A proposta deste blogue é incentivar boas discussões sobre o mundo econômico em todos os seus aspectos: econômicos, políticos, sociais, demográficos, ambientais (Acesse Comentários). Nele inserimos as colunas "XÔ ESTRESSE" ; "Editorial" e "A Hora do Ângelus"; um espaço ecumênico de reflexão. (... postagens aos sábados e domingos quando possíveis). As postagens aqui, são desprovidas de quaisquer ideologia, crença ou preconceito por parte do administrador deste blogue.
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terça-feira, abril 10, 2007
TV PÚBLICA: ALGO MAIS QUE UM "PLIM-PLIM" ?
Ser dono de uma rede de televisão no Brasil é um desejo de quem sabe bem quanto isso dá dinheiro e prestígio. Basta observar que qualquer rede nacional que consiga um mísero pontinho de média no Ibope em horário nobre estará assegurando um faturamento de R$ 100 milhões/ano. Uma emissora que se avizinha dos 10 pontos no denominado prime-time – como a Record, por exemplo – ronda a casa de R$ 1 bi ao ano. Vale lembrar que a maioria dos veículos impressos de prestígio, que dominam segmentos, respeitados, não alcançam os R$ 100 milhões anuais de receita, mesmo publicando dezenas de páginas diárias de anúncios, assim como as rádios. Trata-se de uma concentração do dinheiro da comunicação nas mãos das emissoras de TV incomum entre as economias de algum porte pelo planeta. Estados Unidos, países europeus ou mesmo vizinhos, como a Argentina, têm no máximo 40% das verbas da publicidade na televisão. No Brasil, essa hegemonia supera os 60%. E há a concentração dentro da concentração, já quer a Rede Globo detém em torno de 70% do total do dinheiro destinado ao meio TV. Isso não é bom, como todo mundo sabe. E aparentemente é contra este estado de coisas que Lula maquina quando insiste na história da nova TV pública. Semana passada disse em discurso que pretende que a nova rede dê informação "tal como ela é, sem pintar de cor-de-rosa, mas também sem pichá-la". Depois falou que "vai ter curso de inglês, teatro (...), se vai ter meio ponto de audiência ou zero, não me interessa. O que interessa é ter uma opção para quem quiser ter acesso a uma coisa de muita profundidade". No mesmo discurso, Lula disse que não pretende "reinventar a roda", mas as citações do presidente remetem exatamente isso. Ter uma televisão "para falar a verdade" (desde que seja a própria) é desejo eterno de todo governo desde que a imagem começou a ser transmitida à distância. Mesmo antes disso, quando apenas o cinema emitia imagem em movimento, a Revolução Russa lançou mão do artifício para tentar dominar as massas desvalidas e analfabetas, que não sabiam ler jornal. Depois veio Hitler, que fez ainda mais com o uso da imagem e o controle de toda a comunicação na Alemanha. Surgiram os candidatos-sabonete, pura imagem nas eleições norte-americanas, e os políticos-bons-de-cena ganharam o poder. Todas essas idéias foram importadas por nós, brasileiros, a partir da inauguração da primeira emissora, a Tupi, em 1950. E as TVs educativas surgiram por aqui no final dos anos 60 com o mesmo cardápio que Lula acredita ser novo em folha. Queriam levar cultura e educação aos grotões, fazer uma TV de "profundidade" e sem se importar com a audiência. A TV Cultura de São Paulo, por exemplo, estreou com exibição de concertos e atrações como aulas de alemão e "madureza". Audiência zero. Num primeiro momento, o discurso pela hipotética qualidade sem visibilidade pode arregimentar cidadãos incautos bem intencionados. Mas logo depois, descobre-se o erro, ao ver toda a parafernália tecnológica e centenas de profissionais pagos com dinheiro público jogados ao nada – porque "traço" de audiência é apenas isso. Mal comparando, é como se milhões de vacinas de qualidade e salvadoras fossem fabricadas pelo governo mas nenhum cidadão aceitasse tomar uma dose sequer. Só a qualidade da vacina não justificaria os custos. Desconcentrar um setor que detém a palavra é mesmo fundamental e tem lá sua lógica, mas será sensato a Lula perceber que o governo já tem na mão uma rede educativa grande, mais o canal NBR, e a possibilidade de usar a figura das TVs comunitárias para tentar democratizar o bolo. Mas isso só será possível quando os canais oficiais aprenderem a ter audiência porque TV pública tem, por definição, que conquistar o público, ou estará se negando a existência. Cursos de línguas e teatro já mostraram que são ruins de televisão, ninguém vê, ninguém gosta. É preciso fazer o que a TV Cultura de São Paulo já conseguiu e tem conseguido em alguns momentos: criar programação infantil de qualidade (mas atraente), jornalismo sério e independente (mas atraente) e teledramaturgia da boa (mas atraente). Depois de provar que sabe se comunicar com o que já tem nas mãos, daí, sim, o governo poderá se dar ao luxo de propor novos investimentos num veículo tão caro. Por enquanto, a TV imaginária de Lula é só uma velha roda que range e não leva a lugar algum. Por Ismael Pfeifer, OI, Reproduzido do Último Segundo, 3/4/2007
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