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terça-feira, maio 15, 2007
2º MANDATO PRESIDENTE LULA: ENTREVISTA COLETIVA
No dia em que o dólar caiu a menos de R$ 2 pela primeira vez em seis anos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o câmbio continuará sendo flutuante e que o governo precisa de medidas para possibilitar a competitividade das empresas prejudicadas com o dólar baixo. Lula, no entanto, não deu prazo para essas medidas. "O câmbio vai continuar sendo flutuante e ele vai se ajustar. O que precisamos é ter medidas tributárias para permitir que empresas brasileiras que produzem e competem com produto chinês e estão perdendo competitividade, possam ter mais competitividade." O presidente Lula concedeu nesta terça-feira (15) a primeira entrevista coletiva do atual mandato. Foi a segunda entrevista no formato desde 2003. Ele respondeu a 15 perguntas de jornalistas sobre temas livres. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
Introdução. "Nós vamos deixar para o sucessor um Brasil infinitamente em melhores condições de que outros receberam. Eu tenho dito que o Brasil sempre teve dezenas de oportunidades em sua história. Eu mesmo, na minha vida sindical, a gente acredita que era daquela vez que o Brasil iria dar certo, mas não dava. Nós resolvemos colocar em prática aquilo que uma dona de casa coloca em prática em sua casa. Ela só gosta aquilo que é possível e só come aquilo que for possível comprar. Nós vivemos o melhor momento da economia na história da República. Nós entendemos que, por isso, nós podemos fazer um mandato pensando em outras coisas, com o PAC, o PDE e outros programas que vamos lançar depois, como proposta para segurança, agricultura. Estamos preparados para fazer aquilo que não foi feito no primeiro mandato, isso porque nós consolidamos, no primeiro mandato, a política econômica. O Brasil nunca teve uma relação internacional tão privilegiada"
Segurança pública. "A questão da segurança pública não é o foco principal do governo federal. O governo federal só entra quando é pedido. Foi o caso do Espírito Santo e agora do Rio de Janeiro. É um problema delicado. "Não foram poucas as coisas que a gente criou para a juventude brasileira. Vamos precisar discutir não só a questão do jovem, mas também da família. Uma questão de tempo de você combater o crime organizado. "Quando chegar o Pan, nós vamos ter um modelo. O Rio de Janeiro pode virar uma experiência para o restante do país. Quando o estado desaparece, o crime organizado, o narcotráfico, aparece.
2014 e aproximação com PSDB. "Primeiro tenho que cumprir meu mandato. Um ex-presidente da República precisa virar conselheiro dele mesmo, não pode ficar dando palpite. Ele precisa parar depois que chegou aqui. É o máximo. Então se recolhe, vai cuidar da família, vai fazer conferência, fazer alguma coisa. "O Plano Real foi importante. O PSDB teve candidato e ganhou as eleições. Mantenho relações muito boas com pessoas do PSDB. Se em algum momento eles radicalizaram, é um problema de avaliação deles. "Só posso dizer: a base do governo terá candidato. É tão cedo para tratar disso, tem as eleições no ano que vem. "Só posso garantir que a base terá candidato e espero estar com credibilidade para fazer campanha por esse país afora. Eu acho que muita coisa vai acontecer no Brasil para melhor. "Acho que PFL vai deixar de ser tão nervoso. O povo não quer saber de confusão, quer que o país dê certo, que a gente tenha responsabilidade de fazer certo, é esse o desafio que é colocado para nós. "Sempre tive amizade com FHC e não será por falta de convite que vamos conversar. "Quero respeitar o direito de ele fazer críticas. Quero que eles respeitem meu direito de tratá-los como adversários e não como inimigos."
Etanol. "Esses dias, disse ao ministro da Agricultura e a dois empresários do setor do álcool que agora que já consolidamos o álcool como matriz energética de qualidade excepcional, é preciso discutir a humanização do setor da cana neste país. Humanizar, criar melhores condições de trabalho, esse é o segundo passo que vamos dar. "No biodiesel, não podemos cometer os mesmos erros da cana de açúcar neste país. Precisamos é fazer a discussão que temos de fazer e antes não podíamos fazer. "Querem diminuir aquecimento, querem melhorar qualidade do ar? Usem combustível renovável, o Brasil pode ser parceiro. Querem diminuir aquecimento? Tá aqui, mamona.. não vai faltar motivação para adotar outra política energética."
Brasil imperialista? "Entre Brasil e Argentina, tem argentino que não gosta brasileiro e tem brasileiro que não gosta de argentino. Faz parte do processo democrático. Historicamente, os demais países sul-americanos viram o Brasil como um país imperialista. É o maior país do continente, a maior economia. Mas nós, quando tomamos a presidência da República, também foram eleitos o Kirchner (Argentina), o Nicanor (Paraguai), procuramos construir uma outra dimensão política de integração. "Construir uma parceria, e não uma hegemonia,. Não me faço cego diante da necessidade histórica da Bolívia ser dona de seu gás. Na hora que o Evo Morales achou importante comprar as refinarias da Petrobras, tudo bem. O que eu quero é que os contratos sejam respeitados. Até agora, nós não temos problemas com o gás da Bolívia. "Vamos manter nossa relação com os presidentes da Argentina e do Paraguai. Eu não posso impedir que as pessoas encontrem culpados para seus problemas. O problema não é do imperialismo, mas de nossa elite, que não pensou no desenvolvimento de nosso país. Eu não tenho ilusão que essas compreensões sejam demoradas. O Chávez é um grande parceiro do Brasil.
