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terça-feira, março 06, 2007

BUSH NO BRASIL: "I WANT YOU[rs...]" (2a. parte)


O que BUSH quer do BRASIL?

Bush começou o ano tentando inventar três ou quatro novas bandeiras, pois está isolado inclusive na política interna dos EUA. Uma é a economia americana, que está muito bem, apesar do susto recente com a China. Também anunciou uma nova Lei da Imigração, que procura regularizar a situação de milhões de hispânicos que estão em situação ilegal nos EUA. Outra idéia é iniciar a aproximação com a América Latina. Ele já não pode pedir mais nada aos europeus. Bush avalia que na América Latina ninguém tem nada contra ele. Exceto Hugo Chavéz e seus satélites, é claro. Na campanha presidencial de 2000, Bush anunciou que daria prioridade total ao continente, em especial à viabilização da Área de Livre Comércio das Américas, ALCA, idéia de seu pai George Bush. Mas logo vieram os atentados de 11 de setembro. A quarta bandeira que Bush quer hastear é a questão da energia. Internamente, ele está sendo muito criticado pelos democratas por ter rejeitado o Protocolo de Kioto. Agora lançou o plano de diminuir em dez anos o consumo de gasolina, substituindo-a pelo álcool. É nesse contexto que entra o périplo repentino pela América Latina. ”Bush não vai conseguir reverter a falta de atenção à região, mas também não quer entrar para a história como o presidente que virou por completo as costas para a América Latina”, diz Michael Shifter, vice-presidente do Diálogo Interamericano. Somente no início de fevereiro o Itamaraty foi comunicado pelo Departamento de Estado de que George W. Bush passaria por aqui. O objetivo oficial da viagem é falar de energias alternativas. Bush está convencido de que a ALCA já pode ter ido para as calendas - ou pelo menos vai ficar escanteada por um longo período. O ponto alto de sua passagem pelo Brasil será a assinatura de um acordo para a criação de uma espécie de Opep do biocombustível. "Já que não saiu a ALCA, vamos de álcool", ironiza Brian Dean, diretor-executivo da Comissão Interamericana de Etanol. Hoje os EUA produzem etanol do milho. É quatro vezes mais caro do que o etanol da cana-de-açúcar. Os produtores americanos recebem subsídios do governo - e o etanol brasileiro sofre uma sobretaxa de US$ 0,54 por galão exportado para os EUA. Juntos, Brasil e EUA produzem 72% do etanol mundial. Bush vem propor que os dois países estimulem a formação de um mercado mundial de biocombustíveis.
O plano de Bush é que o Brasil forneça tecnologia de produção de álcool de cana-de-açúcar e de biodiesel para nações centro-americanas. O Departamento de Estado já está fazendo um estudo sobre as possibilidades de produção de álcool de cana na Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicarágua e República Dominicana. Todos esses países têm acesso privilegiado ao mercado norte-americano. O Departamento de Estado informou ao Itamaraty que não há a menor condição política do governo Bush retirar ou reduzir a sobretaxa ao álcool Brasileiro. Esse era o único item relevante na pauta de reivindicações do Brasil. No Itamaraty, por sua vez, a avaliação é de que a proposta de Bush tem seu lado positivo. Desde que o Brasil amplie o leque de parceiros. Uma das idéias é vender tecnologia do biocombustível para a Tailândia, por exemplo, país que tem potencial de fornecer etanol para a China. Em 2000, a China iniciou um programa de mistura de álcool à gasolina. "São enormes as possibilidades para todos", acena Greg Manuel, conselheiro da secretária de Estado Condoleezza Rice para assuntos internacionais de energia e principal idealizador da futura Opep do álcool. Há outros pontos relevantes previstos para a conversa entre Bush e Lula. Um deles é como dinamizar os investimentos bilaterais. Os EUA querem que o Brasil abra o mercado interno do setor de serviços, em especial os seguros e as compras governamentais. Também está previsto falar do Haiti. Bush deve elogiar a atuação das tropas do Brasil em Port au Prince. Será bom para o ego de Lula. Mas significa a prorrogação das despesas bancadas pelo contribuinte brasileiro. Um ponto essencial da conversa será a estratégia dos dois países para manter abertas as negociações da Organização Mundial do Comércio. A Rodada de Doha atravessa um momento critico. Depois de anos de impasse, houve uma retomada das conversas. Estão na mesa EUA, União Européia, Japão (representando os asiáticos) e o Brasil (representando os emergentes, o chamado G-20). Bush e Lula pouco entendem do assunto. Mas devem firmar o compromisso político de que os dois países estão interessados em chegar num acordo em breve. A conversa mais importante será entre o chanceler Celso Amorim e a representante comercial dos EUA, Susan Schwab. O impasse gira em torno da abertura dos mercados agrícolas da Europa e dos EUA. Os americanos já foram mais flexíveis, mas só abrem se os europeus concederam uma brecha equivalente. Por outro lado, europeus e americanos exigem a abertura do mercado de serviço dos emergentes – que só abrem se antes eles abrirem a agricultura. Bush chega num momento em que as relações bilaterais estão mornas - e por opções recíprocas, enfraquecendo gradativamente. "Nossa politica externa tem sido anti-americana", atacou em depoimento no Senado Roberto Abdenour, que foi embaixador do Brasil em Washington até janeiro. "O Brasil teve a oportunidade de concluir a Alca, mas destacou a cooperação Sul-Sul em detrimento das relações com os Estados Unidos". Isso dá para se ver claramente nos números. Das 500 maiores empresas americanas, mais de 400 estão instaladas no Brasil, e 60% delas são indústrias. No ano passado, exportamos US$ 24,6 bilhões para os EUA, 8,7% a mais do que em 2005. Até aí, tudo bem. O problema é que há uma década a balança comercial entre os dois países estagnou e os EUA perderam o posto de maior parceiro para o bloco do Mercosul.
O périplo de Bush tem ainda um ponto essencial para sua política externa: dar um recado para Hugo Chávez. Ele visita o Brasil e quatro países que têm presidentes recém-empossados. Mas como sub produto, ele pula a Venezuela e quatro aliados de Chaves – Argentina, Bolívia, Equador e Nicarágua. Diplomatas brasileiros estão interpretando como uma estratégia para dividir o continente entre chavistas e anti-chavistas. Bush planeja conversar sobre Chávez através de Lula. Ele acha que, enchendo a bola de Lula e fortalecendo a liderança do Brasil no continente, os interesses dos Estados Unidos estariam garantidos. Mas diante desse parceiro que muito exige e nada oferece, resta saber como tirar desse encontro algum dividendo proveitoso para o Brasil. (Fonte: IstoÉ Online).

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