ambientalista e artista Ary Pára-Raios, fundador do grupo artístico Esquadrão da Vida, que vem encantando nosso cenário cultural há mais de três décadas, graças ao trabalho de seus filhos, imbuídos de continuar a obra do pai, após a morte dele em 2003. Em vida, Ary, que fez carreira no Distrito Federal, tornou-se militante apaixonado pelo bioma que o acolheu. Na Eco-92, articulou, com outros ambientalistas, um Tratado Internacional do Cerrado, a fim de chamar a atenção do mundo para esse importante conjunto de seres vivos, esquecido pela Constituição Federal de 1988. Enquanto nos Estados Unidos o 11 de setembro remonta a uma tragédia assombrosa, no Brasil, a data é para refletir e celebrar a vida de um bioma único, rico em espécies e em diversos mosaicos vegetacionais, singular em sua geografia e, porque não, na diversidade humana que vem abrigando há milênios, como dizem os paleontólogos e arqueólogos. Claro que há motivos para entristecimento; afinal, quase metade da área original foi destruída em menos de 40 anos e, na parte restante, poucos são os fragmentos remanescentes de maior porte. Mas tão importante quanto denunciar os crimes ambientais cometidos contra ele, é valorizá-lo. E não poderia haver momento mais propício. Em pleno mês em que a secura é elevada, em que as queimadas e incêndios alastram-se espantosamente, o cerrado surpreende, por meio dos ipês-amarelos, floridos por poucos dias, parecendo dizer algo profundo e nos convidar para uma celebração. Aproveitemos a ocasião para isto: reflexão e celebração. Que reflitamos sobre a ocupação desenfreada, movida pelo agronegócio de extensas monoculturas, destruindo ecossistemas, aniquilando nascentes, erodindo os solos, contaminando-os com agrotóxicos. Que reflitamos se é realmente esse o modelo a ser exportado para as savanas africanas, enquanto aqui na sua porção norte, denominada Matopi (entroncamento entre os estados do Maranhão, Tocantins e Piauí), avança o desmatamento. Será que repetirão naquele continente os erros socioambientais praticados aqui? Esperemos que não. Esperemos que o Brasil não seja o imperialista de outrora, o novo colonizador que emula práticas de seus antigos conquistadores. Que celebremos a diversidade da vida, que lembremos quão importante é o cerrado para o dinâmico equilíbrio ecossistêmico, para a formação das bacias hidrográficas e os estoques de carbono, graças à sua elevada biomassa. Que aproveitemos para cobrar do Congresso Nacional a tão esperada aprovação da emenda constitucional que eleva esse bioma, a caatinga e os pampas à condição de patrimônio nacional. Afinal, já são 18 anos de lenta tramitação. Que aproveitemos para lembrar que, a cada dia, todos podem fazer alguma coisa pelo cerrado — seja diminuindo o lixo doméstico, seja na hora de eleger os representantes políticos, escolhendo aqueles realmente comprometidos com a conservação e o uso sustentável, pois 2014 está próximo. Brasília conta com diversos lugares para essa celebração: seus parques, sua água mineral e arredores estão aí para serem visitados e para se descobrir as cores, os frutos, as flores e toda a fauna desse bioma riquíssimo. Que os próximos 11 de setembro sirvam para ampliar a consciência e a ação em favor do cerrado. Essa era e continua sendo a ideia para a instituição do seu dia.
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