Dólar. "Primeiro temos de reconhecer algo que o ministro Mantega disse: temos de dizer que real está valorizado sem reconhecer que dólar está desvalorizado perante várias moedas. "O câmbio vai continuar sendo flutuante e ele vai se ajustar. O que precisamos é ter medidas tributárias para permitir que empresas brasileiras que produzem e competem com produto chinês e estão perdendo competitividade, possam ter mais competitividade. "O dólar se ajusta na medida em que a gente comece a reduzir a taxa de juros, que vai continuar sendo reduzida. "O governo fará sua parte, pode aumentar alíquota. Poderemos fazer isso em outros setores, criar políticas para estudar a desonoreação para esse setor sobreviver."
Oposição. "O PSDB tem direito de exercer oposição. Não pode haver oposição quando há projeto de interesse. Essa combinação é que quero construir. Tenho conversado com vários partidos da oposição. Exercício da democracia é difícil. Democracia é isso. Às vezes mando projeto para Congresso que acho que é perfeito e o deputado faz uma emenda. "Esse país viveu alguns anos em que o exercício da democracia não vivia."
Governadores. "Mesmo que tivesse um acordo com os governadores, eu não poderia dizer. Estou pensando que para o próximo mês, vou convocar os governadores para uma reunião. Eu não acredito que os governadores estejam fazendo qualquer pressão. Nós precisamos fazer apenas a combinação perfeita. Eu duvido que tenha havido um momento na história em que um presidente do Brasil tenha tido uma relação com os governadores."
DRU e CPMF. "Todo mundo sabe que o estado brasileiro não consegue viver sem a DRU e a CPF. É um dado objetivo e concreto."
Nomeações. "Não existe votação por nomeação de cargos. Quem quiser votar contra, pode votar. O que eu quero é construir uma coalizão. Esta coalizão tem que ser montada, preparada, para gente construir um projeto para este país, não construir uma votação, uma relação harmoniosa com os todos os partidos."
Energia. "Vamos discutir porque não queremos fazer hidrelétrica depredando o meio ambiente. Só tem sentido se unirmos energia com o meio ambiente. "Quando tem divergência, essa divergência acaba quando chega na minha mesa. Quando chega na minha mesa, há decisão. "Posso garantir para os brasileiros que não teremos apagão e vamos fazer tudo que pudermos dentro da lei e dentro da ordem."
Greve no Ibama. "Por que o Ibama está em greve? Houve redução do salário? Alguém foi mandado embora? Apenas porque ministra deu sinal que depois de tantos anos de existência era preciso uma modernização do Ibama? "Todos nós temos medo de mudança. Quando o Oswaldo Cruz criou remédio para febre amarela, muitos queriam linchá-lo. Em multirão da dengue, tem gente que não abre a porta. Nao existe comprimido, vacina, processo de limpeza.
"Por que Ibama está em greve? Não sei. Só sei que ministra resolveu fazer mudanças do que é licenciamento e o que é demarcação de parque. As pessoas deveriam permitir que mudanças fossem introduzidas para saber se alguém terá prejuízo. Acho que não vai prejudicar o que estamos fazendo." "Hidrelétrica de Estreito, logo logo haverá licitação, A mesma coisa na hidreletrica do Rio Madeira. São obras que vão gerar 3 mil megawatts cada uma delas e que são necessárias para o futuro deste país. Não posso deixar o governo em 2010 e meu sucessor pegar um apagão. E temos de pensar cinco, seis anos para frente para resolver o problema."
Reeleição. "Eu não brinco com democracia. Todos nós aprendemos que fui contra a reeleição. Fui obrigado a ser candidato à reeleição. Sou contra e não serei candidato em 2010, pois a Constituição não permite. Acho imprudente alguém apresentar um projeto permitindo um terceiro mandato. A melhor reforma é acabar com a reeleição e definir um mandato de cinco anos. Não cogito qualquer hipótese de um terceiro mandato. Acho uma provocação à democracia."
Aborto. "Eu tenho comportamento como cidadão, sou contra o aborto, não acredito que nenhuma mulher seja favorável como chefe-de-estado. Sou favorável que o Estado de atenção e trate o tema como saúde pública. Conheço casos de pessoas que perfuraram o estômago, tomaram chá de abacate e acabaram morrendo. O estado tem de ter responsabilidade. Minha visão continua inalterada, sou contra aborto e favorável ao debate."
Greve de servidores públicos. "Todo mundo sabe que o meu comportamento em relação à greve. Eu sempre discuti com meus companheiros, mas não deveria ser como se faz na fábrica no serviço público. Não pode ser como se faz em uma fábrica. Quando nós fizemos greve numa fábrica ou no comércio, tentamos causar um prejuízo econômico ao patrão, mas, no serviço público, não tem patrão, e o prejudicado não é o governo , mas a população. "Algumas categorias ficam cem dias de greve, mas não têm desconto no salário. Isso não é greve, são férias. Todos temos direito de fazer greve, mas todos nós sabemos que podemos ganhar ou perder." G1, Brasília.
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