Um mutirão contra a CPI. Entenda por que a CPI do apagão aéreo representa um risco para Lula e por que o presidente está liberando cargos para evitar que ela siga em frente.
A iminência da CPI do Apagão Aéreo fez o governo Lula abrir mão dos pruridos éticos. O presidente, que passou os últimos cinco meses dizendo que a reforma ministerial não era um balcão de negócios, quer agradar os aliados a todo custo. A ordem é distribuir entre eles centenas de cargos do segundo escalão. O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), movimenta-se agilmente para lotear entre seus correligionários o comando dos órgãos públicos sob sua alçada. Os ministros do Trabalho, Carlos Lupi (PDT), e da Previdência, Luiz Marinho (PT), reúnem-se esta semana para decidir quais petistas permanecem nas delegacias regionais do Trabalho (DRTs) e a compensação que será dada aos pedetistas. O PT pode ter de abrir mão da presidência do BNDES, hoje sob o comando de Damian Fiocca. Com tamanha generosidade, o Palácio do Planalto espera ser recompensado com a defesa do governo no Congresso e a votação de medidas de interesse do Palácio do Planalto. Além da impossibilidade de prever os desdobramentos da CPI, o governo teme que a agenda do Câmara dos Deputados seja engolida pelas investigações, a exemplo do que aconteceu em 2005, quando os trabalhos legislativos foram comprometidos pelo funcionamento das CPIs dos Correios, dos Bingos e do Mensalão. Corre-se o risco de que os projetos-de-lei e as medidas provisórias fundamentais para que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) não sejam votados e o país permaneça parado. Desde que foi lançado, há pouco mais de dois meses, o PAC não passou de um programa de intenções. As grandes obras de infra-estrutura só existem na propaganda oficial. Até na Casa Civil, comandada pela ministra Dilma Rousseff, já se admite a possibilidade de 9% das obras previstas no PAC não saírem do papel. Em outra frente, o governo aposta nos pedidos de desculpas dos controladores de vôo para caracterizar o apagão aéreo como sendo uma crise que tem como causa a insolência de servidores civis e militares. Hoje, os controladores baseados em Manaus pedirão desculpas publicamente pelos transtornos causados à população do Amazonas há 10 dias. Será o segundo mea-culpa em menos de uma semana. Na última quinta-feira, a Associação Brasileira de Controladores de Tráfego Aéreo já tinha se desculpado. Mas o arrependimento súbito não deve impedir a instalação da CPI do Apagão Aéreo, que deve tornar ainda mais evidente a penúria das Forças Armadas. O que o governo pretende é apenas minimizar os seus efeitos. Por Ronald Freitas, Época Online.
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