Lula desencadeou uma inusitada articulação política. Pediu a dirigentes peemedebistas que tentem convencer o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, a trocar o PSDB pelo PMDB. Tratou do assunto em três oportunidades. Em todas elas insinuou que Aécio pode ser o candidato do consórcio governista à sucessão presidencial de 2010. Impedido de disputar um terceiro mandato consecutivo, Lula move-se para erigir um palanque no qual possa pisar como “eleitor”. Acha que não será um “eleitor” qualquer. Faz uma aposta: “Se o PAC der certo, o próximo presidente sairá da coalizão”, disse a um dos peemedebistas com os quais conversou. Lula se diz “impressionado” com a “unidade” obtida pelo PMDB, conhecido pela conformação fragmentária. Afirma que o partido “jogará um papel central” em 2010. E estimula os dirigentes peemedebistas a “arranjar um candidato” ao Planalto. Cobre Aécio de elogios: “bom gestor”, “político hábil”, “popular em Minas”, o segundo maior colégio eleitoral do país. O flerte com Aécio faz de Lula um presidente a procura de um sucessor. A julgar pelo que diz em privado, Aécio não é sua única aposta. Menciona pelo menos outras três opções: o deputado Ciro Gomes (PSB-CE), a ministra petista Dilma Rousseff (Casa Civil) e o governador baiano Jaques Wagner, também do PT. Menciona também, num plano inferior, o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB). Entre todos, os que reúnem maiores chances de êxito, na opinião de Lula, são Aécio e Ciro. Nos diálogos que manteve com os dirigentes do PMDB, o presidente deu a entender que, entre os dois, Aécio leva vantagem sobre Ciro. Lula começou a insinuar-se para Aécio no ano passado. Os dois conversaram, em segredo, nas pegadas da disputa presidencial em que o tucano Geraldo Alckmin foi batido. O presidente disse ao governador que desejava estabelecer com ele uma parceria. Apontou para 2010. Aécio manteve a porta aberta. Mas, delicadamente, disse que era cedo para tratar de uma data tão longínqua na folhinha. Quando questionado sobre a hipótese de mudar-se para o PMDB, Aécio dá de ombros. Diz que seu projeto político está associado ao PSDB. Embora ninguém acredite, afirma que o Planalto não é uma “obsessão”. Acena com a hipótese de concorrer ao Senado. Estabeleceu com o colega José Serra um armistício. Acertaram que só abririam a caixa de ferramentas presidencial depois da eleição municipal de 2008. Na opinião de Lula, Serra não vai despir a armadura. Avalia que, asfixiado em seu próprio partido, Aécio teria no PMDB, agora aparentemente “unificado”, um extraordinário balão de oxigênio. Uma corrida presidencial é prova de longo curso. Lula está com os pés na pista. Não sabe ao certo a quem entregará o bastão em 2010. Mas, pragmático, estende os seus horizontes para muito além dos muros do PT. Em diálogo reservado, o presidente do PMDB, Michel Temer, disse a um amigo que pretende procurar Aécio Neves nas próximas semanas. Parece improvável que, neste início de jornada, o governador mineiro se aventure a gastar mais oxigênio do que o necessário. De todo modo, Aécio será informado de que o PSDB já não é a única raia à sua disposição. Escrito por Josias de Souza, Folha Online, foto Jorge Araujo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário