Saito recua e espera Lula decidir sobre controlador. Um dia após defender militares na supervisão do tráfego aéreo, chefe da Aeronáutica evita polemizar, mas assegura que sistema atual funciona bem.
Duas horas depois de se reunir com o presidente Lula no Planalto, o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, recuou ontem de declarações anteriores e evitou polemizar sobre a desmilitarização do controle do tráfego aéreo com o ministro da Defesa, Waldir Pires. Na nova maratona de discussão sobre o apagão aéreo, na Comissão de Relações Exteriores e Defesa do Senado, o discurso de ambos era bem mais afinado se comparado ao “duelo” que travaram nas quase seis horas de audiência na Câmara, quarta-feira.“O presidente disse que a decisão vai ser dele. Então, vamos aguardar”, desconversou Saito, ao ser questionado se era a favor de o comando do tráfego aéreo se tornar civil. Mas ele defendeu o atual sistema: “Posso garantir que funciona bem.” Diante da insistência dos senadores, Saito esquivou-se: “Tudo depende do presidente. Na hora que ele determinar que é civil, nós vamos ter de trabalhar para isso. Ele vai falar de equipamento, de investimento e do tempo de transição, que vai ser longo.”O ministro, também mais cauteloso, disse que a desmilitarização do setor “é uma decisão de Estado e só o presidente pode tomá-la”. Saito assegurou que “não há divergência” entre ele e o ministro em relação à separação entre tráfego civil e militar. A poucos metros do presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Proteção ao Vôo, Jorge Botelho, o brigadeiro admitiu que existem problemas, mas insistiu em que “as falhas de equipamentos são pontuais” e os Cindactas são modernos. “O verdadeiro e maior problema é a falta de controladores”, disse, ressalvando que até o fim do ano mais 500 entrarão no sistema.Pires abandonou o discurso de que os problemas no tráfego aéreo começaram com o acidente entre o jato Legacy e o Boeing da Gol em 29 de setembro. Ele citou problemas da Varig como exemplo de que a crise vem de há muito mais tempo.Como Pires e Saito, o diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, também recuou. Um dia depois de negar a existência de crise aérea, na Câmara, ele afirmou no Senado que suas declarações foram mal interpretadas pela imprensa. “Pegaram na questão semântica”, disse. “Temos problemas, sim. E são problemas sérios. Mas temos absoluta convicção de que serão resolvidos.”A sessão durou 5h30 e não foi interrompida nem para um lanche rápido. Pires, Saito e Zuanazzi chegaram a responder a perguntas entre goles de refrigerante e mordidas em quibes e sanduíches. Saito e Pires aparentavam cansaço. Entre a Câmara, na véspera, e o Senado, foram mais de 12 horas de depoimento.Por outro lado, a sessão no Senado, que o Planalto esperava ser mais dura que a da Câmara, acabou em aplausos dos cinco senadores aos presentes. A oposição, que prometia aproveitar para obter assinaturas para a CPI do Apagão Aéreo, só teve voz com Heráclito Fortes (DEM-PI), que saiu da presidência da Mesa para sabatinar as autoridades. O senador ficou indignado com a ausência dos colegas do PSDB. “Alguém viu algum tucano por aí?”, perguntava.No começo da audiência, ele advertiu Pires, para que não pusesse o dedo em riste ao responder a perguntas. “O senhor coloca o dedo em riste e dá impressão, para quem vê na TV, de que se trata de uma agressão e tenho certeza de que não é”, disse. Pires respondeu: “Não é o meu forte nem nunca foi. Não tem nada de ofensivo. A gente faz isso até em conversa com familiares.”Zuanazzi também não escapou. Ele contou que controladores de vôo na França tinham iniciado paralisação: “São problemas comuns no mundo todo.” Heráclito não perdeu a deixa. “Então, já que o senhor acabou de informar o início da paralisação, peço que comunique quando a crise lá for resolvida. Será para nós um bom parâmetro saber quanto tempo as coisas levam para ser resolvidas lá e aqui”, retrucou, sob risos do plenário. Tânia Monteiro e Ana Paula Scinocca, BRASÍLIA
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